Flávio Sampaio
Texto
Flávio Sampaio (Paracuru, Ceará, 1954). Bailarino, coreógrafo, professor de dança clássica e diretor artístico. Filho de um pescador e de uma dona de casa, aos dez anos a família o envia a Fortaleza para estudar no Colégio Militar, em regime de internato. Paralelamente faz curso de teatro, dança e cinema. Em 1973, ingressa na escola de balé1 do Serviço Social da Indústria (SESI/CE). No ano seguinte estuda balé clássico. Em 1977, tem o primeiro contrato profissional no Ballet do Teatro Guaíra, e, um ano depois, passa a atuar no Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Na companhia carioca, dança peças de importantes coreógrafos como William Dollar (1907-1986), Frederick Ashton (1904-1988), Maurice Béjart (1927-2007), John Cranko (1927-1973) e peças do repertório clássico. Um acidente em cena o obriga a se retirar e, depois da primeira cirurgia em 1982, retorna a dançar em 1983, mas um ano depois se afasta definitivamente.
Em 1987, opta em ser maître de ballet2 no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. No entanto, não é aceito como tal pelo diretor Dennis Gray (1928-2005). Durante seis anos, de 1987 a 1993, permanece inativo junto à companhia. Nesse período, leciona na Escola Estadual de Danças Maria Olenewa (1985 a 1986) e na Academia de Dança Tatiana Leskova (1987 a 1992). Em 1993, solicita licença do Theatro Municipal para ministrar aulas no Ballet da Ópera de Zurich, no Ballet da Ópera de Varsóvia, na Escola Estatal de Danças da Polônia e no ArtStudio de Munique, entre 1992 e 1993. Torna-se, finalmente, maître de ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 1994, onde permanece até 1998. Aposenta-se como bailarino em 1999, depois de detectar uma grave hérnia de disco.
Retorna a Fortaleza como diretor do Colégio de Dança do Instituto Dragão do Mar de Arte e Indústria Audiovisual do Ceará (1999 a 2001) e funda o Colégio de Dança do Ceará. No período, funda e coordena a Faculdade de Dança da Universidade Gama Filho, em Fortaleza (2000 a 2001) e realiza a direção artística da Bienal de Dança do Ceará (2001 e 2003). A partir de 2000, inicia capacitação a um grupo de dez jovens, em fins de semana, em Paracuru. Em 2002, faz capacitação no método Vaganova (2002) com Nina Sperantskaya, do Ballet Bolshoi, e Andrey Smirnof, da Escola Coreográfica de Moscou. No ano seguinte, retorna à sua cidade natal e estabelece a Escola de Dança de Paracuru e, depois, a Cia. de Dança de Paracuru.
Análise
Aos seis anos, Flávio Sampaio filho de pescador dança nas areias da praia da Bica, em Paracuru, pequena cidade da costa oeste do Ceará. Dribla a resistência de sua família e, após convencer o coordenador Dennis Gray do curso de balé para filhos operários, estuda balé clássico e ganha o mundo. Em 2011, retorna a sua cidade natal e encontra-se à frente de um audacioso e pioneiro projeto, ensinar balé as crianças das famílias desfavorecidas. Revisita o ensino do balé clássico, ao publicar em livro e artigo suas inquietações pedagógicas, propõe uma face "brasileira" ao ensino da dança e credita à gaúcha Jane Blauth a chave de seu aprendizado.
É obrigado a aposentar-se, após a primeira intervenção cirúrgica, em duas das vértebras, em decorrência do acidente sofrido em ensaio no Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Isso o motiva na escolha pelo ensino do balé clássico. Quando é promovido a maître de ballet, o diretor Dennis Gray, o mesmo do seu inicio de carreira, o impede de ministrar aulas à companhia alegando que ele não "não tem maturidade necessária para o cargo"3. O período de inatividade no Theatro Municipal, entre 1987 a 1993, não o impede de ensinar. Ministra aulas na Europa, no Ballet da Ópera de Zurich, no Ballet da Ópera de Varsóvia, na Escola Estatal de Danças da Polônia e no ArtStudio de Munique; e no Brasil em companhias como o Grupo Corpo (Belo Horizonte), Ballet do Teatro Castro Alves (Salvador), Ballet do Teatro Guaíra (Curitiba) e Quasar Cia de Dança (Goiânia), entre 1992 a 1996. Em 1994, torna-se, finalmente, maître do ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, cargo que ocupa até 1998. Neste período publica suas inquietações pedagógicas no livro Ballet Essencial, editado em 1996.
