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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Viúva, Porém Honesta

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 14.08.2019
04.08.2012 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro – Teatro Dulcina
Viúva, Porém Honesta centra-se na personagem Ivonete, filha do influente Dr. JB de Albuquerque, diretor do jornal A Marreta. Após a morte de seu noivo, atropelado por um papa-filas (ou carrocinha de picolé), Ivonete recusa-se inexplicavelmente a “sentar”, situação que impulsiona a trama. Inconformado, seu pai recorre a um psicanalista, a uma cor...

Texto

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Espetáculo do Grupo Magiluth, com direção de Pedro Vilela. Em cena, os atores Erivaldo Oliveira (1986), Giordano Castro (1986), Lucas Torres (1982), Mário Sergio Cabral e Pedro Wagner revezam todos os papéis da trama de Nelson Rodrigues (1912-1980). Criam um jogo performático que consolida a linguagem do grupo e projetam nacionalmente o seu trabalho.

Viúva, Porém Honesta centra-se na personagem Ivonete, filha do influente Dr. JB de Albuquerque, diretor do jornal A Marreta. Após a morte de seu noivo, atropelado por um papa-filas (ou carrocinha de picolé), Ivonete recusa-se inexplicavelmente a “sentar”, situação que impulsiona a trama. Inconformado, seu pai recorre a um psicanalista, a uma cortesã e a um otorrinolaringologista. Ao trio de especialistas, soma-se, na adaptação do grupo, a personagem do Diabo, atraído pelo cheiro da viúva. O noivo morto de Ivonete é Dorothy Dalton, “o crítico teatral da nova geração”1, na verdade, um fugitivo do Serviço de Assistência aos Menores (SAM) que Dr. JB faz crítico de teatro às pressas. A personagem de Dalton – raso, mudo e homossexual – concentra todo o veneno destilado por Nelson Rodrigues contra a crítica teatral brasileira dos anos 1950.

O Magiluth o processo de montagem de Viúva, Porém Honesta em São Paulo, entre os meses de junho e julho de 2012, concomitantemente às temporadas de 1 Torto, O Canto de Gregório e Aquilo que Meu Olhar Guardou para Você na Fundação Nacional de Arte (Funarte). A direção de Pedro Vilela valoriza, ensaio a ensaio, a interpretação estereotipada dos atores e a utilização de dispositivos cênicos kitsch, levando às últimas consequências a “farsa irresponsável”2 de Nelson.

Em cena, o grupo vai ao limite do despojamento, em linguagem escrachada. Marcantes são os momentos em que os atores despejam dezenas de batatas no palco, a cada vez que a expressão “batata” é pronunciada. A piada leva o grupo a colocar em cena, também, um saco grande de batata “Ruffles” e um boneco do Sr. Batata. Em outra cena, os atores enchem um colchão de ar para que Ivonete e Dorothy Dalton vivam a sua noite de núpcias. A encenação tenta fazer crer que o elenco esqueceu o objeto, encontrado murcho no camarim. Tudo é resolvido no palco, diante do público, com os atores mantendo o jogo de cena. Quanto mais a peça se aproxima do fim, mais veloz é esse jogo, e a encenação amplifica o disparate do texto.

Para criar o clima farsesco e anárquico, a sonoplastia da peça se vale do hit dos anos 1980  “É bom para o moral”, interpretado por Rita Cadillac (1954), e do grupo espanhol Loco Mia, sucesso da mesma época. A canção “Puro Teatro”, da cantora cubana La Lupe (1936-1992), funciona como prólogo do espetáculo, oferecendo ao público uma chave para a compreensão do material encenado.

Os figurinos são propositalmente precários, acentuam a “presença performática”3 do elenco e colaboram para a visão de teatro como simulacro ou “trapaça”4. Cada um dos cinco atores veste em cena um traje básico composto por sapato social, calça de linho e suspensório (sem camisa). Sobre ele, lançam, segundo a personagem que interpretam, um único adereço, o mais óbvio e cafona possível. O público acompanha o revezamento dos atores nos papéis por meio deste adereço, pelo trejeito da voz e por um gesto de identificação. O Diabo da Fonseca, por exemplo, sempre segura um tridente de plástico, cola na testa dois esparadrapos, tem voz espessa e balança a língua para a plateia.

