Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Cao Hamburger

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 08.05.2024
13.02.1962 Brasil / São Paulo / São Paulo
Carlos Império Hamburger (São Paulo, São Paulo, 1962). Diretor, produtor, roteirista. Filho de Ernst e Amélia Império Hamburger, professores de física da Universidade de São Paulo. É sobrinho de Flávio Império (1935-1985), um dos mais importantes cenógrafos e diretores de arte do Brasil.

Texto

Abrir módulo

Carlos Império Hamburger (São Paulo, São Paulo, 1962). Diretor, produtor, roteirista. Filho de Ernst e Amélia Império Hamburger, professores de física da Universidade de São Paulo. É sobrinho de Flávio Império (1935-1985), um dos mais importantes cenógrafos e diretores de arte do Brasil.

Começa a carreira cinematográfica realizando curtas de animação com Frankenstein Punk (1986), dividindo a direção com Eliana Fonseca (1962), e A Garota das Telas (1988). Em 1994, dirige Castelo Rá-Tim-Bum para a TV Cultura de São Paulo. A série transforma-se em um dos maiores sucessos da televisão pública paulista, com cerca de 90 episódios, premiada, em 1994, com a Medalha de Prata – categoria infantil – no festival de Nova York.

Cao estreia no cinema de longa-metragem com o filme Castelo Rá-Tim-Bum (1999), baseado na série televisiva. A fita recebe, em 2000, o prêmio de Melhor Filme Internacional no Festival de Cinema Infantil de Chicago.

Em 2006, cria e dirige, para o canal HBO, a primeira temporada da série Filhos do Carnaval, que tem como tema a luta pelo poder no interior da família Gebara, comandada pelo patriarca e bicheiro Anésio. Em 2009, apresenta a segunda temporada da série.

O retorno ao cinema ocorre com O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006). O filme revê o Brasil da ditadura militar da década de 1970 pelo olhar do protagonista Mauro, um garoto de 12 anos. Em 201, dirige Xingu, obra que conta a trajetória dos irmãos indianistas Cláudio (1916-1998), Orlando (1914-2002) e Leonardo Villas Bôas (1918-1961) e a viagem para o interior do Brasil que resulta na criação do Parque Indígena do Xingu (PIX). O PIX é a primeira reserva indígena criada no Brasil, localizado na região nordeste do Estado de Mato Grosso, porção sul da Amazônia brasileira.

Cria com o diretor Teodoro Poppovic, as séries Pedro e Bianca, que marca sua volta à TV Cultura, em 2012. A série conta, por meio das experiências dos irmãos gêmeos, os desafios da adolescência e ganha o Internacional Emmy Kids Awards (2014) como melhor série de 2013.

Análise

Ao transpor o Castelo Rá-Tim-Bum para o cinema, em 1999, Cao Hamburger vence o desafio de repetir na tela grande o sucesso da atração infantil na TV Cultura. A primeira imagem que o filme oferece é a da tela escura, sobre a qual lemos os créditos iniciais, que é tomada de repente por uma visão do alto da acinzentada cidade de São Paulo, com seus edifícios dominando a paisagem. Uma música vibrante contrasta com a visão da metrópole e acompanha o movimento de uma pipa de cores vivas que rompe com a monotonia do cenário de concreto. Este “convívio” de mundos diferentes constitui uma das características do filme.

Segundo Luiz Zanin Oricchio, a magia refinada da obra de Cao Hamburger está na aproximação de elementos díspares como física dos planetas e poderes místicos, o mundo atemporal do Castelo do cotidiano brasileiro tomado pela especulação imobiliária e corrupção no serviço público1.

O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias retoma o tempo da ditadura militar (1964-1985) em sua fase mais violenta, sob a presidência do General Emílio Garrastazu Médici (1905-1985), entre outubro de 1969 e março de 1974 pelo olhar do garoto Mauro.

Os pais de Mauro, militantes de esquerda, entraram na clandestinidade e são obrigados a sair de Minas Gerais às pressas em direção a São Paulo, onde deixam o filho na casa de seu avô. No mesmo dia em que ele chega, o avô morre e o menino fica sob os cuidados de Shlomo, um velho judeu do bairro do Bom Retiro. Mauro é obrigado a se adaptar ao novo bairro paulistano e aos efeitos da violência política brasileira do período, que interfe em seu espaço familiar. Tudo isso em meio à Copa do Mundo de Futebol, realizada no México em 1970, que Mauro acompanha apaixonadamente.

