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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Ranchinho

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 09.08.2024
07.01.1923 Brasil / São Paulo / Oscar Bressane
02.02.2003 Brasil / São Paulo / Assis
Sebastião Theodoro Paulino da Silva (Oscar Bressane, São Paulo, 1923 - Assis, São Paulo, 2003). Pintor e desenhista. Filho de agricultores, muda-se com a família para Assis, São Paulo, após a morte do pai em 1925. Analfabeto e apresentando desvios comportamentais, somente aos 24 anos consegue o primeiro trabalho, auxiliando na produção de garapa...

Texto

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Sebastião Theodoro Paulino da Silva (Oscar Bressane, São Paulo, 1923 - Assis, São Paulo, 2003). Pintor e desenhista. Filho de agricultores, muda-se com a família para Assis, São Paulo, após a morte do pai em 1925. Analfabeto e apresentando desvios comportamentais, somente aos 24 anos consegue o primeiro trabalho, auxiliando na produção de garapa. Com a morte do seu patrão e protetor, João Romero, conhecido como João Garapeiro, passa a sobreviver como catador de papéis, latas e garrafas, morando em ranchos abandonados, o que lhe vale o apelido de Ranchinho. É incentivado pelo escritor José Nazareno Mimessi (1925-1991), fundador do Museu de Arte Primitiva de Assis, a aprender técnicas de guache e acrílica sobre aglomerado de madeira.

Realiza várias individuais, entre 1974 e 1976, no Clube Recreativo de Assis; em 1975, no Centro de Artes da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, e em 1981, no SESC Bauru, São Paulo. Em 1982, expõe ainda na galeria Brasiliana, e, em 1988, na Galeria de Arte Paulo Vasconcelos, em São Paulo. Participa da 12ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1973, e da Bienal Nacional 76, também em São Paulo.

É premiado na 1ª Exposição de Artes Plásticas de Assis, em 1971; no 1º Salão de Artes Plásticas de Assis, em 1980; na Mostra Nacional de Arte Ingênua e Primitiva, na Galeria de Arte SESC de Piracicaba, em 1987; e na 4ª Bienal Naïfs do Brasil, no SESC Piracicaba, São Paulo, em 1998, participando ainda das edições de 1994, 2000 e 2002 da mesma mostra.

Em 1978, torna-se personagem principal de um filme super-8 realizado por Antônio Carlos L. Belotto. Na Cidade do México, participa das exposições Pintores Populares y 3 Grabadores de Brasil, no Instituto Nacional de Belas Artes, e Pintura Primitiva de Brasil, no Museu Carrillo Gil, ambas em 1980.

Apresenta telas na mostra Gente da Terra e na exposição 10 anos de Paço das Artes em 1980 e 1981, respectivamente, no Paço das Artes, em São Paulo. Na mesma cidade, integra as mostras Brasiliana: o homem e a terra, na Pinacoteca do Estado, em 1988; Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal, em 2000; e Pop Brasil: a arte popular e o popular na arte, no Centro Cultural Banco do Brasil - CCBB, em 2002. Apresenta trabalhos em várias mostras de arte ingênua no interior do estado de São Paulo, entre 1978 e 1994.

Análise

A bibliografia sobre o pintor Ranchinho enfatiza com frequência o autodidatismo do artista, bem como sua dificuldade desde a infância com o ensino formal e seu desconhecimento de obras de arte eruditas, aproximando-o da produção dita naïf ou popular.

Entretanto, o conjunto de sua obra demonstra se tratar de um pintor que dialoga com a tradição à sua maneira, atualizando sua fatura, utilizando a perspectiva e buscando referências fora de sua realidade cotidiana.

É interessante observar ainda a inserção do próprio Ranchinho como personagem nas suas composições. Ele aparece, às vezes, como passageiro, como ator, projetado na tela do cinema, ou como espectador de um filme do comediante Amácio Mazzaropi (1912 - 1981) - ator que imortaliza a figura do jeca. Dessa forma, o pintor demonstra interesse pela identidade do caipira, indicando inclusive compreender a sua dimensão como representação - na tela da pintura ou do cinema.

A temática de Ranchinho aponta tanto para o mundo rural do interior paulista, como para as cenas urbanas. São frequentes figuras de mulheres que lavam roupas na bica de água, recolhem o milho no paiol, socam café no pilão, fazem artesanato, alimentam os animais, costuram e cozinham. Entre os temas urbanos, estão cenas da Assis antiga, onde passa a maior parte de sua vida - a igreja, a prefeitura, o cinema, o museu -; da Assis e de outras cidades na atualidade - a televisão, o cinema, o avião, o trem, São Paulo, parques de diversão e o circo.

Ranchinho dedica várias pinturas a aspectos do circo. Em Sem Título, 1980, na qual retrata um palhaço que brinca com um adestrador de cavalos no picadeiro, ensaia um tratamento em perspectiva e a presença marcante do desenho sob a pincelada rápida, aplicada com agilidade e que foge à contenção da linha em diversos momentos.

Em seus trabalhos, são recorrentes gatos, galinhas, sapos, lagartos e cobras, muitas vezes agigantados. O uso de dimensões avantajadas para acentuar os protagonistas das cenas, faz pensar numa dimensão simbólica de proporções. O leão também aparece, porém nem sempre no ambiente circense; está, às vezes, ameaçando mulheres. Esse dado leva a crer que Ranchinho não se limita apenas à observação dos animais de seu convívio no campo, diferentemente de outros pintores populares, mas trabalha com imagens coletadas em revistas e jornais, nos quais provavelmente escolhe referências que extravasam a realidade de seu entorno.

