Bento Teixeira
Texto
Bento Teixeira (Porto, Portugal, ca.1561 - Lisboa, Portugal, 1600). Sua origem é cercada de dúvidas e polêmicas. Atribui-se a ele naturalidade pernambucana, o nome Bento Teixeira Pinto, bem como a autoria de várias obras, entre elas o Diálogo das Grandezas do Brasil. No entanto, desde 1929, quando é editada a Primeira Visitação do Santo Ofício às Partes do Brasil, atestam-se seus verdadeiros dados biográficos. Teixeira, autor do poema épico Prosopopeia, nasce em Porto, Portugal, em ca. 1561, filho de Manoel Álvares de Barros e Lianor Rodrigues. Seus pais, judeus, convertem-se ao cristianismo para fugir da Inquisição e vêm para o Brasil em ca. 1567, estabelecendo-se em Tapera, Espírito Santo. Apesar disso, acredita-se que tenha sido, ainda na infância, doutrinado no judaísmo pela mãe, o que, mesmo tendo ele realizado toda a formação escolar em instituições católicas, lhe rende inúmeras vezes problemas com o Estado. Depois da morte dos pais, se estabelece em Ilhéus, Bahia. Ali, casa-se com Filipa Raposa, cristã-velha (designação dada aos cristãos de nascimento), e, em ca. 1584, transfere-se para Olinda, Pernambuco. Abre uma escola, graças à dotação concedida pela Câmara, mas, em ca.1588, a verba é cortada, e Teixeira, então, segue para Iguaraçu, Pernambuco, onde se dedica à advocacia, ao magistério e ao comércio. Tem problemas com a esposa, que o trai e o difama, e é acusado de proferir blasfêmias e obscenidades contra os ícones do cristianismo. Profere, em 31 de julho de 1589, um auto de fé - ritual público de penitência exigido pelos tribunais da Santa Inquisição -, devido às acusações de blasfêmia e obtém a absolvição. Aproximadamente em 1590, volta a Olinda e abre outra escola. Em Pernambuco, vive também em Barreta e na Ilha de Itamaracá, mas é em Cabo de Santo Agostinho que obtém sucesso com sua escola. Em 1593, Filipa acusa-o de práticas judaizantes e, em resposta, Teixeira faz a própria denunciação e confissão perante o visitador do Santo Ofício. Em dezembro de 1594, mata a esposa a facadas, pelas suas traições e acusações. Após tentativas fracassadas de fuga para Tucumã, Argentina, é preso em Olinda, em 20 de agosto de 1595, e levado a Lisboa. Chega à capital portuguesa em janeiro de 1596, e é então recolhido ao cárcere. Em 1597, confessa-se judaizante e pede perdão. No auto de fé, proferido em 31 de janeiro de 1599, abjura o judaísmo. Absolvido da pena de morte e da excomunhão, é condenado à prisão perpétua e ao uso do hábito penitencial. No mesmo ano, em 30 de outubro, obtém liberdade condicional, tendo, porém, de permanecer em Lisboa. Já doente e sem condições de manter-se por conta própria, em 1600, Teixeira volta à prisão, onde morre em fim de julho desse ano.
Comentário Crítico
Prosopopeia, obra única de Bento Teixeira, dirigida ao capitão e governador da capitania de Pernambuco, Jorge d´Albuquerque Coelho, é escrita entre 1584 e 1592 e publicada em 1601. Trata-se de um poema épico, baseado no modelo de Os Lusíadas (1572), de Luís de Camões, composto de 94 estrofes em oitava rima - isto é, estrofes de oito versos, rimados sempre da mesma forma (abababcc) - e decassílabos heroicos.
O poema épico é um gênero narrativo desenvolvido pelos poetas da Antiguidade e do classicismo para cantar a história de todo um povo, por meio dos atos do herói que o representa. Em Prosopopeia, em vez de um povo, louva o heroísmo de Albuquerque Coelho, a partir do que se divulga no documento Naufrágio que Passou Jorge d'Albuquerque Coelho, feito pelo próprio Teixeira, no ano de 1565, e publicado oficialmente em 1584.
Seguindo o esquema tradicional da divisão do poema épico em cinco partes, Prosopopeia inicia-se com a Proposição, apresentação, na voz do poeta, da matéria a ser exaltada, à qual segue a Invocação, em que o poeta afirma que não chamará as musas gregas, mas sim Deus; o Oferecimento; a Narração, dividida entre a descrição de um cenário mitológico pagão e a chegada de Proteu - divindade que reina sobre o mar e tem o dom da premonição -, a Descrição do Recife de Pernambuco e o Canto de Proteu, parte mais longa do poema, na qual Proteu narra histórias da origem e dos feitos de Albuquerque Coelho; e o Epílogo.
No Canto de Proteu, a divindade prenuncia a vinda de Duarte Coelho ao Brasil, bem como sua luta contra os franceses. Narra também o casamento de dom Duarte com dona Beatriz, e o nascimento de seus dois filhos, Duarte e Jorge, os quais vão lutar contra os indígenas e os franceses. Depois da vitória sobre os indígenas, Jorge e o irmão embarcam para Portugal, quando sofrem naufrágio, por causa da tempestade preparada por Netuno a pedido de Vulcano, de quem descenderiam os indígenas. No relato do naufrágio, enfatiza-se o episódio em que Albuquerque Coelho, em nome da fé cristã, impede seus homens de devorarem os companheiros para sobreviver.
Salvos, todos chegam a Lisboa, agradecidos a Deus. Partem depois para a África, para lutar contra os mouros. Lá, Jorge dá seu cavalo a dom Sebastião, impedindo assim que o rei caia em mãos dos oponentes. Jorge e o irmão, porém, são aprisionados. Duarte morre e Jorge é resgatado e transferido para a capitania de Pernambuco, onde se torna capitão e governador.
Segundo a crítica literária, a obra apresenta muitas deficiências, tanto no que concerne ao estilo quanto à estruturação. Seu interesse, assim, limita-se ao histórico-literário, um documento da literatura produzida no Brasil do século XVI bem como das influências camonianas e virgilianas. Alguns críticos do século XIX, contudo, como Sílvio Romero (1851 - 1914), dedicam-lhe maior importância, por considerar que em Prosopopeia ocorre a primeira manifestação do nativismo literário, pela descrição do recife de Pernambuco (estrofes XVII a XXI).
Apesar das deficiências do estilo, especialmente nas confusões entre os discursos da personagem e do poeta lírico, os quais se alternam sem que haja contornos claros nas passagens entre uma e outra fala, e da imitação, em alguns momentos literalmente, de versos camonianos, Prosopopeia é considerada uma obra que testemunha os ecos do barroco no Brasil, especialmente por sua sintaxe latinizante e as complexas inversões da ordem direta.
Como citar
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BENTO Teixeira.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa21740/bento-teixeira. Acesso em: 07 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7