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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Nova Visão

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 24.02.2017
Conceito elaborado nos anos 1920, durante a expansão industrial na Alemanha, para designar as novas possibilidades de percepção da realidade oferecidas pelas técnicas fotográficas: vista aérea, microfotografia, raio X, fotografia astronômica, múltiplas exposições, registros de raios infra-vermelhos etc. Para o artista húngaro Laszlo Moholy-Nagy ...

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Definição

Conceito elaborado nos anos 1920, durante a expansão industrial na Alemanha, para designar as novas possibilidades de percepção da realidade oferecidas pelas técnicas fotográficas: vista aérea, microfotografia, raio X, fotografia astronômica, múltiplas exposições, registros de raios infra-vermelhos etc. Para o artista húngaro Laszlo Moholy-Nagy (1895 - 1946), principal teórico da nova visão, a câmera amplia a capacidade de o ser humano ver o mundo, pois propicia imagens que até então não podem ser percebidas a olho nu.

Moholy-Nagy é ligado ao construtivismo russo e interessado na exploração criativa de técnicas industriais. Na Rússia, artistas de vanguarda engajados na revolução socialista, como El Lissitsky (1890 - 1941) e Alexander Rodchenko (1891 - 1956), vêem a fotografia como uma técnica de produção de imagens adequada ao novo mundo industrializado e socialista. A adesão à fotografia é uma maneira de romper com a pintura, que, por seu caráter de obra única, é vista como uma modalidade artística ultrapassada vinculada ao gosto burguês. A fotografia, ao contrário, é produto de uma máquina e poderia ser reproduzida indefinidamente, chegando às massas. Atuando como desenhista gráfico e fotojornalista, Rodchenko pretende criar uma visualidade distinta daquela oferecida pela pintura de cavalete. Investe em enquadramentos oblíquos e ângulos "de cima" e "de baixo", pois acredita que assim libertará o espectador de uma visão de mundo estereotipada.

Em 1923, Moholy-Nagy é convidado pelo arquiteto Walter Gropius (1883 - 1969) para lecionar na escola alemã Bauhaus, onde dissemina a ideologia construtivista e utiliza a fotografia como recurso pedagógico e técnica criativa de investigação formal. Como orientador do curso preliminar básico da escola, emprega a fotografia em estudos de textura, massa e estrutura de materiais e em pesquisas sobre noções de escala e ritmo. Instiga a experimentação dos alunos e trabalha com técnicas que até então só haviam sido utilizadas com fins científicos, como os raios X, a micro e a macrofotografia. A escola pretende abolir a hierarquia entre as belas-artes e as artes aplicadas, portanto as experiências fotográficas podem servir à publicidade, às artes gráficas ou ao desenho têxtil, por exemplo.

Em seu livro Pintura, Fotografia, Filme, 1925, oitavo volume da série Bauhaus Books, Moholy-Nagy classifica oito tipos de "visão fotográfica" que possibilitam ao homem o acesso a novas dimensões da realidade:

1. visão abstrata - proporcionada por fotogramas - fotografias feitas sem câmera, em laboratório, pela disposição de objetos sobre o papel fotossensível que, em seguida, é exposto à luz;

2. visão exata - registro convencional das aparências (exemplo.: fotorreportagem);

3. visão instantânea - congelamento do movimento;

4. visão lenta - fixação de movimentos por meio de longos tempos de exposição;

5. visão intensificada - correspondente à microfotografia e às imagens feitas com filtros que permitem o registro de comprimentos de onda invisíveis aos olhos humanos (exemplo: raios infra-vermelhos);

6. visão penetrante - raios X;

7. visão simultânea - múltiplas exposições num mesmo negativo (Moholy-Nagy considera esse processo como uma fotomontagem automática);

8. visão distorcida - manipulações químicas ou mecânicas da imagem fotográfica no laboratório e uso de lentes equipadas com prismas que provocam deformações.1

No campo da experimentação, Moholy-Nagy trabalha sobretudo com a técnica do fotograma, visto como um instrumento de estudo do fenômeno luminoso. Seu objetivo é observar efeitos de reflexão e refração, contrastes e sutis gradações de cinza gravados na superfície fotossensível. Para ele, os objetos colocados sobre o papel são "modeladores de luz".2

