Crisálidas
Texto
Crisálidas é o primeiro livro de Machado de Assis (1839-1908), publicado em 1864. Trata-se de uma coletânea de 29 poemas escritos entre 1958 e 1864, alguns deles publicados anteriormente em revistas e jornais. A obra pertence à fase romântica de Machado, com uma grande variedade de temáticas, como a religiosidade, a vida amorosa e a metalinguagem. O livro traz poemas líricos e sentimentais em meio a outros que antecipam a ironia e a crítica social que serão características dos romances realistas de Machado.
“Musa consolatrix” é o poema que abre a coletânea e trata da própria poesia e do fazer literário a partir do ponto de vista subjetivo do poeta, que busca em sua musa o refúgio e o consolo para sua alma aflita. O poeta dirige sua prece à Musa, como uma amada que seguirá inspirando o poeta até o dia de sua morte, terminando em tom fúnebre.
O poema mais famoso do livro é "Versos a Corina", que oferece uma exaltação da beleza e das qualidades da mulher amada pelo eu poético. O desejo de fusão entre amantes e as expectativas de um amor puro e sincero são os temas centrais. Com a desilusão amorosa, o eu poético cogita a ideia da morte e termina por encontrar abrigo nos sonhos, onde pode realizar seu amor.
Alguns poemas trazem características do estilo machadiano que se desenvolvem mais profundamente nos romances da fase realista, como o engajamento político. Em “Epitáfio do México”, o eu poético traz um olhar anti-imperialista, aludindo à guerra entre Estados Unidos e México, que ocorre entre 1846 e 1848. O poeta se coloca contra a violação de direitos e apresenta sua solidariedade ao povo mexicano, que perde grande parte de seu território e de sua população nesta guerra.
Em “Os arlequins (Sátira)”, o eu poético apresenta a ironia e a contestação política ao se referir à classe política como arlequins, farsantes fantasiados que enganam a população. Com a citação de imperadores romanos, o poeta demonstra erudição e estabelece uma intertextualidade com a história. Novamente, o eu poético invoca a Musa, agora pedindo a ela que puna os arlequins pela cobiça e pelas mentiras.
O amor idealizado e não concretizado, próprio da segunda fase do romantismo, é novamente expresso no poema "Visio". Com uma melodia ritmada por aliterações, o poema é repleto de adjetivos que louvam os atributos da mulher amada. Quando esse amor se mostra uma ilusão, imediatamente o pessimismo toma conta do eu poético, que teme em relação ao futuro e busca refúgio na autopiedade.
O poema que encerra a coletânea, "Última folha", oferece um espelhamento com o primeiro, em uma espécie de estrutura circular, que termina no mesmo ponto onde começou. O poema é também endereçado à Musa, que o poeta evoca em busca de purificação e de respostas. O poeta pede à Musa, idealizada e distante, que desça do alto da montanha, como um ser mítico, uma espécie de deusa.
O foco na subjetividade do eu poético é um dos traços românticos desta coletânea de poemas, que traz uma grande variedade temática. O livro faz parte da fase de experimentações estéticas de Machado de Assis, embora seja possível identificar elementos de sua fase madura, como a análise crítica da sociedade.
Fontes de pesquisa 3
- ASSIS, Machado de. Crisálidas. In: ASSIS, Machado de. Obra completa: poesia. Organização de Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1962.
- MIASSO, Audrey Ludmilla do Nascimento. Epígrafes e diálogos na poesia de Machado de Assis. São Carlos: EdUFSCar, 2017.
- SANTOS, Sandro Ponciano dos. Faces românticas da poesia machadiana: uma leitura temática de Crisálidas. 2020. 187 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2020.
Como citar
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CRISÁLIDAS.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/obra72798/crisalidas. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7