No que concerne à técnica de sua pintura, a obra de Ranchinho costuma ser interpretada como uma espécie de "impressionismo expressionista". Apesar de não haver qualquer ligação entre o pintor e esses movimentos artísticos, a associação serve como forma de descrever a configuração formal dos trabalhos. Em A Chuva (s.d.), por exemplo, a paisagem - figuras humanas, cerca, árvores - parece diluir-se por meio das pinceladas evidentes, curtas, soltas e justapostas. Apenas uma das paredes da casa central da composição permanece intacta: uma forma definida que se destaca pelo tipo distinto de fatura.

Ranchinho faz uso variado dos expedientes pictóricos: alguns trabalhos sugerem alguma profundidade, outras composições são planas; as cores utilizadas nem sempre correspondem à realidade. Segundo comentadores, não costumava fazer retoques e o trabalho final é produzido rapidamente, apesar de o pintor realizar tanto esboços como estudos de cor previamente.

Exposições 25

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Fontes de pesquisa 21

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  • ALMEIDA Júnior. Almeida Júnior um artista revisitado. Texto Aracy Amaral, Maria Cecília França Lourenço; apresentação Marcos Mendonça, Emanoel Araújo; curadoria Emanoel Araújo; fotografia Nelson Kon, Fritz Simons; projeto gráfico Cláudio Filus. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2000. 52 p. il. p&b, color.
  • ARDIES, Jacques. A Arte naif no Brasil. São Paulo: Empresa das Artes, 1998.
  • BIENAL NAÏFS DO BRASIL (2. : 1994 : Piracicaba, SP). Bienal Brasileira de Arte Naif. Piracicaba: Sesc, 1994.
  • BRASILIANA: o homem e a terra. Apresentação de Bete Mendes e Lourdes Cedran. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1988.
  • D'AMBROSIO, Oscar. O Van Gogh feliz: vida e obra do pintor Ranchinho de Assis. São Paulo: Editora da Unesp, 2008.
  • D'AMBRÓSIO, Oscar Alejandro Fabian. Um mergulho no Brasil Naif: A Bienal Naifs do Brasil do SESC Piracicaba 1992 a 2010. 202f. Tese (Doutorado em Educação, Arte e História da Cultura) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2013.
  • DRÄNGER, Carlos (coord.). Pop Brasil: arte popular e o popular na arte. Curadoria Paulo Klein; tradução João Moris, Beatriz Karan Guimarães, Maurício Nogueira Silva. São Paulo: CCBB, 2002. SPccbb 2002/pb
  • E-mail enviado por Amélia Landiosi em 17 fev. 2002.O Artista Ranchinho, Sebastião Theodoro Paulino da Silva, faleceu as 23 Hs do dia 02/02/2003 no Hospital Regional da cidade de Assis, estado de S. Paulo, onde estava internado desde o dia 16/01/2003, foi vitima de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Dados extraidos do Jornal Local - Voz da Terra do dia 04/02/2003-Terça Feira. Não catalogada
  • GALERIA Permanente Cultura - Marília: acervo. Marília: Galeria Permanente Cultura - Marília, 1990. il. color.
  • JOSÉ Assunção, José Coimbra, Nilson Pimenta, Ranchinho, Vidal e Zica Bergami. Rio de Janeiro: Galeria Cesar Aché, 1981.
  • MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte Popular. Curadoria Emanoel Araújo, Frederico Pernambucano de Mello; tradução Grant Ellis, Izabel Murat Burbridge, John Norman, Paulo Henriques Britto. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo : Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
  • MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte Popular. Curadoria Emanoel Araújo, Frederico Pernambucano de Mello; tradução Grant Ellis, Izabel Murat Burbridge, John Norman, Paulo Henriques Britto. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo : Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.
  • O DESENHO na linguagem primitiva. São Paulo: Paço das Artes, 1982. il. color.
  • O TRABALHO na pintura popular. Apresentação de Roberto Rugiero. São Paulo: Museu da Casa Brasileira, 1982.
  • OUTUBRO mês da pintura ingênua brasileira. Apresentação de Celso Egreja. Texto de Iracema Arditi. São Paulo: MASP, 1988.
  • PINTORES populares y 3 grabadores de Brasil. Mexico: Instituto Nacional de Bellas Artes, 1980.
  • RANCHINHO. Apresentação de Roberto Rugiero. São Paulo: Galeria Brasiliana, 1982.
  • RANCHINHO. Ranchinho. Sao Paulo: Galeria Brasiliana, 1982. il. p. b. color.
  • RANCHINHO. Ranchinho. São Paulo, SP: Galeria de Arte Paulo Vasconcelos, 1988. 1 folha dobrada, il. color.
  • SILVA, Marta Dantas da. De olho no passado: a pintura de Ranchinho. 1997. 120 f. Dissertação (Mestrado - História) - Universidade Estadual Paulista (Unesp) - Assis, 1997.
  • SILVA, Marta Dantas da. De olho no passado: a pintura de Ranchinho. 1997. 120 f. Dissertação (Mestrado - História) - Universidade Estadual Paulista (Unesp) - Assis, 1997. T751.981 S5866d

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