Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Maneirismo

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 19.06.2018
O maneirismo é empregado pela crítica moderna para designar a produção artística, especialmente a italiana, que tem lugar entre 1520 e 1600, isto é, entre o fim do Alto Renascimento e o início do barroco. A recuperação da noção como categoria histórica, referida a um estilo específico - que se observa no período entre guerras, sobretudo na décad...

Texto

Abrir módulo

Definição

O maneirismo é empregado pela crítica moderna para designar a produção artística, especialmente a italiana, que tem lugar entre 1520 e 1600, isto é, entre o fim do Alto Renascimento e o início do barroco. A recuperação da noção como categoria histórica, referida a um estilo específico - que se observa no período entre guerras, sobretudo na década de 1920 - não deve obscurecer sua trajetória tortuosa, marcada por imprecisões e por uma série de conotações negativas. O termo é popularizado por Giorgio Vasari (1511-1574) - ele próprio um artista do período - que fala em maniera como sinônimo de graça, leveza e sofisticação. Nos escritos posteriores de Giovanni Pietro Bellori (1613-1696) e de Luigi Lanzi (1732-1810), a noção aparece ligada à elegância artificial e à virtuosidade excessiva. Essa chave crítica de leitura, que reverbera em diversos estudos posteriores, associa maneirismo à decadência em relação à perfeição clássica representada pelas obras de Michelangelo Buonarroti (1475-1564) e Rafael (1483-1520). De acordo com essa linhagem crítica, maneirismo aparece como imitação superficial e distorcida dos grandes mestres do período anterior, como abandono do equilíbrio, da proporção e racionalidade cultivados pelo classicismo. "Vácuo entre dois cumes", "momento de cansaço e inércia que seguiu fatalmente, quase por reação ao esplêndido apogeu das artes na primeira metade do século XVI", ou "fase de crise", a história do maneirismo, indica o crítico Giulio Carlo Argan, é inseparável das avaliações negativas que rondam a noção.

Despida do sentido pejorativo a ela atribuído pela crítica até o início do século XX, a arte maneirista passa a ser pensada como um desdobramento crítico do Renascimento. O corte com os modelos clássicos se observa, entre outros, pelo rompimento com a perspectiva e com a proporcionalidade; pelo descarte da regularidade e da harmonia; pela distorção das figuras; pela ênfase na subjetividade e nos efeitos emocionais; pelo deslocamento do tema central da composição. Criada nos ambientes palacianos para um público aristocrático, a arte maneirista cultiva o estilo e a elegância formais, a beleza, a graça e os aspectos ornamentais. Aspectos maneiristas podem ser encontrados tanto na fase florentina de Michelangelo, quanto no período tardio da produção de Rafael, indicam alguns comentadores, o que leva a pensar essa produção como um desdobramento de certos problemas postos pela arte renascentista. À primeira geração maneirista ligam-se os nomes de Pontormo (1494-1557) e Fiorentino Rosso (1494-1540), em Florença; o de Domenico Beccafumi (1486-1551) em Siena; e o de Parmigianino (1503-1540), no norte da Itália. Os murais realizados por Pontormo em Certosa di Val d'Ema, 1522 e 1523 são emblemáticos das opções maneiristas. Neles não se nota nenhum recurso à perspectiva. As figuras, de proporções alongadas e modo antinatural, encontram-se dissolvidas na composição, cujo movimento é obtido pelos contrastes acentuados.

A falta de harmonia vem acompanhada por forte intensidade espiritual e expressão emocional, o que leva Erwin Panofsky (1892-1968) a localizar neles uma influência de certas obras de Albrecht Dürer (1471-1528). Procedimentos e influências semelhantes podem ser observados em trabalhos de Beccafumi, como Descent of Christ into Limbo, de 1528. Uma segunda fase do maneirismo aparece associada a trabalhos de Vasari (Allegory of the Immaculate Conception) - em que se notam influências de Michelangelo - e a obras de Agnolo Bronzino (1503-1572), como Descent into Limbo, 1552. Este trabalho, que comenta o anterior de Beccafumi, conhece nova sistematização: mais firmeza dos contornos e ênfase acentuada nos aspectos plásticos da composição. Longe da harmonia clássica, a segunda fase maneirista, nos termos de Panofsky, expõe tensões - por exemplo, as derivadas do jogo entre realidade e imaginação - que são exploradas em seguida pelo barroco.

Fora da Itália, o maneirismo é associado à obra de El Greco (1541-1614), célebre pelas figuras alongadas pintadas com cores frias que, em sua fase italiana, absorve as inspirações visionárias da obra de Jacopo Tintoretto (1519-1594). Os artistas franceses ligados à Escola de Fontainebleau conhecem o estilo maneirista por Rosso, que trabalha na decoração da Grande Galeria Real do Palácio de Fontainebleau, entre 1531 e 1540. Nos Países Baixos, o maneirismo se desenvolve principalmente por meio das obras de Bartholomaeus Spranger (1546-1611) e Hans von Aachen (1552-1615). No campo da arquitetura, o maneirismo conhece a adesão de Giulio Romano (ca.1499-1546), autor da decoração do Palazzo del Tè, iniciado em 1526, na corte de Federico Gonzaga, Mântua, e de Andrea Palladio (1508-1580), responsável por diversos projetos, entre os quais, a Igreja de San Giorgio Maggiori, em Veneza, iniciada em 1566, e o Teatro Olímpico em Vicenza, começado em 1580.

Fontes de pesquisa 7

Abrir módulo
  • ARGAN, Giulio Carlo. Clássico anticlássico. O Renascimento de Brunelleschi a Bruegel. Introdução, tradução e notas Lorenzo Mammi. São Paulo, Cia. das Letras, 1999, 497 pp. il. p&b. color.
  • CHASTEL, André. A arte italiana. Tradução de Antônio de Pádua Danesi. São Paulo, Martins Fontes, 1991, 738 pp. il.p&b. [ Coleção a].
  • CHILVERS, Ian (org.). Dicionário Oxford de arte. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
  • HAUSER, Arnold. Historia social de la literatura y el arte, II. Madrid, 420 pp, sem data [ Coleccion Punto Omega 20].
  • La nuova enciclopedia dell'arte Garzanti. Milano: Garzanti, 1986.
  • MURRAY, Linda & Murray, Peter. A Dicionary of Art and Artists. 3.ed. Great Britain: Penguin Books, 467 pp., 1968. [ Penguin References Books].
  • PANOFSKY, Erwin. What is Baroque?. In: ______. Three Essays on Style. Edited by Irving Lavin. London/Cambridge: The MIT Press, 1995, 247 pp., il. p&b.color.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: