Fahrion
![Vestido Verde, 1949 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/000810004019.jpg)
Vestido Verde, 1949
Fahrion
Óleo sobre tela, c.i.d.
75,00 cm x 98,00 cm
Texto
Biografia
João Fahrion (Porto Alegre, RS, 1898 - idem 1970). Pintor, ilustrador, gravador e professor. De 1918 a 1920, tem aulas com o escultor italiano Giuseppe Gaudenzi (1875-?) na Escola Técnica Parobé. Em 1920, realiza sua primeira exposição no andar de cima da loja Esteves Barbosa, na cidade natal. Seus desenhos chamam a atenção do governador da época, Borges de Medeiros (1863-1961), que lhe concede bolsa para estudar na Europa.
Entre 1920 e 1922, reside em Amsterdã, na Holanda, e em Berlim e Munique, na Alemanha, onde vivencia a efervescência cultural da República de Weimar. É nesse período que conhece a Bauhaus, o arquiteto alemão Walter Gropius (1883-1969), as peças iniciais do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956) e algumas das vanguardas europeias, como o expressionismo e o surrealismo. Cursa litografia e pintura na Academia de Belas Artes de Berlim, mas volta a Porto Alegre sem concluir sua formação.
Expõe no Salão Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, onde recebe medalha de bronze, em 1922, e medalha de prata, em 1924. Nesse período, também trabalha como decorador, além de realizar ilustrações para o jornal Diário de Notícias. Em 1929, emprega-se no ateliê de ilustração da editora Globo. Além de capas para diversos livros, como Noites na Taverna, do escritor Alvares de Azevedo (1831-1852), faz ilustrações para a Revista do Globo. Passa a ministrar aulas em seu ateliê, em 1936. Sai da Revista do Globo em 1937 e leciona pintura e desenho de modelo-vivo no Instituto Livre de Belas Artes do Rio Grande do Sul.
No ano seguinte, funda com outros artistas a Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa. A partir dos anos 1940, produz diversos retratos encomendados pela elite gaúcha e passa a frequentar a cena noturna da cidade e a produzir desenhos de bares, teatros e cabarés. Aos 66 anos, aposenta-se devido a uma forte depressão. Durante sua trajetória, realiza diversas exposições individuais em Porto Alegre. Após sua morte, seus quadros compõem diversas exposições coletivas, como a Bienal Brasil Século XX, de 1994, em São Paulo.
Comentário crítico
O crítico de arte José Luiz do Amaral percebe em João Fahrion uma hesitação entre a renovação e o conservadorismo, característica também presente na Porto Alegre da primeira metade do século XX. Durante os anos 1920, a cidade provinciana passa a se urbanizar e se impor como “reguladora da ordem social e do bom gosto das elites”.1 Embora as ideias políticas que circulam nos cafés e teatros não busquem “romper com os limites do pacato status quo da província”, o cenário cultural se transforma: é criado o Instituto de Belas Artes da cidade, os artistas têm relativo contato com as vanguardas europeias e surgem revistas como Kodak, Máscara e Revista do Globo, na qual Fahrion trabalha a partir de 1929. Comandada pelo escritor Érico Veríssimo (1905-1975), a editora participa do boom editorial que ocorre no Brasil nos anos 1930. Ampliando os temas publicados, lança clássicos da literatura universal, livros infantis e de aventura. A Revista do Globo faz parte da política da editora de se manter alinhada às transformações do cenário cultural da época. Orientado pelo ilustrador alemão Ernst Zeuner (1895-1967), Fahrion cria capas que são, em grande parte, art déco.
Se nas capas de revista Fahrion realiza uma simplificação formal das figuras, o que facilita a reprodução de imagens em um veículo de comunicação de massas, suas ilustrações para livros e parte dos seus quadros têm grande influência do expressionismo alemão, com o qual o artista tem contato durante sua estada em Berlim. No lugar da geometrização das figuras, é possível observar a ênfase no gesto, o traço forte, o caráter mais dramático das cenas retratadas e o uso de cores contrastantes. Um exemplo dessa influência são as ilustrações para a segunda tradução brasileira do livro Alice no Espelho, de Lewis Carroll (1832-1898).
