Biografia

Vânia Dantas Leite (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1945). Compositora, pianista e regente. Dedica-se à música eletroacústica desde 1965, compõe e desenvolve pesquisa experimental, no Brasil e no exterior. Em 1974, estuda música eletrônica no Electronic Music Studio, Londres, onde adquire equipamentos específicos para montar laboratório próprio no Rio de Janeiro.

Em 1981, ingressa na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) onde funda o Estúdio de Música Eletroacústica do Instituto Villa-Lobos. É responsável por ele até 2012, contribuindo com a formação de jovens compositores. Em maio de 2001, apresenta o concerto multimídia CaleidoCosmos, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/Rio) em espetáculo idealizado com Lica Cecato (1956).

No exterior, participa de congressos, concertos e festivais. Entre eles, Sonidos de las Américas, no Teatro do Carnegie Hall, Nova York (1996); Festival brasilianischer Musik, Alemanha (2000); 4^o Festival International Ricardo Bianchini, Chile (2005); mastrclasses de composição na Princeton University (1996); concertos e seminários na University of Music, Karlsruhe, Alemanha, em 1998, 2000 e 2003; estágio e conferências em Bellagio, Itália (2003) e na EMS09 Conference (Electroacoustic Music Studies Network), Buenos Aires (2009).

Como compositora reúne alguns prêmios: 1º lugar no Concurso Nacional de Composição (1972); 3º lugar no Concurso Internacional de Regência (1973), dedicado às obras de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), no Rio de Janeiro; Prêmio Programa de Bolsas RioArte (1996); Prêmio da Rockefeller Foundation (2003); e Prêmio Funarte de Composição Musical (2012), para estreia na 20^a Bienal de Música Brasileira Contemporânea.

De 2010 a 2013, destaca-se a realização de concertos de alunos, no Fórum de Composição, a participação na Série Unirio Musical, com a obra Retratos Sonoros do Jongo da Serrinha pelo Projeto Sesc (2012), e a composição de Memórias Abstratas e Abstraídas (2012/2013), para a 20^a Bienal de Música Brasileira Contemporânea.

Análise

A obra de Vânia Dantas Leite insere-se no campo da música erudita e experimental da segunda metade do século XX. Ela pauta seu trabalho como compositora de música eletroacústica. A formação musical serve-lhe de base para a apropriação dos meios tecnológicos, do eletroeletrônico ao digital, mantendo a qualidade e o rigor de suas criações. Apesar das múltiplas habilidades como compositora de música contemporânea, Vânia se considera, uma instrumentista, “Eu toco computador...”¹.

As composições revelam a presença da natureza e a brasilidade rítmica. Essa brasilidade alinha-se com as obras de compositores brasileiros de diferentes épocas, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) a Hermeto Pascoal (1936). Os trabalhos de Vânia caracterizam-se pela incorporação de recursos tecnológicos, eletrônicos e digitais e outros meios e linguagens. A compositora também se dedica ao resgate da história da música eletroacústica no Brasil.

Encontra sua vocação muito cedo, sob a influência de Esther Scliar (1926-1978), professora de composição e análise, responsável por sua inserção no mundo dos compositores contemporâneos não tradicionais. Em Londres, no Eletronic Music Studio, compõe Vita Vitae (1974), que considera sua obra de estreia, apresentada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 1975². O caráter experimental e inovador é mantido no percurso artístico e consolidado em termos conceituais no ensaio Música-Vídeo: Um Novo Gênero Musical, resumo de sua tese de doutorado (2004), na Unirio³.

Nos anos 1970, atua simultaneamente em diversos grupos. Em 1977, é presa pelos militares junto com o grupo Ars Contemporanea, durante a 2^a Bienal de Musica Contemporânea Brasileira. A obra que apresentam utiliza o texto “Como Fazer a Revolução” do norueguês Henrik Ibsen (1828-1906), considerado subversivo.

No final dos anos 1980, aprofunda os conhecimentos em tecnologias de som, com Leo Kupper (1935) no Studio Eletronic Auditive, em Bruxelas, quando atua como engenheira de som em concertos Internacionais. A seguir, trabalha coma compositora belga Annette Vande Gorne (1946). Já no Brasil, nos anos 1990, compõe “Sforzato/Piano” para meios eletrônicos e acústicos, gravado no CD do Estúdio da Glória, Conjunto Vazio, que reuniu outros compositores da área.

Como docente, mantém a natureza de artista, em uma prática de ensino que envolve seus alunos em pesquisas e criação.

Entre 1996 e 2006, realiza o projeto Fantasias de Brasil, baseado nos Orixás, dividades das religiões afro-brasileiras. O trabalho envolve projeção de imagens em tempo real, marca característica de sua obra. Compõe o concerto multimídia CaleidoCosmos, apresentado no MAM do Rio de Janeiro, em 2001.

A partir de 2011, abre nova frente de criação com Retratos Sonoros do Jongo da Serrinha; e Memórias Abstratas e Abstraídas para estreia na Bienal de Música Brasileira Contemporânea de 2013.

Notas

1 Apud NEIVA, Tânia Mello. Cinco mulheres compositoras na música erudita brasileira contemporânea. Dissertação (Mestrado em Música) – Instituto de Artes Universidade Estadual de Campinas, Campinas 2006. Disponível em: < http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000868011&fd=y >. Acesso em: 03 jun. 2014. p.196.

2 LEITE, Vânia Dantas. Música-Vídeo: um novo gênero musical, 2007. In: XVII CONGRESSO DA ANPPOM, Instituto de Artes da UNESP, São Paulo, 2007. Anais do XVII Congresso da ANPPOM, São Paulo, UNESP, 2007. Disponível em: < http://www.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2007/composicao/comp_VDLeite.pdf >. Acesso em: 03 jun. 2014.

3 Apud NEIVA, Tânia Mello, op. cit., p. 196.