Ely Macuxi
Texto
Ely Ribeiro de Sousa (Uiramutã, Roraima, 1961 – Manaus, Amazonas, 2021). Professor, escritor, ativista indígena. Pertencente ao povo Macuxi, a trajetória profissional de Ely Macuxi é marcada pela defesa dos direitos dos povos da floresta e pela salvaguarda dos saberes originários na educação indígena.
Natural da comunidade do Matucura, localizada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, ao norte do estado de Roraima, muda-se para Manaus em meados da década de 1970. Durante a infância, aprende as tradições de seu povo, valores que o acompanham durante toda a vida e são a matéria basilar da luta que empreende como ativista e professor. Na capital amazonense se estabelece com a família e constrói sua formação voltada ao respeito das culturas tradicionais e à garantia de acesso a uma educação ancorada nos conhecimentos dos povos indígenas. No fim da década de 1980, gradua-se em Filosofia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), instituição onde também conclui especialização em Etnodesenvolvimento, e mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia, em 2008. Em fevereiro de 2021, recebe postumamente o segundo título de mestre pela mesma universidade, dessa vez no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social, pela dissertação Relações interétnicas em contexto urbano, trabalho que analisa o protagonismo, as ações e os limites institucionais encontrados pela Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime) na implementação de políticas públicas nos territórios indígenas urbanizados.
Por mais de trinta anos, atua como professor das disciplinas de História e Filosofia na Secretaria de Educação de Manaus, onde ajuda a criar e coordenar o primeiro Núcleo de Educação Escolar Indígena do município. Por seu trabalho diligente como educador, passa a integrar o Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena do Amazonas, prestando assessoria técnica e pedagógica para a formação de professores indígenas, além de atuar como consultor em editoração e publicação de livros didáticos para a rede de educação indígena pública amazonense. Nos primeiros anos da década de 2000, integra o Projeto Pira-Yawara, programa de formação de professores indígenas do estado do Amazonas, atuando nas comunidades indígenas do Alto Rio Negro, em especial no município amazonense São Gabriel da Cachoeira.
Reconhecido desde a juventude como bom orador e contador de histórias, emprega essa habilidade para auxiliar no restabelecimento de conexões entre as populações indígenas habitantes dos contextos urbanos da capital amazonense e as concepções tradicionais de vida em coletividade e interação horizontal com a floresta. Junto de organizações como a Coordenação das Organizações da Amazônia Brasileira (Coiab), busca fortalecer o pertencimento indígena de comunidades que, pela precarização do acesso ao território, tornam-se urbanizadas e empobrecidas.
Seu empenho em reivindicar a garantia de direitos e a implementação de políticas públicas que atendam às demandas dessas comunidades o leva a participar, ainda na década de 2000, de eventos regionais e nacionais pela demarcação e homologação de terras indígenas. Em um desses eventos, na cidade de São Paulo, é convidado pelo escritor Daniel Munduruku (1964) para apresentação pública de histórias e mitos do povo Macuxi. Sua destreza narrativa é reconhecida por agentes do meio literário e, em 2010, publica pela Editora Paulinas o livro Ipaty, o curumim da selva. A obra, destinada ao público infanto-juvenil, é narrada por um menino indígena que vive nas terras fronteiriças do Brasil e da Venezuela, território de origem do povo Macuxi, e fala sobre a vida na floresta em meio a costumes, lendas e saberes de seu povo, além de abordar poeticamente a beleza do convívio respeitoso entre os seres humanos e a natureza.
A pesquisadora e professora Ana Lúcia Liberato Tettamanzy (1963) analisa a escrita de Ely Macuxi publicada também em artigos acadêmicos1 e considerada como parte de uma produção plural da crítica literária e da literatura indígena brasileira contemporânea. Essa produção textual é fundamental para a autodefinição e a autonomia dos povos indígenas diante do racismo, da violência e dos apagamentos a que estão submetidos no Brasil. Para a pesquisadora, a obra do escritor “define as recentes escritas ameríndias como uma reinvenção justamente sobre o elemento coercitivo que se impôs há mais de cinco séculos sobre os povos originários. [...] O autor formula um conceito original – o de poesia-práxis – para dar conta da dimensão política das ações e realizações desses povos”2.
O trabalho pedagógico, político, social e literário empreendido em defesa dos povos indígenas da Amazônia é reflexo do sentimento de pertença de Ely Macuxi a seu povo e do respeito pelos saberes dos povos originários que constituem o Brasil. A contribuição intelectual e artística do escritor se inscreve de maneira significativa no esforço contínuo de manter viva e digna a identidade indígena brasileira.
Notas
1. A referência aqui apresentada está no artigo "Literatura indígena e direitos autorais" publicado no livro Literatura indígena brasileira contemporânea: criação, crítica e recepção, publicado em 2018.
2. Discussão apresentada no prefácio “Falas à espera de escuta”, do livro Literatura indígena brasileira contemporânea, op. cit.
Obras 1
Fontes de pesquisa 7
- A LITERATURA indígena de Ely Macuxi e outras histórias. [Entrevista cedida a] Julie Dorrico. Porto Velho: Literatura Indígena Contemporânea, 2020. (97 min.). Disponível em: https://youtu.be/_ux_1nnRIwY. Acesso em: 3 jun. 2022.
- MACUXI, Ely. In: ENCICLOPÉDIA de Nomes Negros e Indígenas da Antropologia. Campo Maior: Universidade Estadual do Piauí (Uespi). Disponível em: https://sites.google.com/cpm.uespi.br/enciclopedia/ely-macuxi?pli=1. Acesso em: 07 nov. 2023.
- MACUXI, Ely. Ipaty, o curumim da floresta. São Paulo: Paulinas, 2010.
- MACUXI, Ely. Literatura indígena e direitos autorais. In: DORRICO, J. et. al. (Org.). Literatura indígena brasileira contemporânea: criação, crítica e recepção. Porto Alegre: Editora Fi, 2018. Disponível em http://atempa.org.br/wp-content/uploads/2020/09/Literatura-ind%C3%ADgena-contempor%C3%A2nea-Livro-.pdf. Acesso em: 4 jun. 2022.
- PARTIU mais cedo o Ely Macuxi. Xapuri Socioambiental. [S.l.], jan. 2022. Disponível em https://www.xapuri.info/povos-da-floresta/partiu-mais-cedo-o-ely-macuxi/. Acesso em: 4 jun 2022.
- PROJETO Pira-Yawara: programa de formação de professores indígenas do estado do Amazonas. Manaus: Secretaria de Estado da Educação e Qualidade de Ensino, 1998. Disponível em https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/projeto-pira-yawara-programa-de-formacao-de-professores-indigenas-no-estado-do. Acesso em: 5 jun. 2022.
- TETTAMANZY, Ana Lúcia Liberato. Falas à espera de escuta. In: DORRICO, J. et. al. (Org.). Literatura indígena brasileira contemporânea: criação, crítica e recepção. Porto Alegre: Editora Fi, 2018. Disponível em http://atempa.org.br/wp-content/uploads/2020/09/Literatura-ind%C3%ADgena-contempor%C3%A2nea-Livro-.pdf. Acesso em: 5 jun. 2022.
Como citar
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ELY Macuxi.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa645990/ely-macuxi. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7