Vera Karam
Texto
Biografia
Vera Maria Bandeira Karam (Pelotas RS 1959 - Porto Alegre RS 2003). Dramaturga, atriz. Em apenas dez anos de produção, Vera Karam deixa uma dramaturgia sólida, em que se destacam o humor e a ironia na abordagem de desencontros amorosos, especialmente em peças premiadas como Maldito Coração, Me Alegra que Tu Sofras e Ano Novo, Vida Nova.
Professora de inglês e tradutora, ela se aproxima do teatro no fim da década de 1970, como integrante do Grêmio Dramático Açores, formado no âmbito do Teatro de Arena de Porto Alegre (TAPA), e no início da década seguinte integra o grupo Descascando o Abacaxi.
Ao cursar a oficina de criação literária do escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, na Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), passa a produzir contos e textos para teatro. Sua apresentação no livro da Oficina Literária demonstra o gosto pelo humor: "Vera Karam, também desconhecida como Vera K, é natural de Pelotas, embora seja difícil de acreditar que uma pessoa nascida em Pelotas seja 'natural'. É professora de inglês, eterna estudante de letras e ex-atriz, tendo largado a carreira, por razões obscuras, no auge do anonimato. Avisa aos estudiosos de sua obra que esta pode ser dividida em A.O. e D.O. (Antes da Oficina e Depois da Oficina). Adora cantoras de blues, é apaixonada por Eugene O'Neill e fã incondicional de Lygia Fagundes Telles. Não menciona idade, mas deixou escapar que lembra da revolução de 64, da Casa Louro, da revista 'Escrita' e freqüentou os resquícios da 'esquina maldita'. Adora pimenta, sabe de cor ...E o Vento Levou e leu A Convidada sete vezes. Tem o estranho hábito de falar de trás para diante. Aceita críticas, mas só pelo correio e acompanhadas de fotos 3x4".1
Em 1992, um de seus textos é incluído no espetáculo Quem Sabe a Gente Continua Amanhã, com direção de Mauro Soares, seu colega do Açores, ao lado de criações de outros quatro autores. No ano seguinte, Dona Otília Lamenta Muito, também dirigida por Mauro Soares, marca sua estreia propriamente como dramaturga, já com boa aceitação, conforme registra o escritor Tabajara Ruas no programa da peça: "Humor, absurdo, loucura, solidão, luta de classes, espanto - e tudo sem gritaria... Antes, estilizados pelo meio-tom de uma ironia quase imperceptível. É um trabalho meticuloso. A chama da paixão é dominada em favor da sutileza, da sugestão. A autora não anda em busca de vitórias fáceis".2 O texto recebe menção honrosa no Prêmio Açorianos de Teatro, da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, e é publicado no ano seguinte pelo Instituto Estadual do Livro (IEL).
Em 1996, entra em cartaz Maldito Coração, Me Alegra que Tu Sofras, novamente com direção de Mauro Soares, um monólogo representado pela atriz Ida Celina . Sobre a peça, escreve o crítico Miguel Arcanjo Prado, do jornal Folha de S.Paulo, por ocasião da temporada paulista: "O texto de Vera Karam conta a história de uma mulher presa em suas fantasias sobre um homem que teria amado no passado. Diante de tantos atropelos e incoerências, na fala da mulher fica a dúvida: o que seria verdade e o que seria invenção da mente da personagem? A linha tênue que separa a sanidade da loucura está presente em todos os momentos do espetáculo".3 Vera recebe várias premiações de melhor texto: Troféu Açorianos Especial de Teatro, do Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos de Diversão do Rio Grande do Sul (Sated/RS) e do Festival de Teatro de São José dos Campos, São Paulo.
No mesmo ano, Ano Novo, Vida Nova ganha o primeiro lugar no Concurso de Dramaturgia Qorpo-Santo e recebe o Prêmio Açorianos na categoria literatura dramática. O texto, no entanto, só é montado cinco anos mais tarde, com direção de Decio Antunes.
