Victor Frond

A Igreja de Santa Luzia e a Santa Casa de Misericórdia, Rio de Janeiro - RJ, 1858
Victor Frond
Texto
Jean-Victor Frond (Montfaucon, França, 1821 – Varrèdes, França, 1881). Fotógrafo, litógrafo, editor. Notabiliza-se pela produção de fotografias e vistas litográficas, além da publicação do famoso álbum Brasil pitoresco (1859) em co-autoria com o jornalista e político francês Charles Ribeyrolles (1812-1860).
Aprende o ofício da fotografia em 1851, em Lisboa. No ano seguinte, em Londres, conhece seu parceiro Charles Ribeyrolles, jornalista, militante político republicano que, assim como Frond, havia sido expulso por Napoleão III. Em outubro de 1856, chega ao Rio de Janeiro, quatro anos após ter sido exilado da França por se manifestar contra o golpe de estado de Napoleão Bonaparte (1808-1873)1. Republicano, atua à época como subtenente do batalhão de bombeiros de Paris.
No Brasil, seu nome consta nos livros de registro das Mordomias Imperiais2 desde 1857. No mesmo ano, os jornais da Corte noticiam a inauguração do seu ateliê fotográfico e destacam a deferência do imperador por seu trabalho, o que confere ao fotógrafo apoio material e aval simbólico. Interessa-se por associar a fotografia ao empreendimento editorial, diferenciando-se da maior parte dos fotógrafos da cidade, dedicados aos retratos sob encomenda.
Em 1857, começa a circular na Corte a Galeria dos brasileiros illustres: os contemporaneos, um álbum com retratos da família imperial. Trata-se das primeiras fotografias de Frond, litografadas por Sebastien Auguste Sisson (1824-1898), seu sócio desde 1857 e famoso litógrafo francês estabelecido na Corte.
A partir de 1858, deixa a distribuição dos álbuns a cargo unicamente de Sisson. No mesmo ano, passa a trabalhar na produção do álbum-livro Brasil pitoresco, em parceria com Ribeyrolles, autor dos textos. Importante marco para a fotografia e para as artes gráficas no Brasil, trata-se do primeiro grande álbum iconográfico cujas as imagens se baseiam em fotografias e não mais em desenhos. Constitui-se de um conjunto de 75 ilustrações litográficas editadas em Paris pela Imprimerie Lemercier3. O conjunto é composto por vistas marinhas, urbanas e rurais, incluindo fazendas de café, tipos humanos e costumes das províncias do Rio de Janeiro e da Bahia.
O inventário fotográfico que produz no Rio de Janeiro, entre 1858 e 1859, enfoca temas da cidade que se tornam grandes paradigmas de paisagem e são exaustivamente retomados por fotógrafos que o sucedem no século XIX. É o caso das vistas tomadas do Pão de Açúcar, dos Arcos da Carioca e do Outeiro da Glória.
Nas vistas de Brasil pitoresco, Frond retoma temas que já haviam sido retratados pelos artistas visuais consagrados que o precedem. Nota-se em seu trabalho a influência de pintores como o brasileiro Leandro Joaquim (1738-1798), o alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858) e o francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848). Em especial, destaca-se a semelhança com as gravuras de Rugendas e Debret sobre o tema da escravidão. Por conta das limitações técnicas dos materiais fotográficos disponíveis à época, limita-se à produção de retratos posados ou de atividades de trabalho que permitem movimentos mais brandos, como a moagem do café, a raspagem da mandioca, ou a “caça aos piolhos”. Especificamente no campo da fotografia, distingue-se de seus colegas por retratar pessoas escravizadas em seu cotidiano, em áreas externas, fora do estúdio, numa abordagem pioneira sobre o tema.
O livro-álbum reforça a ideologia do exotismo, marca central dos relatos e crônicas visuais dos viajantes europeus que percorrem o Brasil no século XIX. Esteticamente, essa ideologia integra de forma sutil a presença da escravidão às paisagens e às edificações por meio de composições idealizadas, o que torna o sistema escravista menos cruel aos olhos dos espectadores.
Em 1860, produz registros fotográficos da província do Espírito Santo, como acompanhante da viagem do naturalista e explorador suíço Johann Jakob von Tschudi (1818-1889), embaixador da Confederação Helvética do Brasil4. Essas fotografias são incluídas no livro Viagens na América do Sul, publicado em Leipzig, Alemanha, entre 1866 e 1869.
Graças a Brasil pitoresco, Frond ganha renome como fotógrafo e se consolida como editor, tornando-se conhecido nos ateliês e nas casas de edição parisienses. Acredita-se que as litografias originadas de suas fotografias têm grande aceitação em Paris, uma vez que há na Europa um mercado consumidor crescente e ávido por imagens fotográficas dos longínquos e exóticos lugares do planeta.
Em 1862, de volta à França, passa a trabalhar na Maison Lemercier, em Paris. Em 1865, publica pela Lemercier o livro Panthéon des illustrations françaises au XIXème siècle5. Este álbum retoma e amplia a ideia da Galeria dos brasileiros illustres, registrando para a posteridade figuras de renome da sociedade francesa da época.
Em 1881, morre em Varrèdes, França. No mesmo ano, suas litografias são apresentadas no Brasil durante a Exposição de História do Brasil realizada na Biblioteca Imperial, atual Biblioteca Nacional.
