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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Em Alto Mar

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 13.07.2022
06.1985 Brasil / Bahia / Salvador – Teatro Santo Antônio
Em Alto Mar é um dos maiores êxitos da produção da Cia. de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA), nos anos 1980. Escrito em 1961 pelo dramaturgo polonês Slawomir Mrozek (1930-2013), o espetáculo em um único ato inaugura a Sala 5 do Teatro Santo Antônio, sede da Escola de Teatro da Ufba. Alguns anos depois, tem uma segunda versão com o e...

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Em Alto Mar é um dos maiores êxitos da produção da Cia. de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA), nos anos 1980. Escrito em 1961 pelo dramaturgo polonês Slawomir Mrozek (1930-2013), o espetáculo em um único ato inaugura a Sala 5 do Teatro Santo Antônio, sede da Escola de Teatro da Ufba. Alguns anos depois, tem uma segunda versão com o elenco modificado. 

A peça é uma parábola política que discute uma situação absurda: três homens (Gordo, Médio e Pequeno) estão numa embarcação improvisada, após um naufrágio. Quando acabam os mantimentos, iniciam uma discussão sobre qual dos três deve se tornar o jantar dos outros dois. Mais personagens surgem, vindos do alto mar: um carteiro, que entrega uma correspondência e é jogado de volta ao mar, e um velho criado do Gordo, que também é jogado ao mar, para não atrapalhar os planos em andamento.

Durante os 60 minutos de duração do espetáculo, o trio percorre conchavos políticos e eleições fraudulentas até a manipulação da opinião do mais fraco. Este, depois de uma estratégia de convencimento, oferece-se em sacrifício pelo bem comum. Num primeiro momento, a crise da falta de comida leva os personagens a discutir saídas para a situação. Eles decidem proceder a uma eleição direta para definir qual dos três será sacrificado. Realizam uma campanha em que cada um profere discursos representativos de seus pontos de vista, tentando convencer os demais de que não é boa opção de alimento. Depois da votação em cédulas colocadas numa panela, fica claro a fraude: a quantidade de cédulas dentro da panela/ urna é superior ao número de votantes. Gordo e Médio fazem uma aliança política e decidem convencer Pequeno a se oferecer espontaneamente. Pequeno profere um discurso sobre a brevidade da vida e os valores individuais do sacrifício. Durante este discurso, Médio se aborrece e, depois de vasculhar um baú, encontra uma lata com comida. Tenta interromper o curso dos acontecimentos, mas é impedido por Gordo que nota o quanto Pequeno está feliz em se sacrificar.

Responsável pela direção, cenografia, iluminação e figurinos do espetáculo, o diretor alemão naturalizado brasileiro, Ewald Hackler (1935), realiza uma montagem que define os rumos estéticos da produção artística da Cia. de Teatro da UFBA. Sofisticada, a cenografia apresenta uma plataforma de dimensões reduzidas sobre uma gangorra perpendicular ao palco, gerando a ilusão de que a plataforma flutua ao movimento do mar. O elenco de ambas as versões é encabeçado por Harildo Déda (1939), no papel de Gordo. Na primeira versão (1985), Bertrand Duarte (1960) atua no papel de Médio, e Júlio Góes, no de Pequeno. Este último é agraciado com o Troféu Martim Gonçalves na categoria Revelação. 

A primeira versão estreia num momento crítico da história do Brasil, logo após os movimentos populares a favor da democracia, conhecido como “Diretas Já”. De certo modo, a intriga da dramaturgia reflete aquele momento conturbado da política brasileira. 

A crítica da época entusiasma-se com o espetáculo. O diretor teatral Marcio Meirelles (1954), no jornal A Tarde, ressalta: “o elenco da Companhia da UFBA nos brinda com excelentes performances e o cenário confirma a maestria de Hackler.” Já o colunista teatral Jacques de Beauvoir escreve no jornal Correio da Bahia: “Em alto mar ganhou fascinante montagem dirigida por Ewald Hackler” [...] “que realizou um trabalho despido de artifício, objetivo, enxuto e incrivelmente bem dirigido”.

A segunda versão é apresentada em 1992, com o trio de protagonistas encabeçado por Harildo Déda, dividindo o palco com Celso Júnior (1968), no papel de Médio, e Lúcio Tranchesi no de Pequeno. Ela reflete outro momento da história política brasileira: a crise do governo de Fernando Collor de Mello (1949) e a campanha que culmina no “impeachment” do presidente. 

Nesta versão, os agentes do cenário político caracterizam as personagens. Assim, Gordo lembra a imagem de Paulo César Farias (1945-1996), tesoureiro de Collor e pivô da crise presidencial; Médio faz alusão ao presidente Collor; e Pequeno representa “os descamisados”. Na peça, a manipulação política e eleições fraudadas intensificam o caráter de parábola teatral. Os jogos de poder para manipular a opinião de Pequeno denunciam a falta de visão dos brasileiros diante das situações que lhe são impostas. Apresentam-se como “massa de manobra” de forças superiores a eles, cujos desígnios não compreendem.

A segunda versão é apresentada, no 6º Festival de Teatro Universitário de Blumenau, Santa Catarina, e recebe os prêmios de Melhor Espetáculo e Melhor Ator (Lúcio Tranchesi). Na ocasião, o Jornal de Santa Catarina afirma que a Companhia de Teatro da Universidade Federal da Bahia, “com um texto cômico e cheio de referências à política brasileira, realizou um espetáculo homogêneo, com cenário inteligente”. A crítica de teatro Eliane Lisbôa comenta, em A Notícia, que “o instigante texto do polonês Slawomir Mrozek recebe, sob direção de Ewald Hackler, uma roupagem desprovida de artifícios. Tudo no espetáculo é desnudado, o teatro é realmente teatro, numa leitura que implica a compreensão de que a fábula é apenas pretexto para muitas interrogações”. E continua, afirmando que:

"jogo de poder, de submissão, as múltiplas relações que Mrozek faz entre os personagens conduz a profundas reflexões sobre a natureza humana. A peça é uma lista de pequenas crueldades mostrando as infinitas possibilidades de corrupção do homem, o desmascaramento da política e dos falsos discursos."

Esta segunda montagem é exibida na reinauguração do Teatro Santo Antônio, depois de uma reforma.

Ficha Técnica

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Autoria
Sławomir Mrożek

Direção
Ewald Hackler

Cenografia
Ewald Hackler

Figurino
Ewald Hackler

Iluminação
Ewald Hackler

Maquiagem
Varenka Garrido / (1ª versão)

Elenco
Bertrand Duarte / O Médio (1ª versão)
Celso Júnior / O Médio (2ª versão)
Gideon Rosa / O Carteiro (2ª versão)
Harildo Déda / O Gordo
Inaldo Santana / O Velho Criado
Júlio Goes / O Pequeno (1ª versão)
Lúcio Tranchesi / O Pequeno (2ª versão)

Fontes de pesquisa 5

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  • BEAUVOIR, Jacques de. Correio da Bahia, Salvador, 17 jul. 1985.
  • JORNAL de Santa Catarina. Blumenau, 21 jul 1992. Caderno Lazer e Cultura, p 20.
  • LISBÔA, Eliane. A Notícia, Joinville, 21 jul 1992. Caderno Variedades, p. 33.
  • MEIRELLES, Márcio. A Tarde, Salvador, 25 mai 1985.
  • PROGRAMA do espetáculo EM alto mar. Salvador: Cia. de Teatro da Universidade Federal da Bahia (Ufba), jun. 1985. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Santo Antônio.

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