École Nationale Supérieure des Beaux-Arts (ENSBA)
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Histórico
A Ecole National Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes] localiza-se em um conjunto de prédios dos séculos XVII, XVIII e XIX, entre a rua Bonaparte e o cais Malaquais, em Paris. Além dos espaços dedicados às salas de aulas e ateliês (rua Bonaparte, 14), a escola conta hoje com salas de exposições e livraria (cais Malaquais, 13). A história dessa tradicional escola remonta ao desenvolvimento das instituições artísticas na França, desde a criação da Academia Real de Pintura e Escultura, em 1648, às tentativas de democratização e amplificação da formação do artista, observadas após o período revolucionário de 1789. Os princípios de igualdade e liberdade apregoados pela Revolução Francesa ecoam na política cultural dos anos subseqüentes, pautada por medidas visando a supressão das instituições monárquicas, o fim dos privilégios e o maior controle das artes pelo Estado. O projeto de uma nova academia apresentado por Jacques-Louis David (1748 - 1825) à Assembléia Nacional em 1790; o formato renovado dos salões (mais afeitos às paisagens e retratos, em função das demandas da clientela burguesa), a criação de museus e sua integração a uma rede, a qual se ligam ainda a instrução pública e o patrimônio, são todos esse elementos que sinalizam os novos tempos. A despeito das iniciativas e de seus resultados - entre eles, a criação do Instituto de França, em 1795, uma nova academia, regida por princípios republicanos -, as alterações observadas no panorama artístico são tímidas. O desenho é ainda o centro em torno do qual gravita a formação do artista, seja qual for a sua especialidade. Saber desenhar é o objetivo central das escolas de belas artes e de artes industriais que se espalham pelas diversas regiões da França, ao longo dos séculos XVIII e XIX.
A Escola Nacional Superior de Belas Artes, que conhece novo regulamento a partir de 1816, não se afasta desse ideal. Dirigida por um conselho e dividida em dois setores - pintura/ escultura e arquitetura - a escola oferece aulas diárias de desenho, que são corrigidos regularmente pelos professores. O desenho da figura humana - o nu - constitui o núcleo do ideal artístico acadêmico, alimentado pela escola. Nas palavras de Jean- Auguste Dominique Ingres (1790 - 1867), professor da instituição, "o desenho é tudo; é a arte em sua inteireza". Mas este é apenas um aspecto a aproximar a escola e o modelo acadêmico de formação artística; há outros. O formato dos concursos de admissão e o sistema de premiações permanecem os mesmos, sendo o júri formado por membros do Instituto. É mantido também o "Prêmio a Roma", que garante ao candidato - francês e com mais de 30 anos - uma estada de cinco anos na Villa Medicis. Contando com um corpo docente, em sua maioria integrante do Instituto de França, o formato da escola em seus primeiros tempos mantém o esquema de recrutamento e de formação de uma elite, que exclui as mulheres e, em boa medida, os estrangeiros. A coesão de critérios de julgamento e a orientação do gosto, por sua vez, inibem as possibilidades de inovação e de criação original.
A reforma de 1863, implementada por Napoleão III, é considerada um marco na história da instituição. Ela é fruto direto do acirramento das críticas feitas ao funcionamento da escola e à hegemonia dos acadêmicos. São atacados: o número excessivo de concursos de ingresso, o ensino esclerosado e o controle do Instituto, que comanda também os salões. Os júris dos salões, que recusam os trabalhos mais afeitos às novas tendências artísticas, são alvo privilegiado do descontentamento dos artistas. A exposição paralela de Gustave Courbet (1819 - 1877) e o "Salão dos Recusados", composto pelas 3.000 obras descartadas pelo salão de 1863, são expressão direta das tensões que atravessam a cena artística, bem como do apoio de Napoleão III aos insurgentes e a sua tentativa de intervir mais diretamente nas artes. Com a reforma, fica suprimida a tutela do Instituto, reforçam-se as disciplinas teóricas e são introduzidos os ateliês chefiados por artistas, o que garante maior diversidade de técnicas e estilos. O número de concursos preparatórios é reduzido e o júri do "Prêmio a Roma", por sua vez, torna-se independente do Instituto, reduzindo a idade do candidato (25 anos) e o tempo de permanência na Itália (4 anos).
