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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Nestor Goulart Reis Filho

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.09.2024
1931 Brasil / São Paulo / São Paulo
Nestor Goulart Reis Filho (São Paulo, São Paulo, 1931). Arquiteto-urbanista, sociólogo, historiador e professor. Forma-se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), em 1955, e em ciências sociais pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras (FFLCH), em 1962, ambas da Universidade de São Paulo (USP). A carreira docente inicia-se em 1956, com...

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Nestor Goulart Reis Filho (São Paulo, São Paulo, 1931). Arquiteto-urbanista, sociólogo, historiador e professor. Forma-se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), em 1955, e em ciências sociais pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras (FFLCH), em 1962, ambas da Universidade de São Paulo (USP). A carreira docente inicia-se em 1956, como assistente do professor Eduardo Kneese de Mello (1906-1994) na FAU/USP. Em 1962, colabora com a criação do Departamento de História e Estética do Projeto e torna-se responsável pela cátedra história da arquitetura contemporânea e evolução urbana. Em 1964, apresenta a tese Contribuição ao Estudo da Evolução Urbana do Brasil: 1500-1720, publicada em 1968. Em 1967, concorre à cátedra de história da arquitetura II com a tese Urbanização e Teoria: Contribuição ao Estudo das Perspectivas Atuais para o Conhecimento dos Fenômenos de Urbanização. De 1972 a 1976 dirige a FAU/USP, ajudando a implementar o curso de pós-graduação criado em 1972. 

Atua, também, como vice-presidente (1973-1975) e presidente (1975-1979) da Empresa Municipal de Urbanização de São Paulo (Emurb) e do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), entre 1975 e 1980. Participa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano (1986-1987) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1990.

Aposenta-se em 2001, mas mantém-se ativo na FAU, como professor da pós-graduação, pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Urbanização, Arquitetura e Preservação (LAP), que ajuda a fundar, em 1992, e membro do conselho e da comissão editorial dos Cadernos de Pesquisa do LAP.

É autor de livros importantes para a área, como Quadro da Arquitetura no Brasil (1970); Imagens de Vilas e Cidades do Brasil Colonial (2000), premiado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB/SP), em 2000, e pelo Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP), em 2002; São Paulo: Vila, Cidade, Metrópole (2004), premiado na 5ª Bienal Ibero-Americana de Arquitetura (2006); Victor Dubugras: Precursor da Arquitetura Moderna na América Latina (2005); e Dois Séculos de Projetos no Estado de São Paulo: Grandes Obras e Urbanização (2010), premiado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), em São Paulo (2004), e pela Câmara Brasileira de Letras (2011). 

Da atividade como arquiteto e urbanista, destacam-se os projetos para o Conjunto Urbano de Ilha Solteira (1968), no interior de São Paulo; a Casa Pery Campos, na capital paulista (1970), realizada em coautoria com Rodrigo Lefèvre (1938-1984); e as obras de recuperação de 32 estações ferroviárias em São Paulo, realizadas entre 1978 e 1979. 

 

Análise

Nestor Goulart Reis Filho é um dos principais nomes da história da arquitetura e do urbanismo no Brasil, campo que ajuda a constituir como professor, pesquisador e diretor da FAU/USP desde os anos 1950. Ao longo da carreira, por meio da atividade acadêmica e como profissional atuante e membro de órgãos públicos importantes, mantém-se engajado na valorização profissional de arquitetos e urbanistas e comprometido com a busca de soluções dos problemas das cidades brasileiras.

O interesse pela história surge na graduação, quando participa do Centro de Estudos Folclóricos (CEF) do Grêmio da Faculdade (Gfau) e do estudo sobre a rede urbana de São Paulo, coordenado pelo arquiteto Luís Saia (1911-1975) em 1954. A aproximação com esse último tema (um de seus campos privilegiados de investigação) acontece quando o jornalista José Maria de Albuquerque Mello lhe apresenta o trabalho A “Cidade Ideal” do Renascimento e as Cidades Portuguesas da Índia (1956), do historiador de arte português Mário Tavares Chicó (1905-1966). Esse estudo leva-o a questionar a análise sobre a colonização portuguesa na América, realizada por Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) em Raízes do Brasil (1936). 

Segundo Holanda, para os espanhóis, a cidade ocupa uma posição central na política colonizadora, sendo traçada em quadrículas que obedecem a uma legislação específica e detalhada; para os portugueses, as cidades têm importância lateral, sendo formadas ao capricho do terreno, sem planejamento, sem ordem e com certo “desleixo”. Essa leitura é corroborada por trabalhos posteriores, como o do historiador estadunidense Robert Chester Smith (1912-1975). Contra essa vertente interpretativa, Nestor Goulart constrói outra versão com a tese Contribuição ao Estudo da Evolução Urbana do Brasil: 1500-1720 (1964). Com base na concepção de que “as formações urbanas brasileiras são parcelas de um processo de origem social”, Nestor Goulart investiga o sistema colonial português e a política urbanizadora na América, baseando-se em documentação escrita e iconográfica. Os resultados da pesquisa são publicados nos livros Urbanização e Teoria (1967) e Imagens de Vilas e Cidades do Brasil Colonial (2000) e levam o arquiteto a afirmar que há atividade planejadora regular dos portugueses na América, cujas cidades construídas em território colonial, com a participação ativa de engenheiros militares, não revelam desconhecimento de ordem nem desleixo.

