Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Tarde

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 23.11.2015
1919
Os poemas de Tarde (1919), de Olavo Bilac (1865-1918), reúnem-se sob um título que logo anuncia o tom crepuscular predominante nas composições. Com redação concluída no ano da morte de Bilac e publicação póstuma, o livro confirma o domínio desse parnasiano sobre o verso, e revela um sujeito às voltas com a “antevelhice”, nostálgico e mais reflex...

Texto

Abrir módulo

Os poemas de Tarde (1919), de Olavo Bilac (1865-1918), reúnem-se sob um título que logo anuncia o tom crepuscular predominante nas composições. Com redação concluída no ano da morte de Bilac e publicação póstuma, o livro confirma o domínio desse parnasiano sobre o verso, e revela um sujeito às voltas com a “antevelhice”, nostálgico e mais reflexivo do que em sua produção anterior. Na trilha dos ideais parnasianos de contenção emotiva por meio da técnica, e da descrição objetiva de cenas e objetos em contraponto à expressão desenfreada do eu lírico, o poeta desenvolve os temas de sua predileção: o amor e a beleza física da mulher; a pátria e os grandiosos eventos da história nacional; a exaltação do trabalho e do progresso. E, na esteira do conjunto da obra, então reunida em Poesias(1902) há a impressão de uma emoção singela e espontânea, mesmo que conformada aos limites da forma poética fixa.

Trata-se de uma sequência de 99 sonetos petrarquianos – todos os poemas que compõem a Tarde apresentam dois quartetos e dois tercetos, somando 14 versos, decassílabos ou dodecassílabos (alexandrinos), e rigorosamente rimados. Essa configuração tem, é claro, consequências no sentido – por ser breve, a forma impõe a concisão, de modo que o soneto normalmente assuma tendência descritiva ou argumentativa. Pode-se dizer que a inclinação para a argumentação predomina em Tarde, pois nesse título o poeta se abre, embora discretamente, para interesses mais metafísicos, que problematizam a existência humana. É o que enuncia o segundo poema, Ciclo: “Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo; / A árvore maternal levanta o fruto, / A hóstia da ideia em perfeição… Pensar!”.

No que diz respeito ao tema amoroso, ao lado de sonetos que cantam o sentimento em termos genéricos, como Oração a Cibele (“Que eu morra assim feliz, tudo de ti querendo: / Mal e bem, desespero e ideal, veneno e pomo, / Pecados e perdões, beijos puros e impuros!”), há outros como Salutaris Porta, que reflete sobre uma frustrada experiência do passado (“Feliz o idílio que não teve história! / Salvando-nos do tédio, o nosso medo / Foi uma porta de ouro para a glória!”). E a descrição da beleza feminina, se foi um meio privilegiado para os parnasianos cantarem amores de modo objetivo, aparece aqui também obscurecida: “Vê-se no espelho; e vê, pela janela, / A dolorosa angústia vespertina: / Pálido, morre o sol… Mas, ai! termina / Outra tarde mais triste, dentro dela”. Algo semelhante ocorre com relação à pátria, simplesmente exaltada (“Vivo, choro em teu pranto; e, em teus dias felizes, / No alto, como uma flor, em ti, pompeio e exulto!” – “Pátria”), louvada em aspectos particulares, caso de Música Brasileira e Anchieta, ou cantada em sua decadência: no conhecido soneto Vila Rica, dedicado a Ouro Preto, o poeta lamenta o abandono da cidade que antes crescera sob a exploração do ouro (“O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre”).

Também famoso é o soneto em que Bilac louva a “língua portuguesa”, a que chama a “última flor do Lácio”, por ter derivado do latim, originário dessa região europeia: “Amo o teu viço agreste e o teu aroma / De virgens selvas e de oceano largo / Amo-te, ó rude e doloroso idioma”. A dimensão metalinguística, que esteve sempre presente na obra do poeta, inclusive em aproximações entre a composição do verso e o trabalho do ourives, assume em Tarde o caráter de um balanço poético. Talvez questionando o posicionamento essencialmente antirromântico que marca a obra parnasiana, o sujeito lastima, em Remorso: “Versos e amores sufoquei calando, / Sem os gozar numa explosão sincera” – para enfim arrematar a sensação de desperdício com chave de ouro: “E por pudor os versos que não disse!”.

A conclusão dos sonetos em verso final com tom elevado e de efeito é outra constante. Embora se trate de recurso caro aos parnasianos de modo geral, o emprego intenso da chave de ouro constitui, para alguns críticos, sinal de que em Tarde Bilac já esgotava seus procedimentos. Mário de Andrade (1893-1945), para quem “outro nenhum existe que se lhe compare na língua”, dada a “perfeição técnica no manejo dos metros conhecidos”, mostra como esses poemas baseiam-se em procedimentos repetidos à exaustão. Para além da insistência no fecho grandiloquente, há o uso repetido das enumerações. Ainda que a enumeração paratática seja um procedimento poético comum, a recorrência na obra pode ser  observada como artifício a fim de facilmente sustentar o ritmo do verso. Muitas vezes, há também pares de versos paralelos, que podem servir de encerramento em lugar da chave de ouro: “[…] Orfeu humanizando as feras, / São Francisco de Assis pregando às aves” (Anchieta).

Assim, ao lado dos que consideram Tarde o coroamento da obra de Bilac e da poesia parnasiana no Brasil, no dizer de Wilson Martins (1921-2010), estão aqueles que apontam o declínio na produção do poeta. Em todo caso, a crítica é unânime em apontar que “em toda a história da nossa literatura”, Bilac, conforme afirma Alexei Bueno (1963), “alcançou o maior prestígio e a mais alta identificação popular jamais registrada, em plena vida e por um período duradouro”. Nem mesmo o movimento modernista, essencialmente antibilaquiano, pela liberdade formal e expressiva que buscava, deixou de reconhecer a sua importância, como atestam as palavras de Mário de Andrade.

Fontes de pesquisa 7

Abrir módulo
  • AMARAL, Amadeu. Soneto de Bilac. São Paulo: Ed. Jahu Club, 1920.
  • ANDRADE, Mário de. Olavo Bilac. In: BILAC, Olavo. Obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 37-46.
  • BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1974. 571 p.
  • BUENO, Alexei. Bilac e a poética da belle époque brasileira. In: BILAC, Olavo. Obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 15-25.
  • CANDIDO, Antonio; CASTELLO, José Aderaldo. Presença da literatura brasileira. 10. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 376-386.
  • CARVALHO, Affonso de. Bilac, o homem, o poeta, o patriota. Rio de Janeiro: José Olympio, 1942.
  • MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira. v. VI (1915-1933). Ponta Grossa: Editora UEPG, 2010. p. 155-158.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: