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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

João Urban

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 16.05.2024
21.04.1943 Brasil / Paraná / Curitiba
João Urban (Curitiba PR 1943). Fotógrafo. Começa a fotografar como amador por volta de 1964, quando registra passeatas, manifestações populares e grupos teatrais em Curitiba. No fim dos anos 1960, profissionaliza-se nas áreas de publicidade e fotografia industrial. Paralelamente, realiza ensaios sobre presidiários, pescadores e operários de uma ...

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Biografia
João Urban (Curitiba PR 1943). Fotógrafo. Começa a fotografar como amador por volta de 1964, quando registra passeatas, manifestações populares e grupos teatrais em Curitiba. No fim dos anos 1960, profissionaliza-se nas áreas de publicidade e fotografia industrial. Paralelamente, realiza ensaios sobre presidiários, pescadores e operários de uma fábrica de cimentos no Paraná. Desde 1973, participa de exposições no Brasil e no exterior. Entre 1977 e 1980, documenta trabalhadores agrícolas diaristas, o que dá origem aos livros Bóias-Frias, Tagelohner in Süden Brasiliens, 1984, publicado na Alemanha, e Bóias-Frias, Vista Parcial, 1988, lançado no Brasil. Participa da 14ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1977. Em 1981, expõe na Galeria do Instituto Nacional da Fotografia da Fundação Nacional de Arte - Funarte, no Rio de Janeiro. Na década de 1980, inicia o projeto de documentação do Caminho das Tropas, estrada que vai de Viamão, Rio Grande do Sul, a Sorocaba, São Paulo. O resultado é reunido no livro Tropeiros, 1991. De 1980 a 1988, retrata imigrantes poloneses e seus descendentes que vivem em cidades paranaenses. Essas fotos são mostradas na Polônia, em 1987, e reunidas no livro Tu I Tam: Poloneses Aqui e Lá, 1997. Recebe o Prêmio J.P. Morgan de Fotografia, em 1999. Entre 1999 e 2002, registra festas religiosas na cidade de Aparecida, São Paulo, junto com Suzana Barretto (1963). O trabalho é publicado no livro Aparecidas, em 2002.

 

Comentário Crítico
João Urban é um fotógrafo publicitário que se dedica também a projetos documentais. Nesses trabalhos, ele freqüentemente enfoca aspectos sociais e culturais do Estado onde mora, o Paraná. Seus ensaios mais conhecidos registram camponeses diaristas, os chamados bóias-frias; imigrantes poloneses e seus descendentes que vivem nos municípios de Tomás Coelho Murici e Cruz Machado; e a estrada que vai de Viamão, Rio Grande do Sul, a Sorocaba, São Paulo, conhecida como Caminho das Tropas.

Os conjuntos são formados, sobretudo, de retratos posados - em preto-e-branco ou coloridos - feitos com luz natural, de maneira direta e frontal. Remetem aos primeiros trabalhos de foto-documentação desenvolvidos no início do século XX por artistas como August Sander (1876 - 1964) e Lewis Hine (1874 - 1940), e ao projeto de documentação de agricultores norte-americanos conhecido como Farm Security Administration, realizado nos anos 1930. Essas obras são precursoras dos ensaios documentais elaborados pela agência Magnum Photos, fundada em 1947 por Robert Capa (1913 - 1954), Henry Cartier-Bresson (1908 - 2004), David Seymour (1911 - 1956) e George Rodger (1908 - 1995). Desde então, a fotografia documental é considerada como um campo de atuação privilegiado no contexto do fotojornalismo, em que o operador da câmara alia seu ponto de vista à denúncia de injustiças sociais e à divulgação de realidades pouco conhecidas. Nesse tipo de produção, as qualidades estéticas são tão importantes quanto o conteúdo e, por isso, os resultados muitas vezes são vistos como artísticos. Até meados dos anos 1960, os trabalhos documentais eram veiculados em revistas de grande circulação como a norte-americana Life e a brasileira O Cruzeiro. Atualmente, são difundidos, principalmente, por meio de livros e exposições.

