Artur Matuck
Texto
Artur Matuck (São Paulo, São Paulo, 1949). Escritor, artista, pesquisador. Desenho e escrita marcam sua formação. Formado em artes pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) no final dos anos 1960, faz pós-graduação em artes visuais na Universidade da Califórnia, em San Diego, depois de obter bolsa da Fundação Fullbright para uma pesquisa sobre copyright na Universidade de Iowa em 1991. Dessa pesquisa resulta o Semion (signo unificado para a informação liberada), antecessor, no início dos anos 1980, das formulações do chamado copyleft, e todo o debate em torno da livre circulação de bens culturais. O Semion é um signo gráfico indicador de que o conteúdo da obra que ele acompanha é liberado desde que mencionada a autoria.
Sua produção artística é exibida nas bienais de São Paulo em 1983, 1987, 1989, 1991 e 2002. Em 1990, é premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (Apca) na categoria vídeoarte. Em 1991, é pesquisador visitante no Studio for Creative Inquiry na Carnegie Mellon University, em Pittsburgh, onde produz Reflux. Esse projeto de telecomunicação e arte é, considerado pioneiro em produção estética colaborativa em rede, com participação e instalação na 21a Bienal Internacional de São Paulo.
É um dos pioneiros em artecomunicação no Brasil, desenvolvendo uma série de pesquisas que se desdobram em investigações e ações artísticas, o Colabor, e os festivais Acta Media, em cujas edições (2002/2006) surgem novos artistas da performance e da escritura eletrônica. Coordena, também, os eventos de teleperformance Perforum que mantém, durante alguns anos, a conexão entre diversos centros universitários, no Brasil e no exterior, por meio de transmissões digitais.
Também nesse campo notabiliza-se com o desenvolvimento – quase solitário – das pesquisas em literatura eletrônica. Baseia-se no princípio de aplicação de algoritmos combinatórios a um conjunto de palavras, gerando textos frutos do acaso ou de uma lógica de máquina.
A vertente das máquinas analógicas que produzem arte é explorada a partir da pesquisa com antigos bonecos de corda. Uma das primeiras acontece durante a transmissão do evento Global Bodies, realizado pelo Zentrum für Kust und Medien (ZKM) em Karlshuhe, Alemanha, que consiste em uma teleconferência com a participação de mais de 20 países incluindo o Brasil. A transmissão tem lugar na mostra Arte e Tecnologia – uma das primeiras do gênero no Brasil. É realizada pelo Itaú Cultural em 1997, com curadoria de Daniela Bousso (1956). A performance de Matuck é realizada no recinto da instalação ao lado da performance Máquina Futurista, coordenada por Renato Cohen (1956-2003). Tanto a performance de Cohen quanto a de Matuck têm transmissão mundial por computadores que, à época, embora considerados avançados, ainda são precários se comparados às máquinas comuns, diariamente usadas nas transmissões via Skype.
Com grande quantidade de artigos, sua produção teórica é divulgada nos Estados Unidos pelo periódico Leonardo, publicação oficial da Sociedade Internacional de Arte, Ciência e Tecnologia.
Análise
“Os bonecos podem ser artistas”. A frase é repetida por Artur Matuck diversas vezes no seu vídeo Dispositivos de Risco, documentação de 2009 da performance que realiza desde os anos 1990. Fazendo uso de bonecos de corda, sintetiza as concepções que orientam a obra do artista multi-hiper-mídia Artur Matuck. O interesse pelos aparatos tecnológicos não impede que desenvolva atividades que ultrapassam as fronteiras entre arte e ciência, como os trabalhos voltados para a discussão da Ecologia e do mau trato dos animais ou os que tratam a tecnologia no terreno da ficção. De certo modo, esta é uma das características de sua geração, como se vê também na obra de Eduardo Kac (1962). A década de 1980 é pródiga no diálogo entre arte e tecnologia.
Na mesma década, Matuck torna-se importante na nova voga de artistas denominados “multimídia” ou intermídia, conforme sugestão de Julio Plaza (1938-2003) e outros. A primeira participação em Bienais, na de número 17, sob a curadoria geral de Walter Zanini (1925-2013), insere-o em um circuito internacional de artistas identificados com essa voga. Antes, no curso universitário, Matuck experimenta com trabalhos em xerox, uma de suas credenciais de artista multimídia.
Fazendo uso de elementos narrativos trazidos da ficção científica, sustentados por textos, imagens videográficas, efeitos sonoros e visuais e performance, Matuck utiliza seu próprio corpo na obra, arriscando um caminho que se espalha entre todos os artistas experimentais da época1. Com trabalhos como Atari Worts no Planeta Mega, Matuck enfronha-se pela área denominada de “Arte e tecnologia”, assinalada no tema da 17ª Bienal (1983) como “Interartes”. Artur busca se aproximar de tecnologias que põem o corpo em questão frente à outras como o slow scan, dispositivo ancestral do fax, que envia imagens obtidas por rastreamento por uma linha telefônica. Para isso, usa elementos da semiótica, teoria da informação, cibernética, ficção científica e teorias da estética, além de uma conexão profunda com os estudos culturais nos quais sobressaem os da performance. Em 1990, é premiado na categoria de vídeoarte pela Associação Paulista de Críticos de Arte (Apca) com a tese de doutorado que se transforma no livro O Potencial Dialógico da Televisão, originalmente publicado em inglês2.
Numa perspectiva filosófico-política, desenvolve-se a pesquisa que antecipa as atuais discussões sobre direitos do autor e copyleft. Essas questões são discutidas em âmbito simbólico, nos anos 1970, nos ensaios do crítico Roland Barthes (1915-1980) e do filósofo Michel Foucault (1926-1984), ambos franceses. O gesto criador de Matuck tansfere essa discussão para um terreno pragmático. Propõe um signo gráfico que garanta ao autor a liberdade de escolha sobre a disponibilidade do que produz. O que o “signo para informação liberada”, o Semion sugere é o que se expande na variedade de licenças para liberação de conteúdos digitais.
Artur Matuck e grupo Perforum, atravessam várias fases de desenvolvimento das tecnologias de transmissão de dados via internet. Nesse aspecto, há um nítido caminho que vai da transmissão de imagens por “varredura lenta” – o slow scan – até as atuais transmissões em eventos que organiza, como o recente Ubicidade (2011), juntamente com Vanderlei Lucentini. Nele praticam teleperformances, ou seja, ações performáticas transmitidas via rede.
As performances, mesmo as que não fazem uso de nenhum recurso tecnológico ou, apenas, de monitores de TV, têm sido uma das investigações do artista.
Notas
1. COHEN, Renato. Performance como linguagem: criação de um tempo-espaço de experimentação. Prefácio Artur Matuck. São Paulo: Perspectiva, 1989. p. 16. (Debates, 219)
2. MATUCK, Artur. O potencial dialógico da televisão: comunicação e arte na perspectiva do receptor. São Paulo: Annablume Editora, 1995.
Exposições 36
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22/5/1975 - 22/6/1975
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21/10/1976 - 21/11/1976
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16/10/1981 - 20/12/1981
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4/11/1981 - 30/11/1981
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14/10/1983 - 18/12/1983
Como citar
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ARTUR Matuck.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa19744/artur-matuck. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7