Odila Ferraz
Texto
Odila Ferraz (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1941). Escultora, gravadora, fotógrafa, desenhista. Entre as décadas de 1960 e 1970, participa de diversas experimentações conceitualistas que lidam com aspectos urbanísticos e geográficos, concomitantemente com sua produção escultórica, tanto de fatura mais tradicional, quanto de ampliação do campo tridimensional – temas que perduram em sua produção fotográfica a partir dos anos 2000.
Entre os anos de 1965 e 1967, frequenta os cursos livres de arte do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), principalmente as oficinas do artista Ivan Serpa (1923-1973). Nesse ambiente, trava contato com diversos artistas importantes do contexto da época e com os quais desenvolve parcerias de trabalho, dentre eles Luiz Alphonsus (1948), Cildo Meireles (1948) e Thereza Simões (1941), tendo como ponto de encontro o já prestigiado Bar do MAM, local onde a juventude artística carioca se encontra para socializações e confabulações de ordem estética.
Em 1968, participa da 2ª Bienal da Bahia com um conjunto de esculturas de ferro fundido que emulam tanto o esqueleto de arranha céus, quanto também os jogos compositivos concretos em voga. A exposição, que ocorre no Convento da Lapa, é fechada abruptamente pelos militares. Pelo menos dez obras são confiscadas e nunca mais devolvidas aos artistas, incluídas as de Odila.
Em 1969, participa do 18º Salão de Arte Moderna, nas dependências do Ministério da Educação (MEC), no Rio de Janeiro, com um conjunto escultórico de aço, acrílico e espelho. A peça em questão, Sem título, funciona como uma instalação que demanda participação do público, o qual deve adentrar a sua estrutura curvilínea e reflexiva, justamente para experienciar as deformações ópticas. Nesse mesmo ano, participa do Salão da Bússola, organizado pelo crítico de arte e curador Frederico Moraes (1936) no MAM-RJ, com obra realizada em colaboração com seu então parceiro afetivo Luiz Alphonsus.
Em 1970 tem a sua primeira exposição individual, pela Petite Galerie, no Rio de Janeiro. Nela, a artista realiza um condensamento de seus interesses artísticos até o momento: as relações geopolíticas com a história do estado do Rio de Janeiro, as práticas de censura por parte das autoridades militares e o trânsito de sua subjetividade. A série leva o título de Opção vivencial e nela constam dez haikais com duas fotogravuras (uma do mapa da baía de Guanabara, a outra um autorretrato da artista) e uma fita isolante preta fixada na altura do olhar, ao longo das paredes do espaço – uma alusão aos mecanismos de censura do regime civil-militar.
A série Opção vivencial tem uma segunda edição, por ocasião da segunda exposição individual da artista, em 1972, também na Petite Galerie. Dessa vez, o interesse cartográfico já sinalizado nas primeiras peças da série adquire uma dimensão subjetiva, na qual a artista utiliza seu corpo como referencial de medida do espaço. Em um conjunto de fotogravuras com autorretratos, Odila efetua uma disposição e cisão de seu corpo nu e branco em relação a paisagem de dunas de areia e praias, juntamente a jogos de poesia concreta em português e inglês, procurando estabelecer uma narrativa de integração entre corpo e paisagem e uma possível transcendência da percepção.
Após um longo intervalo na produção de obras e ausência na participação em exposições, em meados dos anos 2000 a artista retoma suas investigações espaciais, agora munida da fotografia, juntamente a algumas investidas experimentais no campo do desenho, tendo como referência seu período de estudos com Serpa.
Com uma produção escultórica peculiar para a época, já que o território da tridimensionalidade é conhecido pelo protagonismo do artista de gênero masculino, a fortuna artística de Odila se mostra como um contraponto da área e uma considerável contribuição para as práticas conceitualistas da arte brasileira.
Exposições 13
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5/11/1969 - 5/12/1969
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15/5/1970 - 14/6/1970
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9/1970 - 10/1970
Fontes de pesquisa 8
- CELANT, Germano. Art Povera. New York: Praeger Publishers, 1969.
- DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5).
- GRAVURAS. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 07 jan. 1973. Berloques. Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Disponível em: < http://memoria.bn.br/DocReader/089842_08/36257 >. Acesso em: 27 jul. 2017.
- MÁS, Daniel. Goelalouca. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 22 jul. 1970. p.3. Balaio. Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Disponível em: < http://memoria.bn.br/DocReader/089842_08/9548 >. Acesso: 17 ago. 2017.
- ODILA Ferraz. Entrevista concedida à Talita Trizoli em 23 de agosto de 2015. Material inédito.
- RAMIREZ, Mari Carmen. Táticas para viver da adversidade: o conceitualismo na América Latina. In: FUENMAYOR, Jesús (Ed.). Arte da América do Sul: ponto de viragem 1989. Porto: Jornal Público; Fundação de Serralves, 2006.
- SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Profissão artista: pintoras e escultoras brasileiras entre 1884 e 1922. 2004. Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.
- TRIZOLI, Talita. Atravessamentos Feministas: um panorama de mulheres artistas no Brasil dos anos 60/70. 2018. 434 f. Tese (Doutorado em Filosofia da Educação) - Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-03122018-121223/publico/TALITA_TRIZOLI_rev.pdf. Acesso em: 16 jun. 2021.
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ODILA Ferraz.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
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Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7