O cenário é composto por dezenas de cadeiras que, ao longo dos 80 minutos de duração do espetáculo, vão sendo reorganizadas, criando novos ambientes. Na cena final, são literalmente arremessadas no palco. A iluminação, também de Pedro Vilela, ressalta o aspecto decadente do conjunto, dando a ver a totalidade do jogo dos atores.

Após a estreia no Rio de Janeiro, em agosto de 2012, Viúva, Porém Honesta realiza temporadas de sucesso em São Paulo e em Recife, onde ganha, em 2013, prêmios de Melhor Espetáculo, Melhor Direção e Melhor Ator (Erivaldo Oliveira) no 19º Festival Janeiro de Grandes Espetáculos. Em 2014, a peça circula nacionalmente pelo Festival Palco Giratório do Sesc.

O mergulho na baixa-cultura leva os críticos Marco Vasques e Rubens da Cunha a classificarem a peça, por ocasião de sua apresentação na abertura do 20º Floripa Teatro – Festival Isnard Azevedo, como um “desastre”, um “acúmulo de gritos” e uma “falta completa de senso estético”5. Já Alexandre Figueiroa destaca a fidelidade com que, em meio ao caos produzido, o Magiluth trata o texto de Nelson. Segundo o crítico, isso “permite apreender a peça em sua essência autoral.” Para ele, o grupo explora em cena “uma de suas armas preferidas: brincar com as convenções e os códigos da linguagem teatral”6. A atriz e pesquisadora de teatro Lúcia Machado refere-se à montagem como uma “festa que se estende à plateia, cúmplice e partícipe da celebração [...] é como se o texto de Nelson e a performance do Magiluth oferecessem a esse público a oportunidade de ir à forra contra as opressões da realidade e da razão”7.

Notas

1. RODRIGUES, Nelson. Viúva, porém honesta. Farsa irresponsável em três atos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.

2. Idem, ibidem.

3. MENEZES, Maria Eugênia. Verdade ou ilusão? Folha de S.Paulo, São Paulo, 4 abr. 2012.

4. VILELA, Pedro. Uma farsa para o Magiluth. Diário de Pernambuco, Recife, 19 ago.,2012. [entrevista com o diretor]

5. VASQUES, Marco; CUNHA, Rubens da. Falsa e irresponsável. Notícias do Dia, Florianópolis, 7 out. 2013.

6. FIGUEIROA, Alexandre. Viúva, honesta e pop. Blog do grupo Maliguth, 26 nov. 2012. Disponível em: http://grupomagiluth.blogspot.com.br/2012/11/viuva-honesta-e-pop.html. Acesso em: 17 set. 2014.

7. MACHADO, Lúcia. A farsa, mais que irresponsável, do Magiluth. Blog do grupo Maliguth, 28 jan. 2013. Disponível em: http://grupomagiluth.blogspot.com.br/2013/01/viuva-porem-honesta-ou-farsa-mais-que.html. Acesso em: 17 set. 2014.

 

Ficha Técnica

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Fontes de pesquisa 6

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  • FIGUEIROA, Alexandre. Viúva, honesta e pop. Disponível em: < http://grupomagiluth.blogspot.com.br/2012/11/viuva-honesta-e-pop.html >. Acesso em: 17 set. 2014.
  • MACHADO, Lúcia. A farsa, mais que irresponsável, do Magiluth. Disponível em: < http://grupomagiluth.blogspot.com.br/2013/01/viuva-porem-honesta-ou-farsa-mais-que.html >. Acesso em 17 de set., 2014.
  • MENEZES, Maria Eugênia. Verdade ou ilusão? Folha de São Paulo. São Paulo, 4 abr., 2012.
  • RODRIGUES, Nelson. Viúva, porém honesta. Farsa irresponsável em três atos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.
  • VASQUES, Marco; CUNHA, Rubens da. Falsa e irresponsável. Notícias do Dia. Florianópolis, 7 out. 2013.
  • VILELA, Pedro. Uma farsa para o Magiluth. Diário de Pernambuco. Recife, 19 ago. 2012. [entrevista com o diretor].

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