O constante exercício pedagógico o leva a começar a ver a dança de uma forma mais próxima do nosso pensamento, algo que pudesse ser executado de acordo com o nosso biótipo físico e a nossa cultura. Depois, apliquei isso dentro dos meus conceitos como professor [...] Como somos um país multirracial, pensei em aproveitar esta peculiaridade e fazer um estudo de acordo com o nosso estilo, que é bem diferente.4
Quando, em 1999, para de atuar como bailarino, retorna a Fortaleza. Agora, com o propósito de criar uma escola e um evento internacional de dança no Ceará. Sampaio sugere primeiro a criação de uma escola para a capacitação de bailarinos e professores. "O Colégio de Dança foi criado com esta intenção: durante um ano, poder gerar mecanismos para criar uma companhia pública para o Theatro José de Alencar, que pudesse dizer da nossa cultura, que pudesse falar de nós mesmos"5. No entanto, os recursos não aparecem no primeiro ano e o projeto se esvai no ano seguinte. Esta iniciativa não tem continuidade por falta de patrocinadores. A resposta vem na fundação da Escola de Dança e, depois, na criação da companhia de dança de Paracuru.
O trabalho de implementação da Escola de Dança em Paracuru começa com visitas à cidade nos fins de semana de 2000. A estada, durante 2002, como professor da Escola Bolshoi, em Joinville, Santa Catarina, não é o impede de retornar e se fixar na cidade natal. Como quem vivencia na adolescência a profissionalização por meio de um projeto social, ergue, em 2003, o que se constitui, simultaneamente, um projeto sócio-cultural e uma escola de formação para 204 crianças e adolescentes, com o apoio de Petrobras, Coelce, Prefeitura de Paracuru e Ministério da Cultura (como Ponto de Cultura). Onde se ensina disciplinas ligadas ao balé clássico, às danças moderna e contemporânea, disciplinas teóricas e se realiza oficinas socioeducativas.
Notas
1. A escola de balé dirigida para filhos de operários é um projeto pioneiro do Serviço Social da Indústria (SESI/CE), implementado em 1973 e conduzido por Dennis Gray (1928-2005) e Jane Blauth (1937).
2. É responsável pela rotina de ensaios de uma companhia. Às vezes também atua como diretor, coreógrafo e professor.
3. Entrevista realizada com o artista em 2011.
4. RODRIGUES, Giuliana. Casa Brasil da UEPB recebe Flávio Sampaio, renomado bailarino da Cia de Dança de Paracuru. Disponível em: < http://www.uepb.edu.br/index.php?option=com_content&view=article&id=930&catid=930&Itemid=410 >. Acesso em: 14 jun. 2010.
5. LIMA, Magela. Profeta da dança apaixonada. O Povo, Fortaleza, 13 jul. 2009.
Exposições 1
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27/8/2015 - 25/10/2015
Fontes de pesquisa 6
- FAHEINA, Rita Célia. Cabra marcado para bailar. Revista Trip, 27 out. 2008.
- LIMA, Magela. Profeta da dança apaixonada. O Povo, Fortaleza, 13 jul. 2009.
- MOSTRA RUMOS, 2015. Mostra Rumos. São Paulo: Itaú Cultural, 2015. [113 p.]. Exposição realizada no período de 27 ago. a 25 out. 2015.
- SAMPAIO, Flávio. Balé: compreensão e técnica. In: PEREIRA, Roberto e SOTER, Silvia (orgs.). Lições de dança 2. Rio de Janeiro: UniverCidade, 2000, p. 265-274.
- ______. Ballet essencial. 3.ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2004.
- ______. [Currículo]. Enviado pelo artista em 2011.
Como citar
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FLÁVIO Sampaio.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa109085/flavio-sampaio. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7