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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Péricles

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 15.10.2024
14.08.1924 Brasil / Pernambuco / Recife
31.12.1961 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

[O Amigo da Onça], 1950
Péricles
c.i.d.

Péricles de Andrade Maranhão (Recife, Pernambuco, 1924 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1961). Caricaturista, cartunista. Publica seus primeiros desenhos na Revista do Colégio Marista do Recife, onde estuda na década de 1930. Por volta de 1942, chega ao Rio de Janeiro e ingressa nos Diários Associados de Assis Chateaubriand (1892 - 1968), por i...

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Biografia

Péricles de Andrade Maranhão (Recife, Pernambuco, 1924 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1961). Caricaturista, cartunista. Publica seus primeiros desenhos na Revista do Colégio Marista do Recife, onde estuda na década de 1930. Por volta de 1942, chega ao Rio de Janeiro e ingressa nos Diários Associados de Assis Chateaubriand (1892 - 1968), por indicação do jornalista Aníbal Fernandes, iniciando sua produção em O Guri e, pouco depois, na revista A Cigarra, onde lança seu personagem Oliveira Trapalhão. A partir de 1945, ilustra os textos de Millôr Fernandes (1923) na seção Pif-Paf da revista O Cruzeiro. Laurindo e Miriato Gostosão, são outros personagens criados por Péricles, mas o de maior sucesso é O Amigo da Onça, publicado pela primeira vez em 1943 em O Cruzeiro. Definido pelo escritor Herman Lima (1897 - 1981) como "cara de ôvo de páscoa, de grandes bugalhos em pasmo permanente à erupção da sátira incoercível, um risco de régua no nariz, perfil ausente, o bigodinho de Carlito", O Amigo da Onça é produzido por Péricles por quase 20 anos e, mesmo após a morte de seu criador, continua a ser publicado no traço de Carlos Estevão (1921 - 1970). É um personagem de extremo cinismo, movido pelo individualismo e que tem prazer em derrotar e zombar dos outros. Contrariando os códigos de comportamento em vigor, tem a simpatia dos leitores. Péricles falece no Rio de Janeiro em 1961, mas sua criação foi capaz de transpor as páginas desenhadas em O Cruzeiro e permanecer na memória visual e humorística brasileira.

Análise

O pernambucano Péricles é o criador de um dos personagens mais populares do humor gráfico brasileiro, o Amigo da Onça. Espécie de herói irônico ou "figura do homenzinho macunaímico que satiriza costumes e acontecimentos",1 o personagem encarna com olhar cínico e dissimulado o espírito de porco que se encontra em algum lugar entre o malandro carioca da Lapa e o grã-fino da vida mundana do Rio de Janeiro. Sempre alinhado, de cabelo engomado, calças pretas, paletó branco e gravata-borboleta, o Amigo da Onça está pronto para tirar vantagem de tudo, em geral colocando seus interlocutores em situações humilhantes e vexatórias.

O personagem nasce na revista ilustrada O Cruzeiro, em 1943, inspirado no quadro The Enemies of Man, da revista americana Esquire. Leão Gondim, editor da revista brasileira, tem a idéia de criar uma figura fixa e convoca o desenhista Augusto Rodrigues para dar forma ao Amigo. Contudo, seu desenho solto parece não combinar com o humor negro implacável do personagem. Então convida o jovem Péricles, recém-chegado do Recife (1942) e já colaborador em outros periódicos dos Diários Associados de Assis Chateaubriand com a série Oliveira, o Trapalhão da revista A Cigarra, para dar vida ao personagem. O homem de baixa estatura e nariz proeminente, desenhado em linhas bem-feitas e formas estilizadas, é prontamente aprovado.

Em popularidade, o Amigo da Onça tem antecedentes na história do humor gráfico brasileiro em figuras como Zé Povo, Jeca Tatu e Juca Pato. No entanto, diferentemente destes, não está associado aos oprimidos e sua luta. Ao contrário, em mais de mil páginas semanais, o Amigo da Onça assume diversos papéis sociais: é tanto o mendigo como o grã-fino, o chefe e o subalterno, o adulto e a criança, o ladrão e o policial, o retirante nordestino e o gaúcho, o náufrago e o comandante. Tal mobilidade indica a universalidade na falta de valores e na suspensão de juízo crítico que orienta o personagem. Nos quadros do Amigo da Onça o leitor defronta um mundo cuja competição permanente exige ações livres de qualquer bom sentimento para quem quer ser vencedor. Nesse sentido, os quadros de Péricles - contemporâneo do teatro de Nelson Rodrigues (1912 - 1980), do projeto desenvolvimentista e da bossa nova - ironizam as afirmações de harmonia social advindas tanto da esquerda como da direita política e testemunham um processo de deterioração de valores sociais que se querem acima de qualquer poder ou exercício de exploração de um sobre o outro.

Por suas criações, Péricles é considerado um dos responsáveis pela inovação do humorismo brasileiro. Apesar dos diversos trabalhos de alta qualidade executados ao longo da vida - por exemplo, ao lado de Millôr Fernandes (1923) durante dez anos na coluna O Pif-Paf, também na revista O Cruzeiro, ou com charges políticas -, é com a figura baixinha do Amigo da Onça que o desenhista encontra fama nacional. Após seu suicídio, em 1961, o personagem passa para as mãos de Carlos Estevão (1921 - 1970), sendo publicado até 1972.

Notas

1. Fernandes, M. In: MARANHÃO, Péricles de Andrade. A obra imortal de Péricles: O Amigo da Onça. São Paulo: Editora Busca Vida, 1988.

 

Obras 6

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Exposições 12

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Fontes de pesquisa 8

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  • FONSECA, Joaquim da. Caricatura: a imagem gráfica do humor. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1999.
  • LAGO, Pedro Corrêa do. Caricaturistas brasileiros: 1836-1999. Rio de Janeiro: Sextante Artes, 1999.
  • LIMA, Herman. História da caricatura no Brasil IV. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1963.
  • MARANHÃO, Péricles de Andrade. A obra imortal de Péricles: O Amigo da Onça. Prefácio de Millôr Fernandes. São Paulo: Editora Busca Vida, 1988.
  • MARANHÃO, Péricles de Andrade. Péricles e O Amigo da Onça: 1943 - 1961: uma interpretação do personagem em seu 40º aniversário. São Paulo: MAC, 1983. , il. p&b.
  • MARANHÃO, Péricles de Andrade. Péricles e o amigo da onça: 1943 - 1961: uma interpretação do personagem em seu 40º aniversário. São Paulo: MAC, 1983. , il. p&b. Mp311 1983
  • SILVA, Marcos Antonio da. Prazer e poder do amigo da onça: 1943-1962. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989. 305 p., il.
  • TRAÇO, Humor & Cia. Curadoria Denise Mattar; versão em inglês Angela Melim. São Paulo: FAAP, 2003.

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