Loja Forma
![Loja Forma, 1982 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2018/10/20547_70669_JPG_72.jpg)
Loja Forma, 1987
Paulo Mendes da Rocha
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Texto
A loja Forma é um estabelecimento comercial de venda de mobiliário moderno, constituído e mantido com a participação de designers imigrantes e brasileiros. Sua fundação, na cidade de São Paulo, data da década de 1950, e seu funcionamento prossegue ao longo da segunda metade do século XX.
A Forma nasce da empresa Móveis Artesanal Ltda., que funciona na capital paulista entre 1950 e 1955. Opera nas instalações fabris que pertenciam ao Studio de Arte Palma e à Fábrica de Móveis Pau Brasil, do curador italiano Pietro Maria Bardi (1900-1999), da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992) e do arquiteto italiano Giancarlo Palanti (1906-1977).
O trio repassa suas oficinas e seu quadro de funcionários especializados – na maioria, imigrantes vindos da Itália – para os designers italianos Carlo Hauner (1927-1996) e Ernesto Hauner (1931-2002). A pesquisadora Mina Warchavchik Hugerth descreve a empresa como a “pioneira no país em aliar com sucesso um escritório de projetos com linguagem moderna, um sistema de fabricação com seriação e espaços comerciais inovadores”[1].
Após a fundação da Móveis Artesanal, entram na sociedade o colecionador alemão Ernesto Wolf (1918-2003) e o arquiteto austro-argentino Martin Eisler (1913-1977) – ambos moram na Argentina desde o entreguerras. Wolf muda-se para São Paulo na década de 1940, envolve-se na organização da I Bienal de Arte em 1951 e convida o cunhado, Eisler, para fazer o projeto de interiores de seu apartamento em 1953. A execução do mobiliário desenhado por Martin Eisler é encomendada à Móveis Artesanal. Carlo Hauner gosta dos desenhos e convida-o para ser parceiro na empresa.
Ao longo dos anos, surgem diversos estabelecimentos vinculados a essa sociedade. Um deles é a Galeria Artesanal, loja de três andares para exposições de arte e venda de móveis, inaugurada no final de 1953, na Rua Barão de Itapetininga, centro de São Paulo.
Entre os proeminentes colaboradores da Móveis Artesanal está o designer carioca Sergio Rodrigues (1927-1941), que conhece Hauner em Curitiba no período em que é um dos responsáveis pelo projeto do Centro Cívico. Fazem amizade e abrem uma filial na cidade em 1953, a Móveis Artesanal Paranaense, que tem longevidade de seis meses, com muitos visitantes e poucos compradores. Em 1954, Rodrigues muda-se para São Paulo e passa a chefiar o setor de criação de arquitetura de interiores da empresa. Sua permanência na capital paulista é de apenas um ano, no qual tem contato direto com a produção fabril.
Outra profissional que se agrega à equipe é a designer e cenógrafa croata Georgia Hauner (1931). Contratada como desenhista da Móveis Artesanal em 1954, torna-se responsável pelas vitrines e pela ambientação interna da loja.
Ainda em 1954, os quatro sócios abrem outra loja na rua Augusta para venda de peças de cerâmica e objetos de decoração: esse estabelecimento é batizado de Forma. Há matérias sobre a Galeria Artesanal e a Móveis Artesanal até abril de 1955, entretanto, Sergio Rodrigues e Georgia Hauner atestam que as lojas e a assinatura dos móveis passam a empregar o nome Forma ainda em 1954. Juridicamente, a empresa Forma S.A. Móveis e Objetos de Arte é registrada em 24 de janeiro de 1956[3].
Carlo Hauner permanece no Brasil por curto período após a renomeação da empresa: ele retorna à Itália, vende suas ações ao irmão e funda uma loja também chamada Forma na cidade de Brescia, com móveis projetados e fabricados por ele. Em 1957, Ernesto e Georgia Hauner saem da empresa, permanecem um ano na Itália e, de volta ao Brasil, fundam uma companhia de estantes modulares em madeira maciça intitulada Mobilinea.
Ernesto Wolf e Martin Eisler permanecem com a Forma. Nesse período, Eisler desenha a icônica poltrona Costela, com uma estrutura metálica de finos perfis tubulares pretos que sustentam oito peças curvas de madeira – em conjunto, tem formato semelhante a uma caixa torácica. Sobre a estrutura, amarra-se uma almofada que serve de assento e encosto.
Em 1959, a Forma passa a ter a licença da firma Knoll Internacional para fabricar, com exclusividade no Brasil, móveis icônicos, desenhados por importantes nomes do design estrangeiro. Entre eles, o arquiteto húngaro-americano Marcel Breuer (1902-1981), como a cadeira Wassily; arquiteto alemão Mies van der Rohe (1886-1969), como a cadeira Barcelona; o arquiteto finlandês Eero Saarinen (1910-1961), como a mesa Saarinen, e o designer ítalo-americano Harry Bertoia (1915-1978), como a cadeira Bertoia.
Nas décadas de 1960 e 1970, a Forma estabelece um departamento nacional para desenho de mobiliário modular, com ênfase em ambientes de trabalho, liderado pela designer húngara-brasileira Adriana Adam (1946)[4] .Os projetos recebem várias premiações no Brasil, como ocorre com a linha de móveis infantis na Bienal Internacional de Desenho Industrial do Rio de Janeiro, em 1970.
A última sede da loja Forma é um projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha (1928), localizado na avenida Cidade Jardim, zona sul de São Paulo. Há uma relação direta entre o projeto arquitetônico e o detalhamento do mobiliário internacional ali apresentado, como se percebe na descrição do professor Edson Mahfuz: “A precisão está presente em todos os recantos da loja
Forma, tanto no modo em que os elementos são projetados, na coordenação entre eles, assim como nas suas junções e terminações”[5].
Desde seu período como Móveis Artesanal, a loja Forma é pioneira no mobiliário moderno no Brasil, sendo berço de proeminentes designers imigrantes e brasileiros. Desde 1959, é a principal vitrine de difusão do mobiliário internacional moderno no país.
Como citar
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LOJA Forma.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/obra70669/loja-forma. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7