O livro-álbum que Victor Frond produz no Brasil, é considerado o “mais ambicioso trabalho fotográfico realizado no país durante o século XIX”6, por sua abrangência e acuidade técnica. O fotógrafo tem papel determinante na introdução da fotografia e das artes gráficas no território brasileiro, bem como na inauguração de uma nova forma de editoração de livros e de observação de imagens técnicas.
Notas
1. Conhecido como Napoleão III, torna-se o primeiro presidente da Segunda República Francesa, a partir de um golpe de Estado, em 1851.
2. Documentos relativos a atos e vida social das pessoas da família de Bragança no Brasil, de dom João VI a dom Pedro II (1808 a 1889).
3. Considerada a melhor oficina litográfica da época.
4. A Antiga Confederação Helvética dá origem à Suíça. Sua constituição como confederação se dá em 1798, com a invasão da região formada por três repúblicas (Schwyz, Uri e Unterwalden), unida desde 1291, pelas tropas do francês Napoleão Bonaparte (1769-1821).
5. FROND, Victor. Panthéon des illustrations françaises au XIXème siècle: comprenant un portrait, un biographie et un autographe de chacun des hommes les plus marquants dans l’Administration, Les Arts, L’Armée, Le Barreau, Le Clergé, L’Industrie, Les Lettres, La Magistrature, La Politique, Les Sciences etc. Paris: Abel Pilon; Lemercier, 1865.
6. VASQUEZ, Pedro. Fotógrafos pioneiros no Rio de Janeiro: Victor Frond, George Leuzinger, Marc Ferrez, Juan Gutierrez. Rio de Janeiro: Agil Fotojornalismo; Dazibao, 1990.
Obras 19
Exposições 33
-
2/12/1862 - 16/1/1861
-
1976 - 1976
-
-
8/6/1988 - 11/6/1988
-
Fontes de pesquisa 21
- BILLETER, Erika. Canto a la realidad: fotografía latinoamericana: 1860-1993. Barcelona: Lunwerg Ed.; Madrid: Casa de América, 1993.
- FABRIS, Annateresa (org.). Fotografia: usos e funções no século XIX. São Paulo: Edusp, 1991. (Coleção texto & arte, 3).
- FERREZ, Gilberto. A fotografia no Brasil: 1840- 1900. Prefácio Pedro Karp Vasquez. 2. ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1985. 248 p. (História da fotografia no Brasil, 1).
- FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J. Pioneer photographers of Brazil: 1840 - 1920. New York: The Center for Inter-American Relations, 1976.
- KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.
- KOSSOY, Boris. Origens e expansão da fotografia no Brasil: século XIX. Prefácio Boris Kossoy. Rio de Janeiro: Funarte, 1980. 128 p.
- KOSSOY, Boris. Origens e expansão da fotografia no Brasil: século XIX. Rio de Janeiro: Funarte, 1980.
- NOTÍCIAS diversas. Correio Mercantil, Rio de Janeiro, ano 13, n. 278, 9 out. 1856. p. 1.
- PHOTOGRAPHIA: Rua da Assemblèa. Diário do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, ano 37, n. 124, 8 maio 1857. p. 3.
- RIBEYROLLES, Charles; FROND, Jean Victor. Brasil pitoresco. São Paulo: Livraria Martins, 1941.
- SEGALA, Lygia. Ensaio das luzes sobre um Brasil pitoresco: o projeto fotográfico de Victor Frond. 1998. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.
- SEGALA, Lygia. O retrato, a letra e a história: notas a partir da trajetória social e do enredo biográfico de um fotógrafo oitocentista. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 14, n. 41, out. 1999.
- TSCHUDI, Johann Jakob von. Viagem à província do Espírito Santo: imigração e colonização suíça, 1860. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2004.
- TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839/1889. Rio de Janeiro: Funarte. Rocco, 1995. 309 p. (Coleção Luz & Reflexão, 4).
- VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho: Companhia Internacional de Seguros: Ed. Index, 1985.
- VASQUEZ, Pedro Karp. Mestres da fotografia no Brasil: Coleção Gilberto Ferrez. Tradução Bill Gallagher. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1995.
- VASQUEZ, Pedro. Fotógrafos pioneiros no Rio de Janeiro: V. Frond, G. Leuzinger, M. Ferrez, J. Gutierrez. Rio de Janeiro: Dazibao, 1990.
- VASQUEZ, Pedro. Fotógrafos pioneiros no Rio de Janeiro: Victor Frond, George Leuzinger, Marc Ferrez, Juan Gutierrez. Rio de Janeiro: Agil Fotojornalismo; Dazibao, 1990.
- VASQUEZ, Pedro. Mestres da fotografia no Brasil: coleção Gilberto Ferrez. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1995.
- WANDERLEY, Andrea C. T. O fotógrafo francês Jean Victor Frond (1821–1881) e o “Brasil Pitoresco”. Brasiliana Fotográfica, 15 jan. 2016. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=3885.
- ______; TUCCI CARNEIRO, Maria Luiza. O olhar europeu. O negro na iconografia brasileira do século XIX. São Paulo: Edusp.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
VICTOR Frond.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa1866/victor-frond. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7