A estética expressionista também aparece nos óleos sobre tela que mostram cenas da noite porto-alegrense. Frequentador de circos e teatros, o pintor retrata bailarinas e outros artistas que se preparam para entrar no palco, como é o caso de Bastidores (1951) e Bailarina com Espelho, (1961). Em seus autorretratos, o traço forte vem comumente acompanhado das cores azuis, elemento frequente na obra de um pintor expressionista que admira, o austríaco Oskar Kokoschka (1886-1980).
Diferenciando-se das cenas noturnas, em que as personagens são captadas como se não percebessem o olhar do pintor, há um considerável volume de retratos posados feitos pelo artista sob encomenda, sobretudo a partir dos anos 1940, quando Fahrion passa a trabalhar para a elite gaúcha. Realizados geralmente em interiores de casas, eles estão mais próximos do chamado naturalismo acadêmico. Menos ousados nos aspectos formais, os quadros têm, no entanto, inspiração na pintura moderna, como no caso dos elementos decorativos que lembram os trabalhos do pintor francês Henri-Matisse (1869-1954).
Ainda que a obra de Fahrion seja heterogênea no que diz respeito às influências, as mulheres são seu principal tema. Nas residências, na rua e na noite, como percebe a crítica de arte Maria Amélia Bulhões, suas personagens trazem sempre a ambiguidade, marcada pela nudez do corpo e pela expressão facial: a “condição essencial da feminilidade numa sociedade conservadora: ser ao mesmo tempo sensual e contida”.3
Notas
1 AMARAL, José Luiz do. Sem título. In: Fahrion, um mestre a relembrar. Porto Alegre: Portonovo, 1989.
2 BULHÕES, Maria Amélia. Fahrion um olhar sobre o universo feminino In: SANTOS, Vera do Nohohay Schneider (coord.). Fahrion: um olhar sobre o universo feminino. Curadoria Maria Amélia Bulhões Garcia; texto Maria Amélia Bulhões. Porto Alegre: Associação Leopoldina Juvenil, 2002, p.16.
Obras 12
Auto-retrato
Auto-retrato com Cartola
Bastidores
Estudo de Bailarina
Interior com Figuras
Exposições 55
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21/11/1922 - 2/12/1922
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1924 - 22/9/1924
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Fontes de pesquisa 13
- 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
- AYALA, Walmir. Le Brésil par ses artistes. Rio de Janeiro, RJ: Nórdica, s.d. 211 il. color.
- DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5).
- FAHRION revisitado. Porto Alegre: Museu de Arte do Rio Grande do Sul, 1976.
- FAHRION. Fahrion: um olhar sobre o universo feminino. curadoria Maria Amélia Bulhões Garcia; texto Maria Amélia Bulhões Garcia; projeto gráfico Alfredo Aquino; tradução Nick Rands; coordenação Vera do Nohohay Schneider Santos; projeto Vera do Nonohay Schneider Santos; apresentação Nero César Sayago Silva, Vera do Nohohay Schneider Santos. Porto Alegre : Associação Leopoldina Juvenil, 2002. 48 p.
- FAHRION: um mestre a relembrar. Apresentação de José Luiz do Amaral. Textos de Paulo do Couto e Silva e Paulo Raymundo Gasparotto. Porto Alegre: Portonovo, 1989.
- LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
- MARGS. Disponível em: . Acesso em: 9 nov. 2011. Não catalogado
- MUSEU de Arte de São Paulo. Arte na França: 1860-1960: o realismo. Disponível em: https://masp.org.br/exposicoes/arte-na-franca-1860-1960-o-realismo.
- PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987.
- REIS JÚNIOR, José Maria dos. História da pintura no Brasil. Prefácio Oswaldo Teixeira. São Paulo: Leia, 1944.
- RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Editora Nacional, 1941. (Brasiliana. Série 5ª: biblioteca pedagógica brasileira, 198).
- ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.
Como citar
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FAHRION.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa1347/fahrion. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7