Elyseu Visconti Cavalleiro
Texto
Elyseu Visconti Cavalleiro (Rio de Janeiro, RIo de Janeiro, 1939 - Idem 2014). Cineasta e artista plástico. Estuda na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), sendo aluno de gravura de Oswaldo Goeldi (1895-1961). Aos 20 anos de idade trabalha como repórter para a Herbert Richers S.A., ingressando depois na TV Rio, sob direção de Walter Clark (1936-1997). Beneficiado com uma bolsa de estudos em cinema e televisão, permanece três anos vivendo em Paris. Depois de rápida passagem pela Itália faz estágios na Polônia e Tchecoslováquia.
De volta ao país no final da década de 1960, se aproxima do grupo carioca do cinema marginal, especialmente de Júlio Bressane (1946). Participa da fundação da produtora Belair e realiza Os Monstros de Babaloo (1970), seu primeiro longa-metragem. Tendo em vista o contexto repressivo da época e a proibição pela censura1 de seu segundo longa-metragem Lobisomem, Terror da Meia-Noite (1971), se afasta de vez do circuito comercial. Inicia a carreira de documentarista etnográfico, muito influenciado pela leitura do sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987). Desta lavra destacam-se obras como Ticumbi (1978) e Feira da Campina Grande (1979), além das parcerias com o folclorista Câmara Cascudo (1898-1986) em curtas como Boi Calemba (1979) e Pastoril (1982). Paralelamente ao cinema, mantém um trabalho como artista plástico, dedicando-se principalmente aos desenhos e às gravuras, com exposições no Brasil e no exterior.
Análise
Em sua filmografia, Visconti destaca-se sobretudo como diretor de Os Monstros de Babaloo (1970) já que, logo em sua estreia no cinema, realiza um filme limite. O cineasta parece aprofundar a ironia típica do cinema marginal a partir de um diálogo aberto com as chanchadas e os filmes de terror, promovendo de modo radical, segundo as palavras do crítico Ismail Xavier (1947), a "implosão da família e a encenação da decadência de uma elite associada à barbárie"2, expondo toda a agonia existencial daquela geração que viveu o auge da repressão militar. Isso lhe renderia sérios problemas com a censura e com a polícia.
Opta, então, por um exílio voluntário no interior do país. Daí nasce um segundo movimento em sua carreira, agora voltado para a antropologia visual. Longe dos excessos de sua fase marginal, filmes como Ticumbi (1978), ou mesmo trabalhos em vídeo como O Palhaço na Folia de Reis (1998) e Coroação do Rei do Congo (2002) se distinguem pelo registro sóbrio e objetivo da cultura popular, sem deixar de lado certo tom cerimonioso, de quem documenta um fenômeno que parece fadado a se perder no tempo, mas que, no entanto, resiste. Pois é nessa resistência que Visconti nos mostra um outro Brasil, para além da alegoria de Babaloo.
Notas
1. À época o país estava sob o regime militar, que censurava todos os tipos de obra que considerasse subversiva, ou seja, que não se alinhassem a seu ideário.
2. XAVIER, Ismail. O cinema marginal revisitado ou o avesso dos anos 90. In: CINEMA Marginal e suas fronteiras: filmes produzidos nas décadas de 60 e 70. Curadoria Eugênio Puppo, Vera Haddad. São Paulo, SP: Centro Cultural Banco do Brasil, 2001.
Exposições 1
-
26/8/2021 - 6/11/2021
Fontes de pesquisa 4
- BELAIR. Direção: Noa Bressane e Bruno Safadi. Brasil, 2009, documentário, 80 min.
- CINEMA Marginal e suas fronteiras: filmes produzidos nas décadas de 60 e 70. Curadoria Eugênio Puppo, Vera Haddad. São Paulo, SP: Centro Cultural Banco do Brasil, 2001.
- MASINI, Fernando. Filmes de guerrilha (entrevista de Elyseu Visconti). Revista Trópico, 13 jul. 2009.
- OS MONSTROS DE BABALOO. Coleção Cinema Marginal - vol. 3. São Paulo, Lume Filmes, Cinemateca Brasileira, 2009, encarte de DVD.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
ELYSEU Visconti Cavalleiro.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa13136/elyseu-visconti-cavalleiro. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7