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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Pontilhismo

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 28.09.2018
Técnica pictórica que se orienta a partir de um método preciso: trata-se de dividir as cores em seus componentes fundamentais. As inúmeras pinceladas regulares de cores puras que cobrem a tela são recompostas pelo olhar do observador e, com isso, recupera-se sua unidade, longe das misturas feitas na paleta. A sensação de vibração e luminosidade ...

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Definição

Técnica pictórica que se orienta a partir de um método preciso: trata-se de dividir as cores em seus componentes fundamentais. As inúmeras pinceladas regulares de cores puras que cobrem a tela são recompostas pelo olhar do observador e, com isso, recupera-se sua unidade, longe das misturas feitas na paleta. A sensação de vibração e luminosidade decorre da "mistura ótica" obtida pelos pequenos pontos de cor de tamanho uniforme que nunca se fundem, mas que reagem uns aos outros em função do olhar à distância, tal como descrito por Ogden Rood em seu tratado sobre a teoria da cor, Cromática Moderna, 1879. O termo "peinture au point" ("pintura de pontos") é cunhado pelo crítico francês Félix Fénéon (1861-1944) - um dos principais críticos de arte ligado ao movimento -, numa referência à tela Um Domingo de Verão na Grande Jatte (1886), de Georges Seurat (1859-1891). Seurat é um dos líderes da tendência artística batizada (também por Fénéon) de neo-impressionismo, cujos adeptos desenvolvem de modo científico e sistemático a técnica do pontilhismo. Tanto Seurat como Paul Signac (1863-1935) preferem falar em divisionismo, numa referência direta à divisão das cores. Apesar de usados muitas vezes como sinônimos, os termos guardam uma ligeira distância entre si: divisionismo indica mais freqüentemente a teoria, enquanto pontilhismo tende a designar a técnica propriamente dita.

O neo-impressionismo - ao mesmo tempo um desenvolvimento do impressionismo e uma crítica a ele - explicita a tentativa de um grupo de artistas de fundar a pintura sobre leis científicas da visão. Se a famosa tela de Seurat compartilha o gosto impressionista pelas pintura ao ar livre (um dia ensolarado às margens do Sena) e pela representação da luz e da cor, o resultado aponta numa outra direção. Em lugar do naturalismo e da preocupação com os efeitos momentâneos de luz, caros aos impressionistas, o quadro de Seurat expõe figuras de corte geométrico que se apresentam sobre um plano rigorosamente construído a partir de eixos horizontais e verticais. Os intervalos calculados entre uma figura e outra, as sombras formando ângulos retos e a superfície pontilhada atestam a fidelidade a um programa teórico apoiado nos avanços científicos da época. O rompimento com as linhas mestras do impressionismo verifica-se sobretudo pelo acento colocado na pesquisa científica da cor e no pontilhismo, já experimentado por Seurat em Banhistas em Asnières (1884).

O divisionismo, como quer Seurat, tem em Jean-Antoine Watteau (1684-1721) e Eugène Delacroix (1798-1863) dois reconhecidos precursores. No interior do impressionismo foi testado mais de perto por Pierre-Auguste Renoir (1841-1919) em trabalhos como Canoeiros em Chatou (1879) e por Camille Pissarro (1831-1903), que utiliza a técnica em diversos trabalhos realizados entre 1850 e 1890. Signac desenvolve o pontilhismo em boa parte de sua obra (Retrato de Félix Fénéon, 1890 e Entrada do Porto de Marselha, 1911, por exemplo). Só que em seus trabalhos os pontos e manchas se tornam mais evidentes e são dispostos de maneira mais dispersa, rompendo, nos termos do crítico Giulio Carlo Argan, a "linha melódica da cor". O nome de Maximilien Luce (1858-1941) figura como mais um adepto da escola neo-impressionista a fazer uso do pontilhismo.

O neo-impressionismo tem vida curta mas exerce influência sobre Vincent van Gogh (1853-1890) e Paul Gauguin (1848-1903), e também sobre Henri Matisse (1869-1954) e Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901). Vale lembrar que o termo divisionismo refere-se ainda a um movimento italiano da última década do século XIX e início do século XX, uma das fontes geradoras do futurismo. É possível pensar em ecos do pontilhismo nas pesquisas visuais contemporâneas, na op art e na arte cinética. No Brasil, difícil aferir uma influência direta do neo-impressionismo ou localizar pintores que fazem uso sistemático do pontilhismo. Talvez mais fácil seja pensar, de modo amplo, em reverberações das pautas impressionista e neo-impressionista entre nós, seja nas cores claras e luminosas de algumas telas de Eliseu Visconti (1866-1944) - Trigal (s.d.) por exemplo -, seja em obras de Belmiro de Almeida (1858-1935), como Efeitos ao Sol (1892).

Fontes de pesquisa 4

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  • ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. Tradução Denise Bottmann, Frederico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
  • CHILVERS, Ian (org.). Dicionário Oxford de arte. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
  • La nuova enciclopedia dell'arte Garzanti. Milano: Garzanti, 1986.
  • THOMSON, Belinda. Pós-Impressionismo. Tradução Cristina Fino. São Paulo: Cosac & Naify, 1999. 80 p., il. color. (Movimentos da arte moderna).

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