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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Realismo na literatura

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 07.02.2024
Se a primeira metade do século XIX marca o período de consolidação da consciência nacional, com o Romantismo, as décadas que se seguem trazem escritores literalmente mais "realistas", que observam e analisam a sociedade com a intenção de retratar nos textos o máximo de realidade possível. Em vez do "bom selvagem", eles flagram nas ruas cotidiana...

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Histórico
Se a primeira metade do século XIX marca o período de consolidação da consciência nacional, com o Romantismo, as décadas que se seguem trazem escritores literalmente mais "realistas", que observam e analisam a sociedade com a intenção de retratar nos textos o máximo de realidade possível. Em vez do "bom selvagem", eles flagram nas ruas cotidianas o ex-escravo sem rumo; em vez dos jovens apaixonados, observam a ociosidade dos que vivem de rendas e heranças no reinado em declínio do imperador Dom Pedro II (1825-1891); em tudo a exaltação da pátria cede espaço a uma minuciosa descrição dos fatos e das particularidades dos homens da época.

Enquanto muitas vezes o Romantismo elege o insólito, o distante e o bizarro como temas, o Realismo, por outra, prefere o terra-a-terra, a sociedade urbana como objeto de visão crítica apurada. Os autores brasileiros agem sob a influência que vem da Europa, particularmente da França, com exceção de Machado de Assis (1839-1908), leitor assíduo de Laurence Sterne e William Shakespeare. Em Portugal, o maior vulto do Realismo é o romancista Eça de Queirós (1845-1900), autor de O Crime do Padre Amaro, 1875 e O Primo Basílio, 1878.

Os modelos do passado que servem de inspiração aos românticos são preteridos em prol da vida contemporânea a ser detidamente investigada. O vocabulário é formado por uma cuidadosa escolha de palavras capazes de traduzir com simplicidade e precisão esta mesma realidade. No que toca aos romances, o pontapé inicial é dado por Manuel Antônio de Almeida, precursor do Realismo, uma vez que Memórias de um Sargento de Milícias, 1854-1855 é alternativa irônica e anti-sentimental em oposição ao idealismo romântico e ingênuo.

Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é um marco para o Realismo. O autor é sem dúvida um dos nomes mais representativos desse movimento. Nascido no Rio de Janeiro, romancista, contista, poeta, cronista, crítico literário, teatrólogo, jornalista, é um dos fundadores e o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1897. De origem humilde, começa a escrever regularmente para a imprensa, e sua excepcional maestria se mostra, mais tarde, nos romances e contos que escreve até a morte, e nos quais retrata personagens que são figuras humanas complexas, ambíguas e marcantes. Os primeiros romances têm uma linhagem mais próxima do movimento romântico, como Ressurreição, 1872, A Mão e a Luva, 1874, Helena, 1876 e Iaiá Garcia, 1878, enquanto que a fase propriamente realista equivale às obras de maior complexidade e excelência, tais como os romances Brás Cubas, 1881, Dom Casmurro, 1900, Quincas Borba, 1892, seguidas de Esaú e Jacó, 1904 e Memorial de Aires, 1908. Importante salientar, contudo, que, embora fazendo uso de processos da escola, como a aguda observação da realidade com vistas a retratar o homem, o autor vai além, uma vez que mais transfigura a realidade do que simplesmente a retrata, estando, portanto, num passo adiante de seu próprio tempo. Memórias Póstumas, por exemplo, é uma narrativa autobiográfica de um autor que, já morto, enterrado e carcomido pelos vermes, relembra a sua vida, em capítulos curtos, misturando realidade, delírio e digressões do além-túmulo.  Com um sofisticado e audacioso tratamento da forma, a obra é um passo de gigante à frente das ilusões românticas.

Fontes de pesquisa 11

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