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Festa do Divino Espírito Santo

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 26.10.2022
A Festa do Divino Espírito Santo é uma manifestação do catolicismo popular presente em grande parte do território nacional. Associa-se sua origem à Rainha Dona Isabel de Portugal, entre os séculos XIII e XIV, sendo introduzida no Brasil no período colonial por portugueses e por imigrantes açorianos. Refere-se à devoção ao Divino Espírito Santo e...

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A Festa do Divino Espírito Santo é uma manifestação do catolicismo popular presente em grande parte do território nacional. Associa-se sua origem à Rainha Dona Isabel de Portugal, entre os séculos XIII e XIV, sendo introduzida no Brasil no período colonial por portugueses e por imigrantes açorianos. Refere-se à devoção ao Divino Espírito Santo e à Ascensão de Jesus Cristo, assim como sua manifestação em Pentecostes1. Os elementos da festa e os estilos de devoção sofrem grande variação regional, demonstrando uma notável disponibilidade para a composição com rituais de diferentes religiões, em especial com os de matriz africana.

Os principais personagens da festa são o imperador, a imperatriz e demais membros do império, como os mordomos. Frequentemente, o enredo se concentra na celebração do imperador ou da imperatriz por meio de cortejo e pela entronização, coroação e entrega de cetro, espada e outros objetos associados ao Divino. Escolhidos pela comunidade ou irmandade meses antes – em geral ao término da festa precedente –, imperador ou imperatriz e festeiro são posições socialmente relevantes e definem os responsáveis para fornecer as condições, sobretudo em relação à alimentação, para a realização da festa. No Maranhão, imperador e imperatriz são cargos ocupados por crianças e adolescentes. Em Pirenópolis (GO), é comum que algumas famílias sejam tradicionalmente envolvidas por determinados aspectos da festa, como o Império, as folias, o levantamento do mastro, a preparação dos alimentos, a indumentária e a direção dos mais diversos rituais que compõem a Festa do Divino.

Hospitalidade e comensalidade são traços característicos da Festa do Divino. As refeições coletivas são oferecidas pelos festeiros em grandes mesas em suas próprias casas ou em espaços contíguos a elas. É de incumbência dos festeiros organizar o espaço da cozinha, assim como reunir as cozinheiras do Divino, as grandes mesas coletivas e, principalmente, acumular o alimento que será preparado e distribuído nos dias da festa.

A Festa do Divino Espírito Santo instaura uma temporalidade específica: o tempo da festa, que se contrapõe ao tempo da vida cotidiana. Seu calendário tem uma abrangência anual. Após o término, os festeiros do ano seguinte são designados e, a partir disso, iniciam-se os preparativos para a próxima festa. Habitualmente, o período com maior movimentação corresponde ao calendário litúrgico da Igreja Católica entre a Páscoa e o Pentecostes. Em muitas regiões, esse é o período em que as folias do divino iniciam suas peregrinações, os “giros”.

Munidas de violas, percussão, acordeão, e da bandeira do Divino, algumas a cavalo, outras a pé, as folias são incumbidas de convidar para a festa e arrecadar donativos à medida que circulam pelo território conectando famílias distantes por meio da devoção. Além disso, distribuem as bênçãos do Divino nas casas que acolhem os foliões. Em tais paragens, os “pousos”, as folias do Divino realizam cantorias com um estilo específico.

Uma característica marcante da Festa do Divino é a confluência de diversos rituais oriundos tanto do catolicismo popular quanto de outras religiões. Em Pirenópolis, onde é reconhecida como patrimônio cultural imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2010, a festa é composta de folias, pelas celebrações do Império, pelas cavalhadas, por mascarados, entre outras cerimônias e folguedos. Como muitos rituais do catolicismo popular no Brasil, a devoção ao Divino Espírito Santo está ligada às religiões de matriz africana em algumas regiões. Um caso notável é a ligação da Festa do Divino com o Tambor de Mina. Na Casa das Minas, em São Luiz (MA), a hierarquia da festa entra em sintonia com a da casa e, alternando-se a cada dois anos, um vodum (divindade do Tambor de Mina), é escolhido como festeiro do Divino.

A iconografia da festa se concentra nas formas de simbolização do Divino, frequentemente constituídas por um pombo branco, forma sob a qual o Divino Espírito Santo teria se manifestado no batismo de Jesus Cristo. Uma das formas mais comuns de apresentação do pombo é a pintura em um tecido vermelho erguido como uma bandeira que se deposita nos altares e é empunhada pelo alferes durante os giros das folias. Em algumas regiões destaca-se também o mastro, que, entre os rituais de levantamento e de derrubada, permanece aterrado em um lugar central da festa.

No Brasil, a Festa do Divino Espírito Santo ocorre em diversas comunidades, como entre as irmandades açorianas no Rio de Janeiro e na região Sul do país, em comunidades remanescentes de quilombos do Maranhão, Bahia, Tocantins e Minas Gerais e entre os povos caiçara do litoral sul de São Paulo e norte do Paraná. Um aspecto recorrente entre tais comunidades é a conexão da devoção ao Divino Espírito Santo e o pertencimento étnico-cultural.

A Festa do Divino Espirito Santo é uma das manifestações da cultura popular com maior abrangência e, correlativamente, com maior diversidade de expressões no território brasileiro. Nesse sentido, qualquer caracterização geral é aproximativa, de tal forma que seria necessário, antes, pensar em festas do Divino, no plural, e não em uma única manifestação.

Nota

1. Festividade católica que comemora a descida do Espírito Santos sobre os 12 apóstolos, 50 dias depois da Páscoa.

Fontes de pesquisa 5

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  • COELHO, Karina da Silva. Bandeiras, pessoas e causos: notas sobre o movimento e o território durante a Folia do Divino. Trabalho apresentado na 31a Reunião Brasileira de Antropologia. Brasília, 2018. Disponível em: https://www.31rba.abant.org.br/simposio/view?ID_SIMPOSIO=46. Acesso em: 16 jul. 2021.
  • FERRETTI, Sérgio. Querebentã de Zomadônu: Etnografia da Casa das Minas do Maranhão. São Luiz: EDUFMA, 1996.
  • GONÇALVES, José Reginaldo Santos; CONTINS, Marcia. Entre o Divino e os homens: a arte nas festas do Divino Espírito Santo. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 67-94, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ha/a/gG4skxXPfFBhTWhqXxJtmnq/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 16 jul. 2021.
  • IPHAN. Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis – Goiás. Coordenação, Yeda Barbosa. Brasília, DF: Iphan, 2017. Dossiê 17. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/dossie17_pirenopolis.pdf. Acesso em: 16 jul. 2021.
  • SOUZA, Poliana Macedo de. A festa do Divino Espírito Santo: Memória e religiosidade em Natividade – Tocantins. Porto Alegre: Editora Fi, 2017.

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