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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

O Cortiço

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 07.02.2017
1890
Primeiro nome do Naturalismo no Brasil, a obra de Aluísio Azevedo (1857-1913) permanece como representante do gênero no panorama nacional, junto a outros escritores de menor envergadura, como Inglês de Sousa (1853-1918) e Adolfo Caminha (1867-1897). Contudo, a assimilação do Naturalismo na literatura brasileira não é plena. O crítico literário Á...

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Análise

Primeiro nome do Naturalismo no Brasil, a obra de Aluísio Azevedo (1857-1913) permanece como representante do gênero no panorama nacional, junto a outros escritores de menor envergadura, como Inglês de Sousa (1853-1918) e Adolfo Caminha (1867-1897). Contudo, a assimilação do Naturalismo na literatura brasileira não é plena. O crítico literário Álvaro Lins (1912-1970) chama a atenção para o fato de que “muitos dos nossos naturalistas se conservaram, ou por temperamento ou por formação, bastante ligados ao romantismo”. Algo semelhante diz a ensaísta Lúcia Miguel Pereira (1901-1959), para quem os naturalistas, na verdade, “eram românticos que se ignoravam, mas que nem por isso deformavam menos a realidade. Uns românticos mais pedantes, sem a ingenuidade dos outros”. Segundo ela, o romance O Mulato (1881) é a maior prova desse hibridismo.

Aluísio Azevedo escreve doze romances, porém apenas O Mulato, Casa de Pensão (1884) e O Cortiço (1890) têm valor literário reconhecido pela crítica. Embora o título do primeiro livro não nos remeta a uma coletividade, observa-se nas três obras o talento de Aluísio para transpor literariamente grupos sociais. No primeiro, a sociedade provinciana e escravocrata da São Luís do Maranhão do final do Império; no segundo, a rotina pequeno burguesa de uma pensão e, no terceiro, o dia a dia de um cortiço.

O romance O Cortiço tem 23 capítulos. Nos dois primeiros, acompanhamos a ascensão econômica de João Romão, que, de empregado numa venda, passa a vendeiro e dono de um cortiço, além de possuir uma pedreira. Também seguimos a trajetória da negra Bertoleza, da qual João Romão se aproxima mais por interesse que por afeto e, ainda, a vida íntima do negociante português Miranda, que compra o sobrado ao lado do cortiço. A partir do terceiro capítulo, adentramos o universo coletivo da Estalagem São Romão, conhecendo seus moradores.

Destacado logo na abertura do livro, João Romão não constitui o eixo da narrativa. Seja qual for o personagem, não se pode dizer que um deles prevaleça como existência autônoma, independente. São as relações de uns com os outros, dos moradores entre si e com aqueles que convivem com eles, que constroem o protagonista do romance: o cortiço. Nesse sentido, a convivência entre pessoas das mais variadas origens produz um retrato bastante acurado da formação social brasileira e, também, de suas contradições. Nessa convivência, a questão da raça e do meio, tão caras ao Naturalismo, ganham projeção.

O escritor Araripe Jr. (1848-1911) louva no amigo Aluísio Azevedo o fato de ele não ter abandonado, em O Cortiço, o procedimento adotado em Casa de Pensão. Segundo o crítico, “não seria desarrazoado dar a essa instituição o nome de índice da vida fluminense em literatura de cordel”. Álvaro Lins, por sua vez, aponta como a grande inovação do autor a habilidade de tratar de grupos sociais e “a de movimentar grupos e massas de homens”. Sem se desviar dessa linha de leitura, Lúcia Miguel Pereira (1901-1959) rebate, entre as críticas dirigidas a Aluísio, aquelas que o acusam de não ter criado “uma só dessas figuras que se incorporam à sociedade civil”. Para ela, a prosa do autor é mais forte quando não se detém em figuras isoladas, mas volta-se para a coletividade, pois “só recorrendo à coletividade é que atingiu em cheio a vida”.

No célebre ensaio “De cortiço a cortiço”, Antonio Candido (1918) confere maior especificidade ao romance pela comparação com outros livros – como L’Assomoir, Nana, La Joie de Vivre, do escritor francês Émile Zola (1840-1902), ressaltando as diferenças entre o Naturalismo francês e o brasileiro – e pela análise da estrutura da narrativa e dos signos de uma nação periférica que se encontram tematizados nela. Comenta o crítico: “entre a representação concreta particular (cortiço) e a nossa percepção da pobreza se interpõe o Brasil como intermediário. Essa necessidade de representar o país por acréscimo, que não se impunha a Zola em relação à França, diminui o alcance geral do romance de Aluísio, mas aumenta o seu significado específico”.

Esse olhar abrangente, capaz de fixar grupos sociais com maior objetividade é a grande contribuição do escritor para ficção brasileira, proporcionando ao leitor o que José Veríssimo (1857-1916) disse ser, embora referindo-se ao Naturalismo, “uma representação menos defeituosa da nossa vida”.

Fontes de pesquisa 8

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  • ARARIPE Jr., Tristão de Alencar. A Terra, de Emílio Zola, e O Homem, de Aluísio Azevedo. In: ARARIPE Jr., Tristão de Alencar. Obra Crítica de Araripe Jr – volume II (1888-1894). Dir. Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura: Casa de Rui Barbosa, 1960. (Textos da Língua Portuguesa Moderna, 3).
  • ARARIPE Jr., Tristão de Alencar. O mulato. In: ARARIPE Jr., Tristão de Alencar. Obra Crítica de Araripe Jr – volume I (1868-1887). Dir. Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura: Casa de Rui Barbosa, 1958. (Textos da Língua Portuguesa Moderna, 3).
  • AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. São Paulo: Martins, 1973.
  • BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 37. ed. São Paulo: Cultrix, 2000.
  • CANDIDO, Antonio. De cortiço a cortiço. In: CANDIDO, Antonio. O Discurso e a cidade. 2. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1998.
  • LINS, Álvaro. Jornal de crítica: 2. série. Rio de Janeiro: José Olympio, 1943.
  • PEREIRA, Lúcia Miguel. História da literatura brasileira: prosa de ficção (de 1870-1920). Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1988. ( Reconquista do Brasil, 2. série, v. 131).
  • VERÍSSIMO, José. História da literatura brasileira: de Bento Teixeira (1601) a Machado de Assis (1908). 5. ed. Pref. Alceu Amoroso Lima. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969. (Documentos Brasileiros, 74).

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