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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Anarquistas, Graças a Deus

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 21.01.2020
1979
Anarquistas, Graças a Deus é um livro memorialístico da escritora paulistana Zélia Gattai (1916-2008). Publicado em 1979, faz um importante retrato da imigração italiana no Brasil, da formação do país e da militância política em São Paulo no início do século XX.

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Anarquistas, Graças a Deus é um livro memorialístico da escritora paulistana Zélia Gattai (1916-2008). Publicado em 1979, faz um importante retrato da imigração italiana no Brasil, da formação do país e da militância política em São Paulo no início do século XX.

O enredo se concentra na infância e adolescência da escritora, no bairro do Paraíso, e tem como personagens, além dela, seus pais (Dona Angelina e Ernesto Gattai), irmãos, avós e algumas figuras típicas da São Paulo provinciana do início do século. Organizado de maneira episódica, com capítulos curtos, o livro é um testemunho do processo de adaptação da comunidade italiana ao Brasil.

A obra reconstrói um ambiente caracterizado pelo ativismo anarquista de origem italiana. Ganha destaque o episódio da Colônia Santa Cecília, uma comunidade experimental anarquista, da qual o avô de Zélia tinha participado. Com uma linguagem fluida, e com humor, o livro não se concentra numa vivência pessoal enclausurada na subjetividade, mas se insere num período histórico marcado por tensões e transformações sociais. Pelo olhar atento de Zélia, ganham nitidez a paisagem e o contexto sociopolítico de uma São Paulo que começa a abandonar os aspectos de cidade pequena e a ganhar ares de grande metrópole.

Em prefácio à obra, Jorge Amado afirma que Anarquistas é “um livro pleno de calor humano. Escrito sem pretensões de fazer literatura ⎼ pretensão de literatura que quase sempre resulta em literatice”1. Para ele, com uma narrativa correntia e simples, a obra se torna uma fonte importante para compreender o crescimento do país e sua originalidade cultural.

Aludindo à potência do fator histórico na leitura da obra, a professora Arlinda Santana Santos afirma que, para além de memórias, Zélia apresenta um testemunho individual e coletivo, que tangencia os impactos de um Estado de Exceção. Segundo a estudiosa, há no livro uma exposição dos mecanismos de intolerância, da violência de um Estado que oprime, mata e aniquila subjetividades, em nome do poder.

Para a historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, o livro é uma oportunidade rara de desvendar, por meio da lembrança, ações de pessoas que, movidas por suas utopias, ajudaram a fazer história: mulheres, jovens, filhos de imigrantes italianos e outros anônimos que, por suas ideias anarquistas, antifascistas e anticlericalistas, foram considerados ameaças à ordem pública e à segurança nacional.

Com o livro, Zélia adentra um campo literário formado majoritariamente por homens e conquista um espaço importante no campo das letras. Por meio da obra, vencedora do Prêmio Paulista de Revelação Literária, em 1979, consegue expandir seu público leitor, incentivando a leitura de mulheres.

Sucesso de público e crítica, o livro é adaptado para a televisão, em minissérie escrita por Walter George Durst (1922-1997) e dirigida por Walter Avancini (1935-2001). A produção vai ao ar na Rede Globo entre 7 e 17 de maio de 1984. Posteriormente, o direito de exibição é vendido para vários países, como Argentina, Estados Unidos, Itália, Portugal e Suíça.

Anarquistas, graças a Deus torna-se uma obra marcante na literatura brasileira e um exemplo raro do encontro entre memória pessoal e testemunho da memória coletiva. Ao retratar um período histórico singular, integra as fontes de conhecimento acerca da cidade de São Paulo e do Brasil.

Notas

1. AMADO, Jorge. O livro de Zélia (Prefácio) In: GATTAI, Zélia. Anarquistas, graças a Deus. São Paulo: Cia das Letras, 2009.p. 4.

Fontes de pesquisa 6

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