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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Rosana Palazyan

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 02.04.2024
1963 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Registro fotográfico Sérgio Guerini

O Realejo, 2003
Rosana Palazyan
Performance

Rosana Palazyan (Rio de Janeiro, 1963). Artista visual. As experiências pessoais, familiares e com estranhos são matérias-primas para os trabalhos da artista, que se aproveita da delicadeza do bordado para tratar de temas como violência urbana e exclusão social.

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Rosana Palazyan (Rio de Janeiro, 1963). Artista visual. As experiências pessoais, familiares e com estranhos são matérias-primas para os trabalhos da artista, que se aproveita da delicadeza do bordado para tratar de temas como violência urbana e exclusão social.

Depois de se formar em arquitetura pela Universidade Gama Filho, em 1986, direciona a carreira para as artes visuais e frequenta os cursos da Escola de Artes Visuais do Parque Lage entre 1988 e 1992. Os primeiros trabalhos são pinturas de grande formato com muita matéria.

Inicialmente se recusa a aprender a bordar com sua avó, uma exímia bordadeira nascida na Armênia, pois o bordado feito pelas mulheres da família está ligado ao passado, e ela quer se conectar com o presente. No entanto, a artista não consegue fugir das origens e inventa o jeito próprio de bordar ao incorporar a técnica ao seu trabalho. Aproveita-se da delicadeza do artesanato para expressar problemas da sociedade contemporânea e refletir sobre as violências sofridas pela família.

Em um trabalho sem título, de 1990, utiliza um lenço do espólio de peças bordadas que herdou da avó e borda nele cruzes armênias, reavivando a memória familiar do genocídio armênio promovido pelo Império Otomano no ínicio do século XX. A artista retoma o tema na videoinstalação Uma história que nunca esqueci, de 2013, apresentada na 4ª Bienal de Thessaloniki, na Grécia, primeiro local de refúgio dos antepassados.

Em 1992, uma tragédia marca a vida da artista: seu único irmão é assassinado. O acontecimento se torna tema de outro trabalho sem título, de 1996. Em lenços bordados pela avó, a artista borda desenhos simulando o assassinato. A violência urbana e doméstica são temas de uma série de trabalhos dos anos 1990. Além da experiência pessoal, busca por histórias de crimes nos jornais e cria releituras deles com bordados em diferentes suportes, como em Love story, de 1999. Em uma fita de cetim cor de rosa, borda a história de uma menina vítima de abusos sexuais do pai, que a engravida e depois começa a abusar da filha-neta. Acreditando que essa história nunca teria fim, a artista monta a fita bordada em dois rolos em que o espectador pode passar as cenas ao som da música Love story, do compositor francês Frances Lai (1932-2018), tema do filme homônimo de 1970.

A partir de 1998, a artista sai a campo para colher memórias e desejos de pessoas em situação de exclusão social. As histórias de crianças coletadas na pesquisa resultamn primeira instalação O que você quer ser quando crescer?, de 1998. Em cerca de 40 bonecos de tecido, a artista borda com fios de cabelos a imagem dos entrevistados no corpo e, na boca, seus sonhos. Os bonecos são instalados na posição de super-herói voando em direção aos seus desejos. O processo de troca e a escuta ativa permeiam os trabalhos da artista nos anos seguintes.

Entre 2000 e 2002, visita regularmente adolescentes internados na Escola João Luiz Alves, no Rio de Janeiro, destinada a jovens em conflito com a lei em cumprimento de medidas socioeducativas. Uma série de trabalhos são produzidos com essa experiência, como a instalação ... uma história que você nunca mais esqueceu? (2000-2007). A artista recria, com bonecos, cenas colhidas dos depoimentos dos adolescentes, em cima de travesseiros. Esses travesseiros são expostos nas mesmas alturas das beliches dos quartos da instituição, obrigando o espectador a se abaixar ou se erguer para ver em detalhes.

Nessas conversas, os adolescentes expressam muitas vezes o desejo por roupas de marca. A artista cria, então, o Projeto Roupa de Marca, 2000-2002, transformando os desenhos deles em estampas de camisetas e recriando o sentido de peça de grifes. De acordo com o curador Paulo Herkenhoff (1949), artistas que realizam operações de trocas, em especial nas situações de vulnerabilidade social, "adotam um novo paradigma de alteridade na arte social em que a arte, se não muda o mundo, poderá alterar nossa maneira de pensá-lo"1.

Em No lugar do outro, 2005-2010, a artista abre mão da narrativa em texto e da figuração. Em um tecido fino, quase transparente, borda as linhas de pessoas que superaram a situação de rua. Os bordados são guardados em cápsulas de tecidos que simulam casulos de borboletas. O visitante é convidado a experimentar nas palmas das mãos as linhas de outra pessoa bordada no trabalho. Na quiromancia, as linhas das mãos são usadas para saber o passado e o futuro. Ao sobrepor essas linhas sobre suas palmas, o visitante se coloca nas vivências e destino das pessoas retratadas pelo bordado. 