Na seqüência sobre os bóias-frias do Paraná, Urban não evidencia cenas de miséria e exploração, mas pessoas resignadas, saudáveis e fortes. O enquadramento simétrico e frontal feito à altura dos olhos e a postura rígida de alguns agricultores aproximam suas imagens de uma iconografia etnográfica e lembram os retratos feitos por Sander, nos anos 1920 e 1930, na Alemanha. Os sujeitos encaram a câmara com despojamento. Urban quase sempre os mostra no centro da composição, de corpo inteiro, em suas moradias ou no campo. Além disso, apresenta com nitidez signos que funcionam como pistas sobre sua condição de vida: roupas sujas e amarrotadas, ferramentas de trabalho e objetos pessoais. As fotos denotam tranqüilidade e confiança entre o fotógrafo e o retratado.

No ensaio sobre as colônias polonesas, descrever a cultura material local é tão importante quanto retratar as pessoas. Elas são apresentadas no interior ou diante de suas casas, em ambientes modestos, mas cuidados com asseio. Os colonos são mostrados em sua integridade, de corpo inteiro, em seus afazeres domésticos ou mirando a câmara com segurança. Mas sua intimidade não se revela pela maneira como eles se colocam à disposição da câmara, e sim por meio dos objetos pessoais. As fotos descrevem com detalhes a decoração dos cômodos: paredes de coloração esmaecida repletas de imagens religiosas e fotos de família, flores de plástico, almofadas e móveis com estampas variadas, toalhas e toda espécie de utensílios. Além do cuidado com a clareza da composição, as qualidades formais das imagens provêm, em parte, de uma estética vernacular. Urban mostra diferentes gerações convivendo com solidariedade e harmonia. Como na linguagem publicitária, tudo está em foco, as casas estão arrumadas, as roupas estão limpas, os indivíduos são saudáveis e equilibrados.

Quando uma produção como a de Urban é exibida no circuito das artes plásticas - em museus, galerias e catálogos de arte, uma das principais características da arte moderna nacional da primeira metade do século XX é atualizada: o empenho em chamar a atenção para questões sociais e para a população do interior do país1.

Nota

1 Sobre as relações entre arte moderna e fotografia documental no Brasil, ver: CHIARELLI, Tadeu. Identidade/não-identidade: a fotografia brasileira atual. Rio de Janeiro: Centro Cultural Light, 1997.

Exposições 85

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Fontes de pesquisa 12

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  • BRIL, Stefania. Poloneses e judeus: raízes brasileiras. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 21 fev. 1984.
  • CARBONCINI, Anna (coord.). Coleção Pirelli / MASP de Fotografias: v. 3. Versão em inglês Kevin M. Benson Mundy. São Paulo: Masp, 1993.
  • FELIZARDO, Luiz Carlos. O relógio de ver. Porto Alegre: Gabinete de Fotografia: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, FUMPROARTE, 2000. 136 p., il. p&b.
  • FERNANDES JUNIOR, Rubens. Vagas lembranças. [Texto publicado no Catálogo da Bienal de Cuba - Havana].
  • FERNANDES JÚNIOR, Rubens. Labirinto e identidades: panorama da fotografia no Brasil [1946-1998]. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
  • IDENTIDADE/não-identidade: a fotografia brasileira atual. Curadoria e texto: Tadeu Chiarelli. Rio de Janeiro: Centro Cultural Light, 1997. 39 p., il. p&b, color.
  • PAIVA, Joaquim (org.). Visões e alumbramentos: fotografia brasileira contemporânea na coleção Joaquim Paiva. Versão em inglês Katica Szabó, Laura Ferrari. São Paulo: BrasilConnects Cultura & Ecologia, 2002.
  • PERSICHETTI, Simonetta. Imagens da fotografia brasileira 2. São Paulo: Estação Liberdade: Senac, 2000.
  • SEMANA DE FOTOGRAFIA DA CIDADE DE CURITIBA, 4., 1994, Curitiba. IV Semana de Fotografia da Cidade de Curitiba. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 1994. Exposição realizada no período de 14 a 21 ago. 1994.
  • SOUZA, Jorge Pedro. Uma história crítica do fotojornalismo ocidental. Florianópolis; Chapecó: Letras Contemporâneas; Editora Grifos, 2000.
  • URBAN, João & BARRETO, Suzana. Aparecidas. Campinas: Tempo d'Imagem, 2002. 104 p., il. p&b, color.
  • URBAN, João. Tu I Tam: poloneses aqui e lá. Campinas: Senac, Núcleo de Fotografias de Campinas, 1997. Sem paginação, il. color.

Como citar

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