O futebol é um importante elemento do filme. Logo na primeira cena, o menino brinca com um jogo de botões enquanto o ouvimos dizer, em voz off, que os goleiros passam a vida sozinhos, esperando o pior acontecer. Mauro vê a história se desenrolar a sua frente e pode contar somente com a ajuda daqueles que estão ao seu lado para evitar que a bola entre. Quando o atacante adversário está diante dele, sem ninguém para defendê-lo, ele conta apenas consigo para continuar “vivo” na partida. Para Augusto Sarmento-Pantoja, “o estado de prontidão é o que aproxima o goleiro de um exilado. É o que Mauro é, mas não sabe. É o que Mauro será, mas não imagina. Não pode falhar! Ficar Isolado!”2.

Com Xingu, Hamburger lança o olhar sobre um Brasil distante, geográfica e culturalmente, da maior parte dos brasileiros. Por meio da epopeia dos irmãos Villas Bôas, o cineasta relata o contato aberto e generoso, sem o desejo de espoliação, de indivíduos com os índios.

Numa entrevista, o cineasta afirma que os Villas Bôas são personagens deslocados, pois não se sentem à vontade na cidade, nem integrados ao universo dos índios3. Todavia, eles não realizam a travessia visando explorar os nativos e as riquezas da região, e sim, compreender e tentar preservar uma cultura ameaçada pela civilização.

Embora tenha se destacado na televisão com os olhos voltados para o público infantil, a produção cinematográfica de Cao Hamburguer traz diversidade e engajamento. Passa por sucessos como Castelo Rá-Tim-Bum, sem deixar de lado a crítica, ao referir-se à especulação imobiliária que ameaça o castelo em meio a cidade de São Paulo. Lida com temas que envolvem a história cultural e política do país desde a expedição dos irmãos Villas Bôas, até a ditadura militar e sua repressão aos opositores. O diretor antecipa o trânsito entre televisão e cinema, natural entre os profissionais da área.

Notas

1. ORICCHIO, Luiz Zanin. Ver ‘Castelo’ no cinema é programa obrigatório. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 31 dez. 1999. Caderno 2, p. D-3.

2. SARMENTO-PANTOJA, Augusto. O jogo como estratégia de defesa, sedução e erotismo no cinema latino americano. Anais do SILEL. Volume 2, n. 2. Uberlândia, EDUFU, 2011, p. 3.

3. MERTEN, Luiz Carlos. Irmãos no exílio. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 5 abr. 2012. Caderno 2, p. D-7.

 

Obras 1

Abrir módulo

Mídias (1)

Abrir módulo
Depoimento - Cao Guimarães
Produção Documenta Brasil e Itaú Cultural

Fontes de pesquisa 13

Abrir módulo
  • ARANTES, Silvana. Ame-o ou deixe-o. Folha de S.Paulo, São Paulo, 25 out. 2006. Ilustrada, p. E-1.
  • CAETANO, Daniel (org.). Cinema brasileiro: 1995-2005. Ensaios sobre um década. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2005. 352 p.
  • COUTO, José Geraldo. Drama com bela história simples comove sem abrir mão da inteligência. Folha de S.Paulo, São Paulo, 25 out. 2006. Ilustrada, p. E-1.
  • HAMBURGER, Cao. Entrevista: Cao Hamburger. Revista de Cinema, São Paulo, 6 ago 2015. Disponível em: http://revistadecinema.uol.com.br/2015/08/entrevista-cao-hamburger/. Acesso em: 23 mar. 2016.
  • MERTEN, Luiz Carlos. Irmãos no exílio. O Estado de São Paulo, São Paulo, 5 abr. 2012. Caderno 2, p. D-7.
  • MERTEN, Luiz Carlos. Nino criança é a alma do filme que não teme ousar. O Estado de São Paulo, São Paulo, 31 dez. 1999. Caderno 2, p. D-3.
  • NAGIB, Lúcia. A utopia no cinema brasileiro: matrizes, nostalgia, distopias. São Paulo: Cosac & Naify, 2006. 216 p.
  • NAGIB, Lúcia. O cinema da retomada: depoimentos de 90 cineastas dos anos 90. São Paulo: Editora 34, 2002.
  • ORICCHIO, Luiz Zanin. Cinema de novo: um balanço crítico da retomada. São Paulo: Estação Liberdade, 2003.
  • ORICCHIO, Luiz Zanin. Ver ‘Castelo’ no cinema é programa obrigatório. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 31 dez. 1999. Caderno 2, p. D-3.
  • PRADO, Luís André do. A animação brasileira revela seu talento. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 23 set. 1988. Caderno 2, p. D10.
  • RAMOS, Fernão Pessoa; MIRANDA, Luiz Felipe (Orgs). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Senac, 2000.
  • SARMENTO-PANTOJA, Augusto. O jogo como estratégia de defesa, sedução e erotismo no cinemalatino americano. Anais do SILEL, Uberlândia, v. 2, n. 2, p. 3, 2011.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: