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Teatro

Ballet IV Centenário

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 16.12.2020
O Ballet IV Centenário é o primeiro grupo profissional de dança de São Paulo, criado em 1953, para participar do aniversário de 400 anos da cidade, festejados no ano seguinte, sob gestão do prefeito Jânio Quadros (1917-1992). Uma comissão municipal é criada para organizar as comemorações. A formação de um balé da cidade faz parte do projeto para...

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O Ballet IV Centenário é o primeiro grupo profissional de dança de São Paulo, criado em 1953, para participar do aniversário de 400 anos da cidade, festejados no ano seguinte, sob gestão do prefeito Jânio Quadros (1917-1992). Uma comissão municipal é criada para organizar as comemorações. A formação de um balé da cidade faz parte do projeto para apresentar tendências internacionais e evidenciar a cultura brasileira.

Nesse período, a dança em São Paulo conta com a Escola Municipal de Bailado, instituição pública criada em 1940, além das academias de balé de Maria Olenewa (1896-1965) e Halina Biernacka (1914-2005) e da escola de balé moderno de Kitty Bodenheim (1912-2003), em parceria com Chinita Ullman (1904-1977). 

O maître de ballet húngaro Aurel von Milloss (1906-1988) vem da Itália para atuar como diretor, coreógrafo e professor da nova companhia. Milloss é reconhecido internacionalmente como renovador da dança na Itália. A indicação é feita pelo presidente da Associação dos Críticos Teatrais Brasileiros (ACTB), o jornalista Nicanor Miranda (1907-1990)1. Para a seleção entre os 164 bailarinos inscritos, é formada uma banca composta por Nicanor Miranda, o coreógrafo tcheco Vaslav Velchek (1896-1967) e o maestro João de Souza Lima (1898-1982). Feita a triagem, é aplicado o exame de classificação para escalonar primeiros-bailarinos, solistas, corpo de baile, estagiários de primeiro e segundo graus e aspirantes. 

A companhia inicia as atividades no dia 2 fevereiro de 1953 com o estilo técnico e o rigor disciplinar de Milloss. A bailarina italiana Lia Dell’Ara e a paulista Edith Pudelko (1927-1984) assumem as funções de primeiras-bailarinas e assistentes de Milloss. Aulas e ensaios acontecem em horário integral: a manhã é reservada para a prática da técnica clássica, e o período vespertino e noturno, para o ensaio das coreografias.

A primeira sede da companhia fica no Edifício do Trianon2, na Avenida Paulista, depois transfere-se para a Rua Florêncio de Abreu, ocupando dois andares de um edifício. No piso superior, situam-se duas salas de aula, a secretaria, a sala de Milloss, o camarim de Pudelko e o de Dell’Ara e a cantina. O piso inferior conta com dois camarins femininos, salas de costura, massagem e fisioterapia e camarim dos rapazes. 

Milloss convida a italiana Maria Ferrara para a superintendência da costura; o italiano Aldo Calvo (1906-1991) para a direção cenográfica; o italiano Nino Stinco como regente da orquestra; e a brasileira Nair Medeiros, o austríaco Luís Ellmerich (1913-1988) e Oleg Kusnecov para acompanharem as aulas e os ensaios ao piano. 

O repertório inaugural é composto de 16 coreografias, distribuídas em quatro programas. Entre as peças selecionadas, cinco são apresentadas com música e tema nacionais, obrigatoriedade estabelecida em contrato pela comissão. Motivos indígenas, folclóricos e nordestinos inspiram as seguintes obras, criadas em 1954: Uirapuru, Lenda do Amor Impossível, Fantasia Brasileira, O Guarda-Chuva e Cangaceira. Nesse período, todos os olhos estão voltados para a companhia: desde a imprensa, os críticos e o público, até a comissão, que faz visitas constantes ao prédio. A dança está na vitrine cultural da cidade, com investimento elevado para a época. Reunindo os melhores bailarinos e artistas de diferentes nacionalidades, o Ballet IV Centenário, em três anos de existência, reformula o entendimento de dança no país. 

Milloss segue o modelo da companhia Ballets Russes, do empresário russo Sergei Diaghilev (1872-1929): agrega artistas de outras áreas nas criações e explora a tendência expressionista da dança. Os temas das obras discorrem sobre aspectos polêmicos da política e sociedade ocidental. Artistas da corrente modernista brasileira, como Candido Portinari (1903-1962), Flávio de Carvalho (1899-1973) e Roberto Burle Marx (1909-1994), encarregam-se da cenografia e dos figurinos dos espetáculos, que têm músicas compostas por grandes nomes, como Heitor Villa-Lobos (1887-1959). 

A reforma do Theatro Municipal de São Paulo não é concluída para as comemorações. Por isso, a estreia da companhia em São Paulo acontece em 6 de novembro de 1954, em uma quadra de basquete adaptada, no Ginásio do Pacaembu. São apresentadas Deliciae Populi, Fantasia Brasileira e uma coreografia criada exclusivamente para o evento, Ilha Eterna, com música do compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750). Os quatro programas completos são apresentados somente no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, de 8 a 23 de dezembro de 19543.

O ano de 1955 inicia turbulento para a companhia, que não está mais confiante em sua manutenção pelo poder público. Ao retornar do Rio de Janeiro, o elenco renova o contrato4 por apenas mais seis meses. Diversos bailarinos saem da companhia e Milloss retorna à Itália, sendo substituído por Lia Dell’Ara. Definhando pouco a pouco, o grupo tenta resistir à falta de apoio da prefeitura. Alguns espetáculos do repertório voltam em cartaz em maio e junho, em Santos e na capital5

O Theatro Municipal de  São Paulo abre as portas em 16 de setembro de 1955. A comissão exige que a companhia apresente-se, participando das óperas Lo Chiavo, La Khovanstchina e La Traviata e apresentando as obras de Milloss, como Loteria Vienense, Caprichos e Bolero. A última temporada do Ballet IV Centenário é realizada em dezembro, com Petruschka e O Mandarim Maravilhoso. Sucena declara: 

Sem aviso prévio e em plena temporada, foram encerradas laconicamente suas atividades. Os componentes, ao chegar para mais uma apresentação, encontraram o teatro fechado e a drástica comunicação, sendo impedidos de retirar seus pertences pessoais, o que só foi feito dias após. 

Mesmo com vários apelos de artistas, jornalistas e público, a companhia foi extinta. “Morreu, assim, lentamente, a maior iniciativa coreográfica da América do Sul, e que talvez encontre poucos paralelos em todo o mundo”.6

Notas:

1. O coreógrafo francês Roland Petit (1924-2011) e o estadunidense Willian Dollar (1907-1986) também são contatados, mas declinam do convite feito pelo presidente da comissão.

2. O edifício é demolido em 1953, para realização da I Bienal de Arte Moderna e posterior construção do Museu de Arte de São Paulo Assis Chauteabriand (Masp).

3. Desse repertório, destacam-se Petruschka (1933), O Mandarim Maravilhoso (1942), Loteria Vienense (194?), As Quatro Estações (194?), Bolero (1943) e Caprichos (1950), que não são criações exclusivas para a companhia. Também, no Rio de Janeiro, a companhia realiza um espetáculo extra, na Semana da Marinha, com as coreografias Passacaglia, Petruschka, Indiscrições e Fantasia Brasileira.

4. O contrato inicial com os bailarinos vigora de 1º de fevereiro de 1953 até 31 de dezembro de 1954. Uma estagiária de primeiro grau recebe, em moeda da época, o valor de Cr$ 3.000,00 mensais. No ano de 1954, com um aumento salarial, um bailarino do corpo de baile recebe o valor de Cr$ 4.500,00 mensais.

5. Teatro Coliseu, em Santos, dia 29 de maio de 1955: A Ilha Eterna, Deliciae Populi e Fantasia Brasileira. Teatro Santana, em São Paulo, de 6 a 26 de junho: As Quatro Estações, O Guarda-Chuva, Loteria Vienense, Passacaglia, Sonata de Angústia, A Ilha Eterna, Uirapuru, Deliciae Populi, Indiscrições, Fantasia Brasileira, Vale da Inocência, Caprichos, Lenda do Amor Impossível e Petruschka.

6. SUCENA, Eduardo. A dança teatral no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura; Fundação Nacional de Artes Cênicas, 1989. p. 386

Espetáculos 1

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Fontes de pesquisa 11

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  • AMARAL, Glaucia (curadoria). Fantasia brasileira: o Balé do IV Centenário. Catálogo de exposição. São Paulo: Sesc, 1998.
  • AMARAL, Glaucia. Um balé antropofágico. In: AMARAL, Glaucia (curadoria). Fantasia brasileira: o Balé do IV Centenário. Catálogo de exposição. São Paulo: Sesc, 1998.
  • FAC-SÍMILE do programa do espetáculo: Ballet IV Centenário, de 6 a 15 de novembro no Ginásio do Pacaembu, 1954.
  • IV CENTENÁRIO de São Paulo – Especial Memória. Ballet do IV Centenário. Disponível em: http://www.abril.com.br/especial450/materias/ballet/index.html.
  • IV CENTENÁRIO de São Paulo – Especial Memória. Ballet do IV Centenário. Disponível em: http://www.abril.com.br/especial450/materias/ballet/index.html. Acesso em: 23 jun. 2011
  • IV CENTENÁRIO de São Paulo – Especial Memória. Ballet do IV Centenário. Disponível em: http://www.abril.com.br/especial450/materias/ballet/index.html. Acesso em: 23 jun. 2011.
  • MARIUZZO, Patricia. São Paulo, IV Centenário. Disponível em: http://www.labjor.unicamp.br/patrimonio/materia.php?id=139. Acesso em: 20 jun. 2011.
  • Pesquisa realizada no acervo do CEC (Centro de Estudos do Corpo) e no acervo particular da bailarina Neyde Rossi.
  • ROSSI, Neyde Celeste. Entrevista concedida a Ana Teixeira. São Paulo, 3 jul. 2011.
  • SUCENA, Eduardo. A dança teatral no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura: Fundação Nacional de Artes Cênicas, 1989.
  • VALIN Jr., Acacio Ribeiro. Ballet IV Centenário: emoção e técnica. In: AMARAL, Glaucia (curadoria). Fantasia brasileira: o Balé do IV Centenário. Catálogo de exposição. São Paulo: Sesc, 1998.

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