Segundo o artista, em primeiro lugar deve estar a liberdade de experimentação:

"O inimigo da fotografia é a convenção, as regras fixas de 'como fazer'. A salvação da fotografia vem da experimentação. O artista experimental não tem idéias preconcebidas sobre a fotografia, ele não acredita que a fotografia é somente como ela é conhecida hoje, exata repetição e representação da visão costumeira. Ele não pensa que os erros fotográficos devem ser evitados (...). Ele ousa chamar de 'fotografia' todos os resultados que podem ser alcançados com os meios fotográficos com câmera ou sem, todos os resultados dos meios fotossensíveis a químicos, à luz, calor, frio, pressão etc."3

Como os construtivistas russos, acredita na renovação da percepção como forma de transformar a sociedade e considera a arte abstrata e a nova visão como contrapartidas visuais de uma sociedade mais justa.4 Desse modo, a nova visão tem como objetivo apresentar relações óticas inusitadas com base em objetos comuns e situações cotidianas.

No entanto, a defesa da investigação constante de formas novas, sem a necessidade de aplicação prática imediata, provoca controvérsias em relação ao seu trabalho. Fotógrafos de vanguarda como Rodchenko e Renger-Patzsch (1897 - 1966) criticam o experimentalismo de Moholy-Nagy como uma atitude meramente esteticista, sem compromisso com questões sociais.

Notas

1 MOHOLY-NAGY, Laszlo. Del pigmento a la luz. In: FONTCUBERTA, Joan (ed.). Estética Fotográfica. Barcelona: Editorial Gustavo Gili S. A., 2003, p. 193.

2 NEWHALL, Beaumont. The History of Photography: from 1839 to the present. Completely revised an enlarged edition. New York: The Museum of Modern Art, 1982. p.199.

3 MOHOLY-NAGY, Lazslo. Vision in Motion. Chicago: Paul Theobald, 1947, p. 197.

4 MOHOLY-NAGY, Laszlo. La Nueva Visión y Resenha de um artista. Buenos Aires: Ediciones Infinito, 1963. p. 140.

Fontes de pesquisa 13

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  • AMAR, Pierre-Jean. História da Fotografia. Lisboa: Edições 70, 2001. 128 p., il. p&b.
  • BREUILLE, Jean-Phillippe (concepcion). Dictionaire de la Photo. Paris: Larousse, 1996.
  • COSTA, Helouise. Um olho que pensa: estética moderna e fotojornalismo. 1988. Tese (Doutorado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo- FAU/USP. São Paulo, 1998, 2v.
  • FABRIS, Annateresa. Por uma fotografia produtiva: Moholy-Nagy e a Nova Visão. Boletim n. 02, ano 2. São Paulo: Grupo de Estudos do Centro de Pesquisa de Arte e Fotografia da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 2006.
  • GERNSHEIM, Helmut. Historia gráfica de la fotografia. Barcelona: Ediciones Omega, S. A., 314 p., il. p&b, color.
  • JEFFREY, Ian. Photography. A concise history. London: Thames and Hudson, 1989. 248 p., il. p&b, color.
  • MOHOLY-NAGY, Laszlo. Del pigmento a la luz. In: FONTICUBERTA, Joan. Estética fotográfica. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2003.
  • MOHOLY-NAGY, Laszlo. La Nueva Visión y Resenha de um artista. Buenos Aires: Ediciones Infinito, 1963.
  • MOHOLY-NAGY, Laszlo. Painting, photography, film. Massachusetts: The MIT Press, Cambridge, 1967.
  • MOHOLY-NAGY, Lazslo. Vision in Motion. Chicago: Paul Theobald, 1947.
  • MÉLON, Marc. Más allá de lo real: la fotografía artística. In: LEMAGNY, Jean-Claude & ROUILLÉ, André. Historia de la Fotografia. Barcelona: Alcor: Ediciones Martínez Roca, 1988. 286 p. il. p&b; color.
  • NEWHALL, Beaumont. The History of Photography: from 1839 to the present. Completely revised and enlarged edition. New York: The Museum of Modern Art, 1982. 320 p., il. p&b.
  • SHARF, Aaron. Arte y Fotografia. Madrid: Alianza Editorial, 1994. 420 p., il. p&b.

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