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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Sérgio Bernardes

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 17.09.2019
09.04.1919 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
15.06.2002 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Sérgio Wladimir Bernardes (Rio de Janeiro RJ 1919 - idem 2002). Arquiteto, urbanista, designer. O interesse de Bernardes pela arquitetura é precoce. A Casa Eduardo Bahout, 1934, o seu primeiro projeto, é construída cinco anos antes de seu ingresso na Faculdade Nacional de Arquitetura - FNA, onde se forma em 1948. Funda o escritório Sérgio Bernar...

Texto

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Sérgio Wladimir Bernardes (Rio de Janeiro RJ 1919 - idem 2002). Arquiteto, urbanista, designer. O interesse de Bernardes pela arquitetura é precoce. A Casa Eduardo Bahout, 1934, o seu primeiro projeto, é construída cinco anos antes de seu ingresso na Faculdade Nacional de Arquitetura - FNA, onde se forma em 1948. Funda o escritório Sérgio Bernardes Associados - SBA, em que desenvolve projetos de arquitetura e design, alguns deles premiados como a Casa Jadir de Souza, 1951/1952, 1º prêmio de habitação na Trienal de Veneza, em 1954; a Casa Lota Macedo Soares, 1953/1956, Prêmio Jovem Arquiteto Brasileiro na 2ª Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP, 1954; o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial da Bélgica, Prêmio Estrela de Ouro na Feira Internacional de Bruxelas, em 1958.

Em 1979 cria o Laboratório de Investigações Conceituais - LIC, uma entidade sem fins lucrativos dedicada à pesquisa e formulação de planos urbano-territoriais, cujo objetivo, nas palavras do arquiteto, é "ser um núcleo de pensamento que intervenha na realidade atual e sugira que o Homem pode se organizar melhor no espaço, harmonizando trabalho, circulação, habitação e lazer, condições elementares de seu bem estar".1 Além das atividades no SBA e LIC, Bernardes trabalha em órgãos públicos, é chefe do Setor de Arquitetura da Campanha Nacional contra a Tuberculose - CNCT, entre 1949 e 1959, quando projeta o Sanatório de Curicica, 1949/1951, em Jacarepaguá; assessor da Secretaria de Obras do Governo do Estado da Guanabara, de 1960 a 1965, durante a gestão de Carlos Lacerda (1914 - 1977); e secretário de planejamento e coordenador-geral da Prefeitura de Nova Iguaçu, em 1984. Candidata-se à Prefeitura do Rio de Janeiro em 1985. Obtém a sala hors concurs na 6ª Bienal Internacional de São Paulo em 1963. Vinte anos depois realiza uma exposição retrospectiva de sua obra no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, organizada por Lauro Cavalcanti. Parte de seu acervo encontra-se na Fundação Oscar Niemeyer no Rio de Janeiro.

Análise

Irrequieto e heterodoxo, Sérgio Bernardes trilha um caminho bastante particular na história da arquitetura brasileira, misturando referências a princípio consideradas antagônicas, orgânicas e racionais, locais e estrangeiras, pesquisando a fundo novos materiais e tecnologias, procurando expandir os limites da profissão e desenvolvendo projetos de edifícios, móveis, elementos construtivos e veículos de transporte, além de planos territoriais e urbanos.

Inicia sua carreira no fim da década de 1940, quando a arquitetura moderna brasileira já alcança reconhecimento internacional e nacional. Bernardes adota a princípio a síntese, proposta por arquitetos como Lucio Costa (1902 - 1998), entre o racionalismo europeu e os elementos da tradição construtiva e cultural local. Essa adesão, entretanto, não impede que, com apenas três anos de formado, o arquiteto conceba dois projetos que marcam não só a sua carreira como a arquitetura brasileira - a Casa Jadir de Souza, 1951/1952, no Rio de Janeiro, premiado na Trienal de Veneza de 1954, e a Casa Lota Macedo Soares, 1951/1956, em Petrópolis, Rio de Janeiro, premiado na 2ª Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP, 1954, pelo júri formado por Walter Gropius (1883 - 1969), Alvar Aalto (1898 - 1976) e Ernest Rogers (1909 - 1969). Se a primeira se destaca pela volumetria surpreendente, garantida interna e externamente pela união de dois volumes trapezoidais de tamanhos diferentes, a segunda chama atenção pela inventividade com que o arquiteto enfrenta o local de implantação do edifício, o programa e a construção. Situada na Serra dos Órgãos, a casa se adapta à topografia do terreno, ao mesmo tempo em que se integra e se destaca da paisagem circundante. Construída sobre uma base de pedra, sua cobertura de telha de alumínio se apóia em treliças de vergalhão de aço dobradas na obra, suportadas por pilares de aço, além de alvenarias de pedra e tijolos de barro.

