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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Eliane Caffé

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 14.06.2016
1961 Brasil / São Paulo / São Paulo
Eliane Dias Alves (São Paulo, São Paulo, 1961). Diretora e roteirista. Formada em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), em 1985. Durante a graduação é assistente de direção do documentário Strip-tease (1988), do diretor Ivo Branco. Em 1987, estuda dramaturgia e roteiro na Escola Internacional de Cinema e Televis...

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Biografia
Eliane Dias Alves (São Paulo, São Paulo, 1961). Diretora e roteirista. Formada em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), em 1985. Durante a graduação é assistente de direção do documentário Strip-tease (1988), do diretor Ivo Branco. Em 1987, estuda dramaturgia e roteiro na Escola Internacional de Cinema e Televisão de San António de los Baños, Havana. Retorna ao Brasil e realiza seu primeiro curta, O nariz (1988), baseado na crônica homônima de Luiz Fernando Verissimo (1936). O filme é produzido com auxílio do Prêmio Estímulo para Realização de Curta-metragem, da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, com o qual também é contemplada nos seus dois trabalhos seguintes. O Nariz recebe o Prêmio Melhor Curta-metragem no Festival Internacional de Cinema de Oberhausen, Alemanha. O segundo curta Arabesco (1990), é vencedor  de Melhor Curta-metragem no Festival de Gramado.

Cursa pós-graduação no Instituto de Estética e Teoria das Artes na Universidade Autônoma de Madri, e, em seguida, realiza o curta Caligrama (1995), vencedor dos Prêmios de Melhor Documentário no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e Melhor Filme Experimental no Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano, Havana. Seu primeiro longa-metragem é Kenoma (1998), vencedor de Melhor Filme no XX Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz, França, e no Festival Internacional de Gàva, Espanha. Seu mais aclamado trabalho, Narradores de Javé (2002), ganha prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinéma des 3 Ameriques de Quebec, Canadá; no Festival Un Cine de Punta del Leste, Uruguai;  e no Festival do Rio de Janeiro. Dirige o documentário Milágrimas (2006), que registra o projeto de dança do coreógrafo Ivaldo Bertazzo (1949). É diretora e corroterista da microsérie O Louco do Viaduto (2009), produzida pela TV Cultura e TV SESC. Na sequência, lança o longa-metragem O sol do meio dia (2009), vencedor do prêmio de Melhor Filme na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Nesse mesmo ano, estreia como diretora teatral com o espetáculo A Vida que eu Pedi, Adeus (2009) do dramaturgo Sérgio Roveri (1960). Coordena a produção do documentário O céu sem eternidade (2011).

Análise da Trajetória
Nas obras de Eliane Caffé prevalece o hibridismo entre ficção e realidade e temas com preocupação social. O curta Caligrama, por exemplo, traz os moradores de rua de São Paulo, usando textos, sons e falas produzidos por eles. Cria uma atmosfera que mescla realidade e ficção, na qual estão em destaque os excluídos. Em seu primeiro longa-metragem, Kenoma, as questões relativas ao progresso têm como argumento a ideia de moto-perpétuo, um mecanismo autossuficiente, capaz de gerar sua própria fonte de energia. Ambientado em uma cidade fictícia no interior do país, o longa traz José Dumont (1950) interpretando o personagem Lineu, homem que ambiciona durante vinte anos construir um moto-perpétuo para desenvolver sua cidade.  Circunscrita à disputa entre os que querem ou não o suposto progresso proveniente da tecnologia, a história revela-se como metáfora da persistência diante do fracasso, aludindo às lutas cotidianas daqueles que vivem às margens do desenvolvimento. Segundo a diretora, essa é “uma imagem poética muito forte”1, particularmente por tratar-se de um invento impossível, e pela obstinação dos que fracassavam em continuar tentando2.

Em Narradores de Javé, novamente obstinação e fracasso. Os moradores de Javé decidem escrever a história do vilarejo quando recebem a notícia de que ele irá desaparecer, inundado pelas águas de uma represa. Querem, com isso, provar a importância do lugar, para que ele não seja destruído. Contam com a ajuda de Birá, o ator José Dumont, que passa a ouvir as versões sobre a sua fundação. Os moradores não têm sucesso na empreitada e caminham à procura de um novo local para construírem sua cidade. De acordo com o crítico Ismail Xavier (1947), o filme é “(...) um título importante do ponto de vista cultural. Importante na relação que ele tem com questões que estão afetando a vida dos brasileiros”3. O comentário faz pensar, por exemplo, na construção da usina de Belo Monte, em Altamira, Pará, e seu impacto sobre as populações locais.

O filme é pensado com base nas viagens da diretora pela Bahia e por Minas Gerais, com gravador e câmera, nas quais registra contadores de histórias. Para Caffé, esse deslocamento é fundamental. Em suas palavras, Kenoma e Narradores de Javé fazem com que perceba “a importância de viajar, de expedicionar pelos lugares, descobrir mais, voltar a pesquisar, não as referências, mas revisitar o real”4. Com as viagens, a diretora procura encontrar outras referências do sertão. Inspira-se no Cinema Novo de Glauber Rocha (1939-1981) e na literatura de Guimarães Rosa (1908-1967), mas busca também sua próprias percepções5. Dessa maneira, sua vivência nas locações escolhidas para filmagem e com os moradores locais permite criar novos caminhos.   

As mesmas preocupações se atualizam em O céu sem eternidade. O documentário trata do município maranhense de Alcântara, no qual mais de três mil famílias quilombolas correm o risco de serem realocadas, para fundar o Centro de Lançamentos de Alcântara (CLA) – base de lançamento de foguetes da Força Aérea Brasileira. Produzido com base em oficinas de audiovisual realizadas na região, a temática das mudanças sociais, provenientes do avanço econômico-tecnológico, são tratadas em formato documental. Confirma, assim, a preocupação político-social da diretora e sua versatilidade para transitar pelas diversas expressões do cinema.

Notas
1 NAGIB, Lúcia. O Cinema da Retomada: depoimentos de 90 cineastas dos anos 90. São Paulo: Editora 34, 2002. p.133.
2 Idem. p.133.
3 XAVIER, Ismail. Entrevista. Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, 79 ed., Maranhão, ano III, 2005. Disponível em: < http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/29/Pagina116.htm >. Acesso em: 1 out. 2015. 
4 NAGIB, Lúcia. O Cinema da Retomada: depoimentos de 90 cineastas dos anos 90. São Paulo: Editora 34, 2002. p.131. 
5 Idem. p.130-131.

Obras 1

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Espetáculos 1

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Exposições 1

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