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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Nova Objetividade

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 24.02.2017
A produção do grupo em torno do que se convencionou chamar nova objetividade [neue sachlichkeit] deve ser compreendida como um desdobramento da voga expressionista após a Primeira Guerra Mundial, 1914 - 1918, sobretudo do aspecto de crítica social que caracteriza boa parte do expressionismo alemão. Trata-se portanto de uma arte de forte acento r...

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Definição

A produção do grupo em torno do que se convencionou chamar nova objetividade [neue sachlichkeit] deve ser compreendida como um desdobramento da voga expressionista após a Primeira Guerra Mundial, 1914 - 1918, sobretudo do aspecto de crítica social que caracteriza boa parte do expressionismo alemão. Trata-se portanto de uma arte de forte acento realista que recusa as inclinações abstratas defendidas pelo grupo Die Brücke [A Ponte]. O termo é criado em 1923 por Gustav Hartlaub, quando, em carta aos jornais, manifesta a intenção de realizar uma exposição com o título Nova Objetividade, que reunisse obras referidas à "realidade positiva". A exposição ocorre dois anos depois no Kunsthalle de Munique, e dá nome a uma tendência figurativa da arte alemã das décadas de 1920 e 1930. Menos que um estilo definido ou unificado, as obras expostas em 1925 têm em comum o tom de denúncia e sátira social, a crítica mordaz à sociedade burguesa e à guerra. A dicção contestadora e crítica dessa produção leva à perseguição dos artistas pelo Estado nazista e à dissipação do movimento na década de 1930.

O pintor e gravador alemão Otto Dix (1891 - 1969) e o pintor e desenhista, também alemão, George Grosz (1893 - 1959) são considerados os dois grandes nomes dessa linhagem expressionista. A obra de Dix flagra a hipocrisia e frivolidade da sociedade berlinense do pós-guerra, como indica seu tríptico A Grande Cidade, 1927 - 1928),e a representação de personagens socialmente marginalizados, por exemplo prostitutas e trabalhadores. À condenação moral da sociedade burguesa decadente soma-se a desilusão diante dos horrores da guerra, que se torna um dos motivos centrais de sua obra. A série A Guerra, 1924, composta por cinqüenta gravuras, é considerada a mais eloqüente expressão antibelicista já produzida por um artista. No célebre Vendedor de Fósforos, 1920, Dix expõe, quase fotograficamente, o descaso dos passantes diante do sofrimento de um ex-soldado cego e paralítico. A produção dessa fase do artista constitui uma espécie de crônica ácida e indignada do ambiente alemão do período, o que vale a sua prisão em 1939 e a condenação de sua obra como arte degenerada.

Não muito distinto é o andamento da trajetória e obra de George Grosz. Marcado de perto pela experiência da  Primeira Guerra Mundial, da qual participa como membro do exército alemão, Grosz produz caricaturas e ilustrações satíricas que denunciam, não apenas as tragédias da guerra, mas a sociedade e as classes dirigentes alemãs. O tom explicitamente político de seus trabalhos se faz notar, entre outros, em A Face da Classe Dominante, 1921 e Ecce Homo, 1927. A guerra é tematizada satiricamente em desenhos como Apto para o Serviço Ativo, 1918 - onde se vê um médico declarando um esqueleto apto para o serviço militar - e em diversas telas, por exemplo, Funcionário do Estado para as Pensões dos Mutilados de Guerra, 1921, que representa uma cena citadina, em que se cruzam operários, soldados e outros personagens e, em primeiro plano, um grotesco funcionário vesgo e gordo, protótipo da mediocridade burocrática. De sua galeria de personagens urbanos fazem parte ainda prostitutas e especuladores. A denúncia do militarismo e da sociedade alemães vale a Grosz uma série de processos e um auto-exílio nos Estados Unidos, em 1933, momento em que sua obra busca outras direções. Vale observar que tanto Dix como Grosz ligam-se aos grupos dadaístas berlinenses, no início dos anos 1920, colaborando com o teatro político de Erwin Piscator (1893 - 1966), em 1928. O pintor e artista gráfico Max Beckmann (1884 - 1950), que participa da exposição de 1925, tem algumas de suas obras classificadas como ligadas à nova objetividade, pelo acento realista e tom crítico. A maior parte de sua produção distancia-se do tipo de realismo defendido por Dix e Grosz, sobretudo pela presença de alegorias e do simbolismo.

Se o impacto do expressionismo no Brasil pode ser aferido em épocas e obras variadas - por exemplo na produção de Anita Malfatti (1889 - 1964) dos anos 1915 e 1916, assim como nas obras de Oswaldo Goeldi (1895 - 1961), de Flávio de Carvalho (1899 - 1973) e de Iberê Camargo (1914 - 1994) -,  a dimensão de crítica social e política da nova objetividade se evidencia sobretudo nos trabalhos de Lasar Segall (1891 - 1957). Nos anos de sua formação alemã, Segall conviveu de perto com O. Dix e G. Grosz. As afinidades da obra de Segall com o movimento da nova objetividade são enfatizadas por parte dos críticos: o sentimento de descrença diante da sociedade alemã e da guerra transparece em boa parte de suas pinturas e gravuras dos anos 1920. Se isso é verdade, não se nota em seus trabalhos, aponta Rodrigo Naves, o tom de escárnio e ironia presente nos trabalhos dos artistas alemães.

Fontes de pesquisa 7

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  • ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. Tradução Denise Bottmann, Frederico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
  • CHILVERS, Ian (org.). Dicionário Oxford de arte. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
  • D'HORTA, Vera. Lasar Segall e o modernismo paulista. São Paulo: Brasiliense, 1984. (Antologias e biografias).
  • DICIONÁRIO da Pintura Moderna. Tradução Jacy Monteiro. São Paulo: Hemus, 1981. 380 p., il. p.b.
  • DIX, Otto. Otto Dix, 1891 - 1969. London: Tate Gallery, 1992. 230 p. il. p&b. color.
  • La nuova enciclopedia dell'arte Garzanti. Milano: Garzanti, 1986.
  • NAVES, Rodrigo. A Forma difícil: ensaios sobre arte brasileira. São Paulo: Ática, 1996.

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