O contraste entre os materiais industriais e artesanais está presente em outras obras de Bernardes, como a Casa do Arquiteto, 1960/1961, construída também no alto de um morro, desta vez no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, a pesquisa tecnológica empreendida prenuncia o conjunto de pavilhões que o arquiteto constrói entre os anos 1950 e 1970.

Nos pavilhões, Bernardes experimenta novos sistemas construtivos e materiais, procurando desenvolver soluções com coberturas leves tensionadas com cabos de aço, fixados ora em estruturas de aço, como nos pavilhões da Companhia Siderúrgica Nacional - CSN, 1954 (demolida), em São Paulo, e da Expo-Bruxelas, 1958 (demolida); ora em estruturas de concreto como no pavilhão de São Cristóvão, 1957/1960, no Rio de Janeiro, e no Centro de Convenções de Brasília, 1972. Feitos para exposições e eventos comemorativos, esses edifícios simbólicos têm um forte impacto visual, constituindo volumes únicos que assumem "formas geométricas reconhecíveis - trapézio, elipse, paralelepípedo", mas que, como na Casa Jadir de Souza, resultam em uma volumetria rica que gera espaços complexos e surpreendentes.

A busca de formas puras indicada nesses projetos é mais evidente, entretanto, em projetos como o do Hotel Tambaú, 1966, em João Pessoa, das torres do Condomínio Casa Alta, 1963, e o Centro de Pesquisas da Petrobras, 1969, ambos no Rio de Janeiro. Nessas edificações como naquelas não construídas para o Aeroporto Internacional de Brasília, 1978, o Hotel de Manaus, 1963, e o edifício-zoológico "Rio-Zôo", 1978 -, o projeto se organiza com base em núcleo central geométrico ao redor do qual os espaços ou blocos se distribuem em formas radiais ou circulares simétricas em mais de um eixo.2 

A mesma investigação está presente nos projetos urbanos para o Rio de Janeiro, Lagocean, ca.1960, e Plano-Rio, 1965, em que o arquiteto procura solucionar o problema da poluição dos rios e lagoas, no primeiro caso, e do crescimento desordenado da cidade, no segundo. A profusão de formas puras e nucleares presentes nestes projetos é uma metáfora do equilíbrio social desejado pelo arquiteto e também um indício de sua ligação com os arquitetos visionários do século XVIII. Como o arquiteto francês Étienne-Louis Boullée (1728 - 1799), Bernardes se apropria da tradição clássica, desenvolvendo projetos grandiosos que carregam "o ideal de progresso técnico e social" e a crença "na possibilidade de construir uma nova sociedade a partir da razão".3 

Extrapolando os limites do urbanismo, Bernardes desenvolve com a mesma inspiração utópica projetos que procuram organizar não só o território nacional como o próprio planeta, com base na distribuição planejada e racional dos recursos naturais da terra entre os homens. Nos projetos de Geometrização do Brasil ao Sistema Homem, Sistema Terra, desenvolvidos no Laboratório de Investigações Conceituais - LIC a partir de 1979, Bernardes revela, como bem aponta Ana Paula Pontes, "um modo de pensar e agir [que] pressupõe uma compreensão da técnica como via isenta [de transformação da sociedade], como se essa pudesse ser colocada acima de interesses particulares", vinculando-se dessa maneira ao "reformismo pretensamente neutro da arquitetura moderna, em que a técnica estaria a serviço de um novo humanismo".4 Não é à toa que, apesar de realizar levantamentos de dados exaustivos para os projetos a serem realizados no LIC ou em seu escritório comercial, se tem a impressão de que eles seriam implantados em territórios virgens, sem história.