O mesmo engajamento anima o arquiteto a estudar o intenso processo brasileiro de urbanização dos anos 1960 e pesquisar o fenômeno de urbanização na capital paulista dos anos 1980. Segundo o pesquisador, desde a década de 1970, o tecido urbano que compõe a área metropolitana de São Paulo começa a se esgarçar, expandindo-se por vasto território. Esse território é ocupado de forma dispersa por cidades, diferentes tipos de condomínios e centros comerciais privados de uso coletivo, conectados por rodovias que se transformam em vias expressas, dada a nova dimensão regional assumida pelo cotidiano. Para ele,

[...] essas mudanças tendem a tornar obsoletos os padrões correntes de controle do Estado (em todos os seus níveis) sobre o espaço urbano e sobre as práticas de sua produção e gestão. Tendem também a tornar obsoletos os procedimentos tradicionais de participação profissional dos arquitetos. [...] [Daí a importância] de estudar as formas específicas que estas mudanças estão adquirindo no estado de São Paulo e contribuir para a busca de alternativas para seu enfrentamento, em termos de políticas públicas e políticas de atuação profissional [1].

Compõem ainda as pesquisas de Nestor Goulart na área o levantamento documental e a análise de obras e equipamentos de infraestrutura, como fábricas, ferrovias, prédios de escritório, usinas de gás, portos, rodovias, pontes, escolas, hospitais, viadutos, aeroportos, usinas hidrelétricas e grandes vias urbanas, que, do seu ponto de vista, participam do processo de urbanização e lhe dão suporte. A atenção a essas obras é fruto de uma longa revisão historiográfica. O autor amplia os objetos de pesquisa para além das obras monumentais de valor estético consagrado e aponta para a importância de entrelaçar a história da arquitetura com a história urbana. Nesse sentido, pretende superar os limites das análises puramente formais e levantar farta documentação iconográfica. Esse esforço aparece pela primeira vez no livro Quadro da Arquitetura no Brasil (1970), no qual, além de mostrar as relações de “interdependência entre os modelos de arquitetura urbana utilizados no Brasil e as estruturas das cidades em que estão inseridos” ao longo do tempo, reabilita a produção arquitetônica do século XIX, até então desprezada pela historiografia. Participam ainda dessa iniciativa três outros livros relevantes para a área: Aspectos da História da Engenharia Civil em São Paulo (1989), São Paulo e Outras Cidades: Produção Social e Degradação dos Espaços Urbanos (1994) e Dois Séculos de Projetos no Estado de São Paulo: Grandes Obras e Urbanização (2010).

 

Notas

1. REIS FILHO, Nestor Goulart. Notas sobre urbanização dispersa e novas formas de tecido urbano. São Paulo: Via das Artes, 2006. p. 12-3.

Exposições 1

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Fontes de pesquisa 17

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  • MELENDEZ, Adilson; SERAPIÃO, Fernando. Entrevista Nestor Goulart Reis Filho. Arcoweb, São Paulo, nov. 2011. Seção Entrevistas. Disponível em: https://arcoweb.com.br/projetodesign/entrevista/nestor-goulart-dos-reis-01-01-2004. Acesso em: nov. 2017.
  • MENDRANO, Ricardo. Notas sobre a América do Sul na historiografia urbana brasileira. In: GOMES, Marco Aurélio A. de Filgueiras (Org.). Urbanismo na América do Sul: circulação de ideais e constituição do campo, 1920-1960. Salvador: Edufba, 2009. p. 261-293.
  • REIS FILHO, Nestor Goulart. Aspectos da história da engenharia civil em São Paulo. São Paulo: Companhia Brasileira de Projetos e Obras: Livraria Kosmos Editora, 1989.
  • REIS FILHO, Nestor Goulart. Contribuição ao estudo da evolução urbana do Brasil (1500-1720). São Paulo: Livraria Pioneira Editora: Edusp, 1968.
  • REIS FILHO, Nestor Goulart. Contribuição ao estudo da evolução urbana do Brasil: 1500-1720. Tese (Livre-Docência em Ciências Sociais Aplicadas) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1964.
  • REIS FILHO, Nestor Goulart. Dois séculos de projetos no estado de São Paulo: grandes obras e urbanização. São Paulo: Edusp: Imprensa Oficial, 2010. v. 1.
  • REIS FILHO, Nestor Goulart. Imagens de vilas e cidades do Brasil colonial. São Paulo: USP: Edusp: Imprensa Oficial do Estado, 2000.
  • REIS FILHO, Nestor Goulart. Notas sobre urbanização dispersa e novas formas de tecido urbano. São Paulo: Via das Artes, 2006.
  • REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1970. 214p. il p& b.
  • REIS FILHO, Nestor Goulart. São Paulo e outras cidades: produção social e degradação dos espaços urbanos. São Paulo: Hucitec, 1994.
  • REIS FILHO, Nestor Goulart. São Paulo: vila, cidade, metrópole. São Paulo: Prefeitura de São Paulo, 2004.
  • REIS FILHO, Nestor Goulart. Urbanização e teoria. São Paulo: [s. n.], 1967.
  • REIS FILHO, Nestor Goulart. Victor Dubugras: precursor da arquitetura moderna na América Latina. São Paulo: Edusp, 2005. 144 p. il color.
  • SMITH, Robert. Arquitetura colonial. Salvador: Progresso, 1955.
  • SMITH, Robert. Colonial towns of Spanish and Portuguese América. Journal of the Society of Architectural Historians, Charlottesville, v. 14, n. 4, p. 3-10, dez. 1955.
  • SODRÉ, João Clark de Abreu. Arquitetura e viagens de formação pelo Brasil: 1938 –1962. Dissertação (Mestrado em História e Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
  • SZMRECSANYI, Maria Irene. Arquitetura sempre relacionada ao urbanismo: este é o segredo do método. Entrevista com Nestor Goulart Reis Filho. Desígnio, São Paulo, n. 11-12, p. 97-111, mar. 2011.

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