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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Ivan Angelo

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 07.10.2019
04.02.1936 Brasil / Minas Gerais / Barbacena
Ivan Ângelo (Barbacena, Minas Gerais, 1936). Romancista, contista, cronista, jornalista, professor e tradutor. Nascido em Barbacena, Ivan Ângelo muda-se ainda criança para Belo Horizonte, onde estuda e demonstra grande interesse pela literatura. Com o dinheiro de seu primeiro emprego, compra, aos 14 anos, a obra completa de Machado de Assis.  Co...

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Ivan Ângelo (Barbacena, Minas Gerais, 1936). Romancista, contista, cronista, jornalista, professor e tradutor. Nascido em Barbacena, Ivan Ângelo muda-se ainda criança para Belo Horizonte, onde estuda e demonstra grande interesse pela literatura. Com o dinheiro de seu primeiro emprego, compra, aos 14 anos, a obra completa de Machado de Assis.  Com 21, escreve contos para a revista mineira Complemento. Aos 23 anos, ganha o Prêmio Cidade de Belo Horizonte, com o livro Duas Faces, publicado em parceria com Silviano Santiago, em 1961. Muda para São Paulo, em 1965, e passa a exercer a função de editor no Jornal da Tarde. Começa a trabalhar no projeto de um romance, que, por influxo da forte censura imposta pelo governo militar, é finalizado somente em 1975. Trata-se do elogiado A festa, com o qual recebe, no ano seguinte, o Prêmio Jabuti. Em 1979, publica um livro de contos intitulado A casa de vidro e, sete anos depois, lança A face horrível, volume que lhe valeu o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte e que é composto por contos publicados em seu primeiro livro e de alguns inéditos. Em 1985, torna-se editor-chefe do Jornal da Tarde e publica uma nova obra somente em 1994, O Ladrão de Sonhos, seu primeiro livro infanto-juvenil. No ano seguinte, lança Amor?, romance ganhador do Prêmio Jabuti. Continua a dedicar-se à literatura infanto-juvenil,  ao mesmo tempo que começa a ter suas crônicas publicadas em revistas semanais.

Análise

Em sua primeira narrativa publicada, no livro Duas Faces, Ivan Ângelo já permite entrever aspectos que se destacariam em sua obra, como uma linguagem clara, que não deixa de incorporar elementos de coloquialidade e a busca por focos narrativos distintos com o intuito de delinear diferentes visões em relação a um mesmo episódio. É o que acontece nesse conto e, como nota o crítico Assis Brasil, o autor mescla o monólogo interior com a narração direta dos fatos, de modo a mostrar perspectivas temporais diferentes acerca da morte do pai do narrador do ponto de vista do homem que rememora o acontecimento e da criança que presenciou o acidente.

Experimentos como esse comparecem nos demais contos que integrariam o volume Duas Faces, livro cujas histórias, segundo palavras do próprio autor, eram "dramas existenciais do fim dos anos cinqüenta". Neles, ainda era possível encontrar certo rigor construtivo mesclado a ligeiros experimentos formais, como, por exemplo, o uso de um discurso direto sem especificar os personagens que falam, imbuindo sua prosa de características do gênero dramático.

A busca por um novo modo de narrar persiste em sua obra posterior: o romance A festa, cujo subtítulo (Romance: contos) indica uma indefinição proposital quanto à classificação literáriado livro. O volume inicia-se com um texto chamado "Documentário", em que o entrecruzamento de discursos das mais variadas espécies (fatos publicados em jornais fictícios, letras de música popular, trechos de discursos de políticos e de fichas policiais, certidões de nascimento) é usado para apresentar personagens e acontecimentos relacionados a um incidente que teria acontecido na noite de 30 de março de 1970: uma rebelião de retirantes nordestinos supostamente comandada por um jornalista e por um ex-jagunço.

Como percebe Beth Brait, verifica-se nesse romance a busca por uma narrativa polifônica: as histórias seguintes, que podem ser lidas como contos autônomos, apresentam os personagens que, de algum modo, estariam envolvidos nos acontecimentos daquela noite e também com a festa de um pintor famoso que acontecia naquele mesmo momento. Cada um desses textos apresentaria uma forma peculiar de apresentar os fatos, de modo a adequar a escrita ao conteúdo que ela vincula. A disposição dessas narrativas aproximaria a obra de uma técnica que é cinematográfica: a da montagem. Mas ao final, como percebe Davi Arrugucci Jr., parece imperar o controle da narrativa por parte do autor, que recupera todos os personagens por meio de um índice denominado "Depois da Festa". Flávio Aguiar destaca, nesse premiado romance, a sátira social da classe média, com seus preconceitos, e do provincianismo, e o preocupação em tematizar a própria posição do escritor em um momento político de repressão que precisa, ao mesmo tempo, divulgar suas ideias e sobreviver economicamente.

Esse potencial de criar histórias e personagens será igualmente importante em suas crônicas, em que insere, muitas vezes, pequenas narrativas a partir de uma percepção bastante apurada do comportamento humano e de fatos cotidianos, em uma linguagem não violenta como a que caracterizava seus textos da década de 1970, momento em que a narrativa se configurava como forma resistência à opressão da ditadura militar.

Obras 1

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Fontes de pesquisa 6

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  • AGUIAR, Flávio. O escritor: de amanuense a jornalista. In: A palavra no purgatório São Paulo: Boitempo, 1997.
  • ARRIGUCCI JR., Davi. Jornal, realismo, alegoria: o romance brasileiro recente. In: ______. Achados e Perdidos: ensaios de crítica. São Paulo: Polis, 1979.
  • BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 3 ed. São Paulo: Cultrix, 1989.
  • BRAIT, Beth. A narrativa como criação e resistência: a cumplicidade da escritura. In: ÂNGELO, Ivan. A festa. 8 ed. São Paulo: Geração Editorial, 1995.
  • FRANCO, Renato. Itinerário político do romance pós-64: A Festa. São Paulo: Ed. Unesp, 1998.
  • MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira: modernismo. São Paulo: Cultrix, 1989. v.5.

Como citar

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