A Escola, em 1863, reafirma o seu caráter público e a sua subordinação ao Estado, que nomeia os professores e define funções. O Conselho Superior de Belas Artes, aí criado, funciona como uma instância intermediária entre o Estado e o professorado. Escolhido por Napoleão, ele possui perfil homogêneo e, de modo geral, está ainda comprometido com a defesa dos valores estéticos acadêmicos. Os primeiros professores dos ateliês são todos acadêmicos: Alexandre Cabanel (1823 - 1889), Jean-Leon Gerôme (1824 - 1904) e Pils (pintura); Jouffrey, Dumont e Guillaume (escultura). As modalidades de recrutamento alteram-se pouco, a despeito das disposições regulamentares. Instituição fechada ao mundo exterior, às novas orientações estéticas e aos "de fora" a escola, apesar de permanecer um ideal para os que optam pela carreira artística, conhece lento aumento das candidaturas. Por exemplo, em 1873, apresentam-se 220 candidatos; em 1897, 412 e em 1917, 640. Os concursos de admissão, mantidos até 1938, funcionam como um mecanismo de expulsão, levando os artistas iniciantes a procurarem cursos privados, como a Académie Julian e a Académie de la Grande Chaumière, entre outras.
Ao longo do século XIX, mudanças são introduzidas: em 1876, por exemplo, a escola abre galerias com cópias moldadas de peças gregas e romanas; nesse mesmo ano são admitidos as mulheres e os estrangeiros. Em 1880, é iniciado o ensino associado das três artes - pintura, escultura e gravura - ainda que o desenho continue ocupando lugar importante. São introduzidos também o desenho ornamental e as artes decorativas. Os cursos teóricos se aprofundam; Hippolyte Taine (1828 - 1893) é o responsável pelas aulas de estética de 1867 a 1893. Progressivamente, novos ateliês são criados: escultura em pedra (1883), litografia, xilogravura e água-forte (1906), afresco (1919). A escola entra no século XX com mais ou menos esse formato, tendo tido suas atividades paralisadas durante a Primeira Guerra (1914-1918). O período de André Malraux (1901 - 1976) à frente do Ministério da Cultura, a partir de 1959, caracteriza-se pela implementação de um programa de democratização da arte e da cultura. Tal processo de abertura da escola e de revisão de seus modelos tradicionais encontra o seu ápice em 1968, com a supressão dos concursos, do "Prêmio a Roma", da ampliação de outras modalidades artísticas e introdução das novas tecnologias: fotografia, vídeo e mídias em geral. A Escola Nacional Superior de Belas Artes permanece ainda alternativa almejada pelos estudantes que contam hoje com os cursos de belas-artes da Sorbonne.
Exposições 1
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 3
- LAURENT, Jeanne. A propos de l'École des Beaux- Arts. Paris: École Nationale Supérieure des Beaux- Arts, 1987, 173 pp. Il. P&b.
- MONNIER, Gérard. L'art et ses institutions en France. De la revolution à nos jours. Paris: Gallimard, 1995, 462 pp [Folio Histoire].
- SEGRÈ, Monique. L'art comme institution. L'École des Beaux-Arts 19 ème siècle/ 20 ème siècle. Cachan: Les Éditions de l'Ecole Normale Supérieure de Cachan, 1993, 231 pp.
Como citar
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ÉCOLE Nationale Supérieure des Beaux-Arts (ENSBA).
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/instituicao239061/ecole-nationale-superieure-des-beaux-arts-ensba. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7