Os Satyros
Texto
O grupo é fundado em 1989 em São Paulo por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, a partir da montagem Sades ou Noites com os Professores Imorais, adaptação de textos do Marquês de Sade, que estréia em Curitiba, provocando polêmica e dividindo a crítica. A companhia assume a direção do Teatro Bela Vista, abandonado no bairro paulistano de mesmo nome.
À frente do Teatro Bela Vista, Os Satyros realizam diversas iniciativas culturais. Em maio de 1991, estréia A Proposta, inspirada em obra de Anton Tchekhov, fazendo uma crítica bem-humorada das tendências do teatro brasileiro do momento. Organiza o evento Folias Teatrais, em que o teatro fica aberto ininterruptamente durante 4 dias e 4 noites, recebendo artistas de várias partes do país.
Por ter integrantes do Paraná, a companhia, ainda que instalada em São Paulo, mantém contato estreito com a produção cultural paranaense, o que culmina na 1ª Mostra de Arte Paranaense em São Paulo, com o apoio do Teatro Guaíra, tendo mais de 50 artistas se apresentando durante 15 dias de atividade.
Com Saló, Salomé, também de 1991, de Rodolfo García Vázquez e Ivam Cabral, Os Satyros marcam presença e começam a definir uma linha própria de pesquisa. Por oito meses a sala tem lotação esgotada e o espetáculo é convidado para dois festivais: FITEI, do Porto, em Portugal, e o Festival Castillo de Niebla, Espanha, durante a EXPO de Sevilha.
Nasce assim a sede portuguesa do grupo. Instalados em Lisboa, Os Satyros produzem espetáculos e viajam por teatros na Europa, de Londres a Kiev. Em 1993 participam do Festival de Edimburgo, na Escócia, e do Festival de Avignon, na França. Em Londres, o grupo se apresenta no centro de teatro experimental Battersea Arts Centre.
Em 1994, implanta em Lisboa o Curso Livre de Interpretação para Teatro, voltado a formação de jovens atores em Portugal. Nesse período, Os Satyros produzem espetáculos de impacto como Sappho de Lesbos, de Ivam Cabral e Patrícia Aguille, e Valsa nº 6, primeira produção portuguesa do texto de Nelson Rodrigues. No mesmo ano recebem o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian para a montagem do espetáculo Os Cantos de Maldoror, inspirado na obra de Lautréamont.
A partir de 1994, voltam a trabalhar em Curitiba, desenvolvendo os projetos De Profundis, também de Ivam Cabral, e Quando Você Disse Que Me Amava, de Rodolfo García Vázquez.
Em 1996, o grupo trabalha intensamente entre Brasil e Portugal. Em Curitiba monta Prometeu Agrilhoado, inspirado em texto homônimo de Ésquilo, por Rodolfo García Vázquez, utilizando recursos multimídia, primeira parte da Trilogia Grécia Virtual, completados por Electra, em 1997, e Medea, em 1998, ambos livres adaptações da obra de Sófocles e Eurípides. Em Lisboa, realiza Woyzeck, de Georg Büchner, apresentado-se no Teatro da Trindade, e Hamlet-Machine, de Heiner Müller, no Museu da Cidade de Lisboa.
Em 1997, além da trilogia, a Companhia apresenta Killer Disney, de Philip Ridley, ambas no Teatro Guaíra. Em Lisboa, encena Divinas Palavras, de Ramón del Valle-Inclán, no Museu da Eletricidade, além do programa radiofônico Os Cantos de Portugal.
Em 1998 o grupo encena Urfaust, baseado em Goethe, por Rodolfo García Vázquez. No mesmo ano, realiza Maldoror - cuja trilha sonora é composta por Steven Severin, fundador da banda Siouxsie and the Banshees - e Medea, a partir do mito grego.
Medea apresenta-se no Teatro Glória, no Rio de Janeiro; e Os Cantos de Maldoror participa da mostra paralela do Festival de Teatro de Curitiba, além de cumprir temporada em São Paulo. Em 1999 produz, em Curitiba, A Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente; Coriolano, de William Shakespeare; e A Mais Forte, de August Strindberg e Schiller.
Em 2000 estréia em Curitiba o espetáculo A Dança da Morte, de August Strindberg, e Retábulo da Avareza, Luxúria e Morte, de Ramón del Valle-Inclán. O grupo assume a direção artística do projeto Instant Acts Against Violence and Racism, patrocinado pela instituição alemã Interkunst. No mesmo ano excursiona pela Europa com o espetáculo 50 Years Difference, com depoimentos de sobreviventes da Segunda Guerra Mundial, em uma produção da Interkunst.
A inauguração do Espaço dos Satyros em São Paulo ocorre em dezembro de 2000. O ano de 2001 inicia-se com a montagem de Quinhentas Vozes, de Zeca Corrêa Leite, dirigido por Rodolfo García Vázquez. Em agosto, o grupo apresenta em Curitiba Sappho de Lesbos e Romeu e Julieta, reapresentados, no final do ano, em São Paulo.
Em 2002 a companhia traz à cena paulistana De Profundis, texto de Ivam Cabral e direção de Rodolfo García Vázquez, baseado em Oscar Wilde, e Kaspar, de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez.
O jornalista Cristian Cancino, que já trabalhou com o grupo observa: "Resistência e tempo são palavras caras à ideologia-arte promulgada pelos Satyros em seus quase 15 anos de atuação. O grupo inicia sua trajetória com o maldito Marquês de Sade e não abandona os autores profanos, seguindo com Sappho, Lautréamont e Oscar Wilde - seus trabalhos iniciais quebravam a tradição do palco italiano/burguês e eram apresentados em lugares destinados a funções que não eram do teatro. Alia a essa estética de resistência - que no cinema faria seu paralelo com Pasolini - uma ampla pesquisa nos procedimentos do emblemático Vsévolod Meyerhold, desenvolvendo o que viria a chamar de Teatro Veloz, um conjunto de técnicas de interpretação que visam resgatar o tempo ritualista e a 'suspensão do tempo-vale-ouro capitalista' para o ator".1
Notas
1. CANCINO, Cristian. Depoimento elaborado para a Enciclopédia sobre o trabalho de Os Satyros. São Paulo, nov. 2002.
Espetáculos 54
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4/1991 - 8/1991
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8/1992 - 5/1991
Mídias (1)
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 2
- OS SATYROS. Curriculum da Companhia. Arquivos particulares. São Paulo 2001.
- VIANNA, Luiz Fernando. A claridade das alcovas. O Globo, Rio de Janeiro, 24 fev. 1994. Segundo Caderno, p. 7.
Como citar
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OS Satyros.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo388263/os-satyros. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7