Em Por que daninhas?, 2006-2019, a artista aponta a relação entre pessoas em situação de vulnerabilidade e exclusão social com plantas consideradas daninhas. Nas raízes das plantas, borda com fios de seus cabelos algumas das definições biológicas dadas às espécies, como "são vistas como inimigos a serem controlados". A obra, realizada no Pavilhão Armênia na Bienal Internacional de Veneza de 2015, é premiada com o Leão de Ouro de melhor participação nacional. Nesse trabalho, a artista planta ainda espécies daninhas em um jardim, possibilitando que elas se desenvolvam, ação correlata à proposta de escuta e atenção às pessoas excluídas da sociedade.

Rosana Palazyan embaralha em sua obra as vivências pessoais com temas sensíveis da sociedade, como violência e justiça social. A matéria-prima da artista vem da troca com outro, com quem estabelece uma escuta ativa para amplificar as histórias particulares em uma experiência coletiva e universal.

Notas

1. HERKENHOFF, Paulo. Rosana Palazyan. Rio Janeiro: Centro Cultural Banco Do Brasil, 2002. p.18.

Obras 7

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Reprodução fotográfica Vicente de Mello

Love Story

Fita bordada, acrílico, mecanismo de caixa de música
Registro fotográfico Sérgio Guerini

O Realejo

Performance

Exposições 75

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Fontes de pesquisa 16

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  • A INFÂNCIA perversa: fábulas sobre a memória e o tempo. Curadoria Marcus de Lontra Costa. Rio de Janeiro: MAM, 1995.
  • ALINHAVO: bate-papo com Rosana Paulino, Rosana Palazyan e Lia Menna Barreto. São Paulo: Sesc Pinheiros, 2021. (86 min). Disponível: https://youtu.be/snvu89bzLmg. Acesso em: 20 maio 2022.
  • ANDAR com fé.... Curadoria Paulo Reis. Rio de Janeiro: Sesc Copacabana, 2002.
  • COLEÇÃO Museu de Arte Moderna da Bahia: arte contemporânea. Rio de Janeiro: MAM, 1998.
  • HERKENHOFF, Paulo. Rosana Palazyan. Rio Janeiro: Centro Cultural Banco Do Brasil, 2002.
  • HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Rosana Palazyan. Rio Janeiro: Centro Cultural Banco Do Brasil, 2002.
  • INTERVALOS: evento paralelo à documenta de Kassel. Curadoria Vitória Daniela Bousso; tradução Izabel Murat Burbridge. São Paulo: Paço das Artes, 1997.
  • OS 90. Curadoria Lauro Cavalcanti, Ana Maria de Niemeyer, Cláudia Saldanha, Fernando Cocchiarale, Iole de Freitas, Luiz Áquila, Luiz Camillo, Sônia Salzstein, Walter Sebastião. Rio de Janeiro: Paço Imperial/MINc IPHAN, 1999.
  • PALAZYAN, Rosana, Rosana Palazyan. Catálogo. Textos Paulo Herkenhoff, Frederico Morais e Heloisa Buarque de Hollanda. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2002.
  • PALAZYAN, Rosana. Infância perversa: fábulas sobre a memória e o tempo. Rio de Janeiro: MAM, 1995.
  • PALAZYAN, Rosana. Rosana Palazyan. Apresentação Frederico Morais. São Paulo : Galeria Thomas Cohn, 1998.
  • PALAZYAN, Rosana. Rosana Palazyan. Textos Heloisa Buarque de Hollanda. São Paulo : Thomas Cohn Arte Contemporânea, 2000.
  • PALAZYAN, Rosana. Rosana Palazyan. Tradução Gustavo Couto Stevens. Rio de Janeiro: Thomas Cohn Arte Contemporânea, 1996.
  • REBESCO, Vanessa Lúcia de Assis. Bordados, sonhos e pesadelos: deslocamentos de traumas e objetos domésticos na obra de Rosana Palazyan. Arte e Ensaios, Rio de Janeiro, v. 26, n. 39, pp. 81-91, jan.-jun. 2020. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/ae/article/view/0000-0002-8352-9019/20509. Acesso em: 20 maio 2022.
  • ROSANA PALAZYAN – um olhar sobre arte, experiência e linguagem. Rio de Janeiro: Arte, Experiência e Linguagem, 2020. (103 min). Disponível em: https://youtu.be/0wagxe5K2oo. Acesso em: 20 maio 2022.
  • SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Bordado e transgressão: questões de gênero na arte de Rosana Paulino e Rosana Palazyan. Revista Proa. v. 1, n. 2, 2010. Disponível em: http://www.ifch.unicamp.br/proa/ArtigosII/PDFS/anasimioni.pdf. Acesso em: 10 fev. 2019.

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