As montagens de textos dramáticos ou adaptações de contos para o teatro de Vera Karam prosseguem no Rio Grande do Sul e outros estados. Por que Você Não Disse que Me Amava? é encenada no Rio de Janeiro, com direção de Paulo Betti. Ofendi?, reunindo dois contos da autora, é apresentada no Recife. Sobre a peça, Roberto Lúcio, diretor do espetáculo, escreve: "Vera Karam revela, em sua dramaturgia, o lado cômico e por vezes triste dessa nossa limitação. Todos ofendemos a todos o tempo inteiro, e o que é pior, por ninharias, verdadeiras bobagens, crenças e preconceitos geralmente discutíveis". 4
Em entrevista à publicação Porto & Vírgula, a autora fala sobre a presença do humor em sua dramaturgia: "O humor sempre esteve presente na minha vida. É um humor meio pesado. É tragicômico, como a vida é tragicômica. É meu jeito de ver o mundo".5
O escritor Luiz Antonio de Assis Brasil reconhece no tratamento da linguagem a qualidade de sua obra: "Surgida em meio ao besteirol, do qual hoje muitos se arrependem, Vera lutou pela primazia e qualidade do texto, o que é evidenciado pela preocupação com a forma. Era possível vê-la, nas aulas, absorta com uma palavra. A mão amparando o queixo, olhar à distância, buscava essa palavra num lugar que só ela conhecia. Então dizia, toda alegre: 'Achei!' ".6
Notas
1. BRASIL, Luiz Antonio de. Contos de Oficina 7. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1991.
2. RUAS, Tabajara. Programa da peça Dona Otília Lamenta Muito, 1993.
3. PRADO, Miguel Arcanjo Prado. Peça intimista mostra devaneios de mulher abandonada. Folha de S.Paulo, 10 mar. 2008. Folha Ilustrada, p. 5.
4. LÚCIO, Roberto. Programa da peça Ofendi?, 2004.
5. A dramaturgia de Vera Karam. Porto & Vírgula, Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 8 nov. 1994.
6. BRASIL, Luiz Antonio de Assis. Vera Karam. Zero Hora. 9 nov. 2009. Segundo Caderno, p. 6.
Espetáculos 14
Fontes de pesquisa 13
- A Dramaturgia de Vera Karam. Porto & Vírgula, Prefeitura Municipal de Porto Alegre. 8 de nov. 1994.
- BRASIL, Luiz Antonio de. Vera Karam. Zero Hora. 9 nov. 2009, p. 6. Segundo Caderno.
- Disponível em: [http://www.diariopopular.com.br/24_03_03/ac210306.html]. Acesso em: 15/04/2009. Diário Popular
- Disponível em: [http://www.esteditora.com.br/textos/cronica1.htm]. Acesso em: 15/04/2009. Est Editora
- KARAM, Vera. Dona Otília Lamenta Muito. Porto Alegre. IEL/Tchê Editores, 1994.
- KARAM, Vera. Há um Incêndio Sob a Chuva. Porto Alegre. Mercado Aberto, 1999.
- KARAM, Vera. Nesta Data Querida. IEL, 2000.
- KARAM, Vera. O Teatro de Vera Karam. Porto Alegre. WS Editores, 2000.
- LÚCIO, Roberto. Programa da peça. Ofendi?, 2004.
- MENDONÇA, Renato. Vera Karam (1959-2003). Zero Hora, 2 jan. 2003, Segundo Caderno, p. 1.
- PRADO, Miguel Arcanjo Prado. Peça intimista mostra devaneios de mulher abandonada. Folha de S.Paulo, 10 mar. 2008, p. 6.
- RUAS, Tabajara - Programa da peça. Dona Otília Lamenta Muito, 1993.
- VERA Karam, Uma Paixão no Palco. Folheto da Exposição em homenagem a Vera Karam, Secretaria Municipal de Cultura. Porto Alegre, outubro 2009.
Como citar
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VERA Karam.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa109314/vera-karam. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7