Volta, Mocidade
Texto
Montagem do Teatro de Equipe, com direção de Miroel Silveira e Graça Mello. O texto de William Inge encaixa-se na tendência dramatúrgica norte-americana que, no final dos anos 1940, recria um realismo baseado em vidas vazias e sem sentido, em psicologias assentadas sobre a frustração e a nostalgia escapista.
Volta, Mocidade, como suas contemporâneas, é influenciada por dois autores do século XIX: de Henrik Ibsen, Inge retira a realidade das situações com discretas pinceladas simbolistas; de Anton Tchekhov, extrai os conflitos abafados nas entrelinhas dos diálogos.
Nos dois primeiros atos, a peça se sustenta sobre a não ação, os sentimentos disfarçados e as palavras que morrem na garganta. Cada pequeno episódio, desimportante em si mesmo, faz parte de uma cadeia poética do desencanto e da melancolia. No terceiro e último ato há uma explosão repentina e desmedida: um bêbado, depois de roubar uma garrafa, deflagra uma violenta cena de loucura, fazendo a peça tocar o melodrama pela ingenuidade da construção artística.
A encenação, pelo Teatro de Equipe, procura ser fiel ao texto, mas não tem brilho suficiente para ocultar suas falhas. O diretor e os atores não conseguem encontrar a autenticidade necessária que mostre, por trás do convencionalismo dramatúrgico, a humanidade de uma situação já gasta. O crítico Décio de Almeida Prado escreve:
"Olga Navarro, todavia, como protagonista, nunca nos comunicou totalmente a alma secreta e profunda da sua per¬sonagem, essa angústia diante da fuga da mocidade que a fazia ex¬pandir-se em falsa alegria e falsa agitação. Embora admirando a sua contagiosa simpatia humana, a sua naturalidade em cena, o seu desem¬baraço de atriz, permanecemos meros espectadores, mais propensos ao riso do que à emoção, sem sentir o drama pelo lado de dentro, na nossa própria pele.(...) Graça Melo não foi mais do que um bom ator representando uma cena de bebedeira. Some-se a essas, uma série de pequenas outras falhas, o cenário incolor, pouco pessoal, de Clóvis Garcia (tão inferior aos que ele tem realizado ultimamente), o desempenho quase indiferente de muitas 'pontas' (...), a ausência de maior caráter norte-america¬no nas roupas e nos móveis - e teremos um espetáculo apenas regular para um gênero de peça que não se contenta com nada abaixo do excelente".1
O crítico, que na apreciação do espetáculo Massacre, no ano anterior, havia considerado Graça Mello como "o mais promissor entre os encenadores brasileiros do momento", comenta sua direção, depois de afirmar que não houve evolução:
"... possui uma porção de invulgares qualidades, prejudicadas pela falta da única qualidade que talvez conseguisse fundir e vivificar todas as outras: paciência ao lidar com os pormenores materiais, capacidade de esperar até que a representação amadureça, até que a análise psicológica tenha tempo de penetrar em profundidade no ator, de se sedimentar, ganhando sutileza".2
Notas
1. PRADO, Décio de Almeida. Teatro brasileiro moderno. São Paulo: Perspectiva, 1996. p. 184-186.
2. Idem
Ficha Técnica
William Inge
Tradução
Miroel Silveira
Direção
Graça Mello
Miroel Silveira
Cenografia
Clóvis Garcia
Elenco
Fernando Mascaro / Eimo Huston
Graça Mello / Doc
Ibanez Filho / Leiteiro
Lotte Sievers / Senhora Coffman
Milton Goulart / Bruce
N. N. / Mensageiro
Olga Navarro / Lola
Serafim Gonzáles / Turk
Sylvia Orthof / Marie
Thalma de Oliveira / Ed Anderson
Fontes de pesquisa 2
- PRADO, Décio de Almeida. O teatro brasileiro moderno. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1996. (Debates, 211).
- VOLTA, MOCIDADE. Direção Miroel Silveira e Graça Mello. São Paulo, 1953. 1 folder. Programa do espetáculo, apresentado no Teatro de Alumínio em 1953.
Como citar
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VOLTA, Mocidade.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/evento398830/volta-mocidade. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7