Arquitetura colonial brasileira
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Arquitetura colonial brasileira é o nome dado ao conjunto de obras realizadas durante o período colonial brasileiro, mais precisamente entre os séculos XVI e início do século XIX. Características comuns, como tipologia dos edifícios ou técnicas construtivas, permitem datar as construções dessa época. É uma arquitetura vasta, marcada por diversos estilos arquitetônicos surgidos ao longo daqueles séculos: renascentista, maneirista, barroco, rococó e neoclássico.
O processo de colonização do território brasileiro é imposto pela Coroa portuguesa a partir de 1500. Nessa época, são realizadas obras simples, como os fortes para proteger o território de inimigos ou os entrepostos comerciais, geralmente localizados próximos à costa. Essas construções são comumente constituídas de paliçadas de madeira, sendo o Forte de São Tiago (atual Forte de São João), localizado em Bertioga e datado de 1534, a fortaleza mais antiga ainda preservada.
A partir da divisão das terras brasileiras em capitanias hereditárias concedidas aos donatários pela Coroa portuguesa em 1534, inicia-se um tímido processo de urbanização, com a formação de vilas e aglomerados urbanos. Em 1549, Tomé de Souza (1503-1579) funda a cidade de Salvador, sede do Governo Geral. É possível identificar na capital baiana traços do planejamento urbanístico português das cidades costeiras: são urbanizadas as partes mais elevadas do terreno, com construção de igrejas, edifícios institucionais e residências dos nobres, em contraposição à ocupação das regiões mais próximas da costa por infraestruturas comerciais, o que subdivide o centro urbano em uma cidade alta e uma cidade baixa. Dessa forma, o traçado urbano adapta-se ao relevo.
Durante esse período, as correntes artísticas europeias são trazidas para o Brasil, porém adaptadas aos materiais e à mão de obra locais. No primeiro momento, é comum o uso de pau a pique, técnica que entrelaça madeiras verticais presas ao solo e que preenche o encontro dessas madeiras com barro ou a taipa de pilão, técnicas que consistem em misturar o barro com pedras pequenas ou cascalhos.
De maneira geral, é possível subdividir a arquitetura colonial brasileira em duas categorias: a arquitetura urbana e a arquitetura rural. Na primeira, é possível observar uma tipologia homogênea das residências: o número de pavimentos, a área e a planta são geralmente definidos pelas legislações municipais. São casas térreas ou sobrados dispostos lado a lado, com plantas estreitas e alongadas. A arquitetura rural, por sua vez, é caracterizada pela construção de residências com ambientes mais generosos e iluminados, como chácaras, ou de infraestruturas destinadas à monocultura e exportação de produtos, como os engenhos de açúcar. Nestes estão presentes a casa grande, com diversos ambientes e varandas com alpendres, destinada para o uso das famílias mais ricas; a senzala, para a população escravizada; e a capela.
A arquitetura das igrejas se diferencia de acordo com as ordens religiosas a que pertencem: jesuítas, franciscanos, carmelitas e beneditinos. Inicialmente, as construções religiosas se resumem a capelas. Ao longo do tempo, essas edificações assumem o maneirismo português, marcado por formas geométricas básicas, poucos adornos e superfícies brancas. Um exemplo desse estilo arquitetônico é a Igreja Nossa Senhora da Graça, construída pelos jesuítas na cidade de Olinda em 1551. Esta ordem religiosa se torna a mais poderosa nos primeiros séculos de colonização e, portanto, desenvolve mais projetos em território brasileiro, geralmente constituídos pelo complexo formado de igreja, colégio e alojamentos para padres e bispos. A cidade de São Paulo, por exemplo, é fundada a partir da construção do Pátio do Colégio para catequização de indígenas, em 1554.
A partir do século XVIII, a arquitetura religiosa passa a rebuscar fachadas e interiores, influenciada tardiamente pelo barroco europeu. Surge maior interesse pelo detalhamento escultórico, pelas pinturas e pela aplicação de formas curvilíneas. A prosperidade promovida pela mineração estimula o processo de urbanização no país e inúmeros edifícios barrocos são construídos na região de Minas Gerais, grande pólo minerador da época. Os centros históricos das cidades de Mariana e Ouro Preto são emblemáticos dessa época. É desse período o arquiteto e escultor mineiro Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), grande expoente da arte colonial no país e representante dos estilos barroco e rococó. O artesão esculpe diversas fachadas de igrejas e esculturas com pedra-sabão e madeira, que caracterizam muitas das cidades mineiras.
Os princípios neoclássicos e sua busca por racionalidade e harmonia influenciam a arquitetura do Brasil em meados do século XVIII. Os detalhes decorativos dão lugar a grandes pórticos com colunas e composições simétricas. Em 1808, ano de chegada da família real ao Brasil, é construído o Real Teatro São João, no Rio de Janeiro, projeto baseado no teatro neoclássico de Lisboa.
Grande parte das obras e cidades coloniais brasileiras se descaracteriza ao longo do tempo devido à falta de organização institucional para proteção do patrimônio histórico brasileiro. Esse cenário começa a se alterar com a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1937. Muitas obras são tombadas pela instituição e reconhecidas como patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
A arquitetura colonial brasileira é multifacetada, construída por um longo período histórico. Revela aspectos sociais, econômicos e culturais da história da arte e da arquitetura brasileira e, por isso, se configura como patrimônio material e imaterial nacional.
Fontes de pesquisa 4
- BURY, John. Arquitetura e arte no Brasil Colonial. Brasília: Iphan; Monumenta, 2006. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/files/johnbury.pdf. Acesso em: 2 set. 2021.
- LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Arquitetura brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 2003.
- MOREIRA, Susanna. O que é arquitetura do Brasil Colônia. Archdaily Brasil, São Paulo, 15 fev. 2021. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/956978/o-que-e-arquitetura-do-brasil-colonia. Acesso em: 2 set. 2021.
- REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. 11.ed. São Paulo: Perspectiva, 2010.
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ARQUITETURA colonial brasileira.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/termo14376/arquitetura-colonial-brasileira. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7