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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Luiz Alfredo Garcia-Roza

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.09.2024
19.09.1936 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
16.04.2020 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Luiz Alfredo Garcia-Roza (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1936 – idem, 2020). Romancista, psicanalista, professor e filósofo. Destaca-se por consolidar o gênero policial na literatura brasileira, em uma série de romances protagonizados no bairro de Copacabana pelo detetive Espinosa, homem culto e solitário que investiga um crime diferente a cada...

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Luiz Alfredo Garcia-Roza (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1936 – idem, 2020). Romancista, psicanalista, professor e filósofo. Destaca-se por consolidar o gênero policial na literatura brasileira, em uma série de romances protagonizados no bairro de Copacabana pelo detetive Espinosa, homem culto e solitário que investiga um crime diferente a cada livro. Espinosa torna-se o principal personagem das obras do escritor.

Na década de 1960, forma-se em filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e, enquanto finaliza sua graduação em psicologia, torna-se professor dessa instituição, onde, em 1988, ajuda a criar o Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica. A proposta curricular do curso é inovadora no Brasil, por dar lugar às diversas linhas teóricas da psicanálise e por não se restringir a análises clínicas, aplicações de métodos e estudos de caso. Com 60 anos, o professor abandona a universidade para se dedicar unicamente à literatura.

Em seu primeiro romance, O Silêncio da Chuva (1996), Garcia-Roza apresenta aos leitores o detetive Espinosa, figura central de praticamente todos os seus livros. O nome do personagem faz alusão ao filósofo holandês Benedito de Espinosa (1632-1677), conhecido pela racionalidade e pelo empirismo. O personagem Espinosa é um delegado com senso firme de justiça e de ordem social, apegado a valores éticos e a suas próprias convicções. Morador do bairro Peixoto, em Copacabana, vive sozinho num apartamento antigo, entre livros e fotografias da ex-esposa e do filho.

Embora não seja a primeira narrativa criminal da literatura brasileira, O Silêncio da Chuva é reconhecido como a obra literária que consolida o gênero policial no país. Nessa história, Espinosa investiga o assassinato de um empresário em um edifício do centro da cidade. Prestigiado por público e crítica, o livro recebe os prêmios Nestlé e Jabuti. O autor prossegue com a série de novelas policiais protagonizadas por Espinosa: em Uma Janela em Copacabana (2001), o personagem investiga os assassinatos de dois agentes de segurança e descobre uma trama de corrupção que envolve policiais e políticos.

Sua obra é inspirada no contista norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849), fundador da narrativa de mistério. Garcia-Roza explora a identidade de policiais e criminosos, buscando explicar as motivações da violência nos centros urbanos. O autor destaca a geografia do Rio de Janeiro, com suas ruas largas, esquinas movimentadas, vielas em declive e galerias subterrâneas, relacionando-a com as ações dos personagens (crimes, perseguições, investigações etc.).

Segundo Garcia-Roza, o mistério das grandes cidades é um fator atrativo para a ficção detetivesca. Após cometer um delito, o criminoso pode se tornar anônimo na multidão. Cabe ao detetive perseguir essas individualidades e revelar seus segredos. Espinosa aparece em todos os livros do escritor, com exceção de Berenice Procura (2005). Nesta narrativa, uma taxista de 34 anos apura a morte de uma travesti na praia de Copacabana, enquanto lida com conflitos em sua família.

Uma das linhas de pesquisa sobre sua obra enfatiza a contribuição do romancista no campo das narrativas policiais. Seus livros têm todos os elementos tradicionais da ficção policial: o crime, as pistas, o processo investigativo e a conclusão. O desvendar do crime se assemelha a um enigma. No decorrer da perícia, o narrador desloca o roteiro literário para o entorno do ato central, revelando pormenores da ação e dos agentes. Mesmo após a conclusão das investigações, certas chaves de leitura permanecem em aberto. Essa formatação narrativa é explicada por uma frase de Poe, utilizada como epígrafe no romance de Garcia-Roza intitulado Na Multidão (2007): “A essência de todo crime permanece irrevelada”. Dessa forma, o autor afasta sua narrativa do estilo lógico e coerente usado pelo escritor britânico Arthur Conan Doyle (1859-1930), criador do personagem Sherlock Holmes.

Outra linha de pesquisa se debruça sobre as características do personagem Espinosa. Seu perfil, desenhado ao longo da série de romances, é visto como uma representação do homem pós-moderno, pois sua experiência é marcada por conflitos identitários. Culto e elegante, o inspetor passa longas horas em seu apartamento vazio, rememorando frustrações. Divorciado, envolve-se esporadicamente em relações fortuitas. Outros hábitos pessoais, como a leitura de romances e a apreciação de vinhos, representam a solidão do homem contemporâneo. O universo interior do protagonista é explorado em sua atuação profissional. Garcia-Roza associa a identidade do delegado de polícia à sua capacidade de esclarecer as circunstâncias do crime investigado. Essa rede de confrontações psicológicas e factuais é o vértice com base no qual o enredo se organiza.

Em 2006, recebe o título de professor emérito da UFRJ. Em 2015, ministra uma palestra sobre romance policial na Academia Brasileira de Letras, que reconhece sua importância para o gênero na literatura brasileira.

Além da relevância conquistada pelos aspectos estilísticos de sua produção literária, Luiz Alfredo Garcia-Roza torna-se uma referência para a compreensão da violência que acomete os centros urbanos. Nesse processo, o personagem Espinosa torna-se uma importante figura da tradição literária nacional.

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