Paula Gaitán
Texto
Paula Maria Gaitán Moscovici (Paris, França, 1954). Diretora de cinema. Ao utilizar linguagens variadas e misturar documentário e ficção, abre espaço para liberdades estéticas. Sua obra, caracterizada por tramas dramáticas, apresenta temas recorrentes, como o feminino, seu lugar no mundo como mulher latino-americana, os povos indígenas e a vida artística.Também é artista plástica, fotógrafa e poeta, além de professora de cinema experimental.
Desde o começo de sua trajetória, Paula transita por diferentes linguagens visuais, registrando suas obras por meio de vídeo e escrita e dedicando-se aos estudos de artes plásticas. Filha do poeta colombiano Jorge Gaitán Durán (1924-1962), vive desde a primeira infância na Colômbia. Forma-se em Belas Artes pela Universidade de Los Andes (Bogotá) e em Filosofia pela Universidade Nacional (Medellín), nos anos 1970. Influenciada pela mãe, a escritora, poeta e dramaturga brasileira Dina Moscovici (1929-2020), migra com a família para o Brasil em 1977.
Definindo-se como cineasta colombiano-brasileira, logo se envolve com o cinema brasileiro. Sua estreia se dá com A idade da Terra (1980),o último filme dirigido por Glauber Rocha (1939-1981), com quem desenvolve uma relação pessoal e profissional. A película experimental coloca em cena quatro Cristos do Terceiro Mundo. Por gostar de manipular imagens, ressaltar a simbologia delas e trabalhar traços das artes visuais e da videoarte, Paula assina a direção de arte e o cartaz do filme. Neste, um personagem se encontra em um cenário invertido: o céu está embaixo, e a terra, em cima.
Em 1988, Paula realiza seu primeiro longa-metragem como diretora: Uaka, um misto de documentário e ficção sobre a festa Quarup, rodado na terra indígena do Xingu. Premiado nos festivais de Brasília e de Amiens, na França, o filme é falado na língua kamaiurá e os personagens, todos indígenas, praticamente criam o filme. Por meio de filmagens da aldeia e detalhes do cotidiano, a direção busca retratar os costumes dos moradores, com o mínimo possível de interferência.
Em 1991, a diretora participa de uma série de vídeos sobre os artistas plásticos mais importantes do Brasil. O vídeo, de 43 minutos, gravado em estilo de videoarte, interpreta a obra de Lygia Pape (1927-2004), recriando seu universo visual e sonoro da artista a partir de suas instalações.
No início dos anos 1990, Paula volta para a Colômbia, onde produz documentários para a televisão pública. Retorna ao Brasil nos anos 2000, quando o país vive a retomada da produção cinematográfica. Em 2007, lança Diário de Sintra, documentário sobre seu último ano de convívio com Glauber Rocha e o último ano de vida do diretor, durante a estadia do casal na cidade portuguesa. A partir do arquivo da família (fotos e filmagens em Super-8), Paula transforma imagens antigas e caseiras em material estético para consumo externo. Usa conversas com amigos que convivem com eles em Sintra e entrevista moradores locais para saber se reconhecem Glauber nas fotos. Como resultado, constrói uma série de camadas visuais e sonoras que apresentam um Glauber desconhecido do grande público, um homem de família que oscila entre ternura e amargura.
A iminência da morte reaparece na sua cinematografia quando dirige Sobre a neblina (2013), adaptação do romance homônimo da escritora Christiane Tassis (1967). O filme trata das emoções e dos modos de olhar a vida de um fotógrafo com tumor cerebral.
No mesmo ano, Paula assina a direção de Exilados do vulcão (2013), que aborda figuras femininas gravitando em torno de um personagem desmemoriado. O filme recebe o prêmio de melhor longa-metragem no Festival de Brasília.
Os interesses da artista pela videoarte e pelas questões do feminino voltam a convergir em 2017, no primeiro videoclipe da carreira de Elza Soares (1937-2022), A mulher do fim do mundo, dirigido e montado por Paula. Em dois dias de filmagem e com um orçamento modesto, a diretora realiza um trabalho com o objetivo de revelar o universo da cantora.
De volta ao cinema, Paula embarca em um projeto de duração peculiar: Luz nos trópicos (2020), com quatro horas e meia de duração. A trama do longa evolui, em grande parte, a partir das memórias de Igor, um descendente da etnia indígena Kuikuro que está em busca de sua ancestralidade. Entre Nova York e o Xingu, o filme estabelece uma cartografia para recuperar, em todos os sentidos, um território perdido. A diretora mistura linguagens visuais para construir um panorama colonial dos povos nativos das Américas e suas travessias, simbólicas e literais, conduzindo o espectador em deslocamentos por rios, pântanos e florestas.
Segundo o crítico Eduardo Valente, seja qual for o assunto ou o formato, a cineasta recorre a uma estética própria, afeita à videoarte, permitindo-lhe mexer livremente nas imagens, sem ficar a reboque de determinado contexto ou significado e apostando numa construção imagética cheia de sentimento, uma característica de sua obra.
Paula Gaitán desempenhou variadas funções no audiovisual, como diretora, montadora, atriz, produtora e figurinista, e as cumpriu com interesse ávido pelas muitas camadas envolvidas em uma produção e por todas as possibilidades oferecidas pelas mais diversas linguagens artísticas.
Exposições 13
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18/7/1993 - 31/8/1993
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23/9/1993 - 2/10/1993
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23/9/1993 - 9/10/1993
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16/10/1993 - 9/11/1993
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15/11/1993 - 18/12/1993
Fontes de pesquisa 10
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- GAITÁN, Paula. Paula Gaitán. [Entrevista cedida a] Embauba Play, 3 jul. 2021. Disponível em: https://embaubaplay.com/diretor_s/paula-gaitan/. Acesso em: 12 jul. 2021.
- GAITÁN, Paula. Paula Gaitán. [Entrevista cedida a] Joana Oliveira. El País Brasil, 12 fev. 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/cultura/2021-02-12/paula-gaitan-a-cineasta-que-se-desafia-a-esculpir-o-tempo.html?event_log=oklogin&prod=REGCRARTBR&o=cerrbr. Acesso em: 10 jul. 2021.
- GAITÁN, Paula. Paula Gaitán. [Entrevista cedida a] Mauro Moraes. Tribuna de Minas, 28 jan. 2021. Disponível em: https://tribunademinas.com.br/noticias/cultura/28-01-2021/nao-vamos-perder-a-energia-diz-cineasta-paula-gaitan-homenageada-em-tiradentes.html. Acesso em: 12 jul. 2021.
- GAITÁN, Paula. Paula Gaitán. [Entrevista cedida a] Mulheres do Cinema Brasileiro, 14 jun. 2006. Disponível em: https://www.mulheresdocinemabrasileiro.com.br/site/entrevistas_depoimentos/visualiza/136/. Acesso em: 12 jul. 2021.
- NOLASCO, Igor. Paula Gaitán desvela seu olhar próprio acerca da vida noturna. Plano Aberto, 24 jan. 2021. Disponível em: https://www.planoaberto.com.br/noite/.
- NOLASCO, Igor. Paula Gaitán desvela seu olhar próprio acerca da vida noturna. Plano Aberto, 24 jan. 2021. Disponível em: https://www.planoaberto.com.br/noite/. Acesso em: 12 jul. 2021.
- VALENTE, Eduardo. Filme sombra. Revista Cinética, set. 2007. Disponível em http://www.revistacinetica.com.br/diariodesintra.htm. Acesso em: 13 jul. 2021.
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PAULA Gaitán.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa13456/paula-gaitan. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7