A certeza do caráter benéfico dos avanços tecnológicos para a humanidade leva o arquiteto a propor projetos radicais e por vezes até delirantes, sobretudo aqueles dedicados à ocupação de áreas como a Amazônia e o Alasca, a re-estruturação geopolítica do Brasil com base na rede fluvial, ou a extinção do direito de propriedade na Terra, para distribuição melhor e mais justa dos recursos naturais,5 ao mesmo tempo, que possibilita o desenvolvimento de uma obra heterogênea, extremamente rica, que dificulta não só a sua classificação como a definição do que seja a arquitetura moderna brasileira.6

Notas

1. Módulo - edição especial: Catálogo Oficial da Exposição Sérgio Bernardes. São Paulo, out./nov. 1983. p.3.

2. PONTES, Ana Paula. Individualismo de massa: a habitação coletiva na obra de Sergio Bernardes. Monografia Especialização em História da Arte e Arquitetura no Brasil. 2002, p. 46. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC/RJ, Rio de Janeiro, 2002, p. 7.

3. Idem, op. cit., p. 9-13.

4. Idem, ibidem, p. 3.

5. CONDURU, Roberto. Tectônica tropical. In: ANDREOLI, Elisabetta; FORTY, Adrian. Arquitetura moderna brasileira. London: Phaidon, 2004. p. 56-105.

6. CAVALCANTI, Lauro. Sergio Bernardes: herói de uma tragédia moderna. São Paulo: Relume Dumará: Prefeitura, 2004. p. 20.

Exposições 9

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Fontes de pesquisa 14

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  • ANDRADE JUNIOR, Nivaldo Vieira de. Vida e obra do arquiteto baiano Bina Fonyat. AU: arquitetura e urbanismo. São Paulo, n.228, p. 69-73, mar. 2013.
  • BACKHEUSER, João Pedro. Sérgio Bernardes: sob o signo da aventura e do humanismo. Disponível em: [http://www.arcoweb.com.br/debate/debate35.asp]. Acesso em: 8 set. 2006.
  • CAVALCANTI, Lauro Pereira. Sergio Bernardes: herói de uma tragédia moderna. Rio de Janeiro: Rioarte, 2004. 128 p., il. p&b. (Perfis do Rio, 41).
  • CAVALCANTI, Lauro. Quando o Brasil era moderno: Guia de Arquitetura 1928-1960. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001.
  • CAVALCANTI, Lauro. Quando o Brasil era moderno: Guia de Arquitetura 1928-1960. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001. R720.981 C376q
  • CAVALCANTI, Lauro. Sergio Bernardes: herói de uma tragédia moderna. Rio de Janeiro: Rioarte, 2004. 128 p., il. p&b. (Perfis do Rio, 41). ISBN 85-7316-366-6. 720.92 B521
  • Disponível em: [www2.correioweb.com.br/cw/ EDICAO_20020616/pri_cul_160602.htm - 17k]. Acesso em 20 jun 2006. Correio Braziliense
  • MACUL, Márcia. Sérgio Bernardes. Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, nº 82, pp.63-69, fev./mar. 1999. Não Cadastrado
  • MEURS, Paul. O pavilhão brasileiro na Expo de Bruxelas, 1958. Arquiteto Sérgio Bernardes. Seção Arquitextos. Disponível em: [http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp034.asp]. Acesso em: 21 dez. 2006.
  • NASCIMENTO, Dilene Raimundo do; COSTA, Renato da Gama-Rosa; PESSOA, Alexandre; MELLO, Estefânia Neiva de. O sanatório de Curicica. Uma obra pouco conhecida de Sérgio Bernardes. Seção Arquitextos. Disponível em: [http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq026/arq026_02.asp]. Acesso em: 21 dez. 2006.
  • NOBRE, Ana Luiza. Sergio Bernardes: a subversão do possível. Seção Arquitextos. Disponível em: [http://www.vitruvius.com.br/ac/ac009/ac009_2.asp]. Acesso em: 21 dez. 2006.
  • PONTES, Ana Paula. Individualismo de massa: a habitação coletiva na obra de Sergio Bernardes. 2002. 46 f., il. Especialização, Rio de Janeiro/Brasil, 2002. Orientação de: Roberto Conduru. Não Cadastrado
  • PONTES, Ana Paula. Individualismo de massa: a habitação coletiva na obra de Sergio Bernardes. Monografia Especialização em História da Arte e Arquitetura no Brasil. 2002. 46p. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.
  • SEGRE, Roberto. Sérgio Bernardes (1919-2002). Entre o regionalismo e o high tech. [http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq026/arq026_00.asp]. Acesso em: 21 dez. 2006.

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