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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Ely Macuxi

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 04.01.2024
14.09.1961 Brasil / Roraima / Uiramutã
21.01.2021 Brasil / Amazonas / Manaus
Ely Ribeiro de Sousa (Uiramutã, Roraima, 1961 – Manaus, Amazonas, 2021). Professor, escritor, ativista indígena. Pertencente ao povo Macuxi, a trajetória profissional de Ely Macuxi é marcada pela defesa dos direitos dos povos da floresta e pela salvaguarda dos saberes originários na educação indígena.

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Ely Ribeiro de Sousa (Uiramutã, Roraima, 1961 – Manaus, Amazonas, 2021). Professor, escritor, ativista indígena. Pertencente ao povo Macuxi, a trajetória profissional de Ely Macuxi é marcada pela defesa dos direitos dos povos da floresta e pela salvaguarda dos saberes originários na educação indígena.

Natural da comunidade do Matucura, localizada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, ao norte do estado de Roraima, muda-se para Manaus em meados da década de 1970. Durante a infância, aprende as tradições de seu povo, valores que o acompanham durante toda a vida e são a matéria basilar da luta que empreende como ativista e professor. Na capital amazonense se estabelece com a família e constrói sua formação voltada ao respeito das culturas tradicionais e à garantia de acesso a uma educação ancorada nos conhecimentos dos povos indígenas. No fim da década de 1980, gradua-se em Filosofia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), instituição onde também conclui especialização em Etnodesenvolvimento, e mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia, em 2008. Em fevereiro de 2021, recebe postumamente o segundo título de mestre pela mesma universidade, dessa vez no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social, pela dissertação Relações interétnicas em contexto urbano, trabalho que analisa o protagonismo, as ações e os limites institucionais encontrados pela Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime) na implementação de políticas públicas nos territórios indígenas urbanizados.

Por mais de trinta anos, atua como professor das disciplinas de História e Filosofia na Secretaria de Educação de Manaus, onde ajuda a criar e coordenar o primeiro Núcleo de Educação Escolar Indígena do município. Por seu trabalho diligente como educador, passa a integrar o Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena do Amazonas, prestando assessoria técnica e pedagógica para a formação de professores indígenas, além de atuar como consultor em editoração e publicação de livros didáticos para a rede de educação indígena pública amazonense. Nos primeiros anos da década de 2000, integra o Projeto Pira-Yawara, programa de formação de professores indígenas do estado do Amazonas, atuando nas comunidades indígenas do Alto Rio Negro, em especial no município amazonense São Gabriel da Cachoeira.

Reconhecido desde a juventude como bom orador e contador de histórias, emprega essa habilidade para auxiliar no restabelecimento de conexões entre as populações indígenas habitantes dos contextos urbanos da capital amazonense e as concepções tradicionais de vida em coletividade e interação horizontal com a floresta. Junto de organizações como a Coordenação das Organizações da Amazônia Brasileira (Coiab), busca fortalecer o pertencimento indígena de comunidades que, pela precarização do acesso ao território, tornam-se urbanizadas e empobrecidas.

Seu empenho em reivindicar a garantia de direitos e a implementação de políticas públicas que atendam às demandas dessas comunidades o leva a participar, ainda na década de 2000, de eventos regionais e nacionais pela demarcação e homologação de terras indígenas. Em um desses eventos, na cidade de São Paulo, é convidado pelo escritor Daniel Munduruku (1964) para apresentação pública de histórias e mitos do povo Macuxi. Sua destreza narrativa é reconhecida por agentes do meio literário e, em 2010, publica pela Editora Paulinas o livro Ipaty, o curumim da selva. A obra, destinada ao público infanto-juvenil, é narrada por um menino indígena que vive nas terras fronteiriças do Brasil e da Venezuela, território de origem do povo Macuxi, e fala sobre a vida na floresta em meio a costumes, lendas e saberes de seu povo, além de abordar poeticamente a beleza do convívio respeitoso entre os seres humanos e a natureza.

A pesquisadora e professora Ana Lúcia Liberato Tettamanzy (1963) analisa a escrita de Ely Macuxi publicada também em artigos acadêmicos1 e considerada como parte de uma produção plural da crítica literária e da literatura indígena brasileira contemporânea. Essa produção textual é fundamental para a autodefinição e a autonomia dos povos indígenas diante do racismo, da violência e dos apagamentos a que estão submetidos no Brasil. Para a pesquisadora, a obra do escritor “define as recentes escritas ameríndias como uma reinvenção justamente sobre o elemento coercitivo que se impôs há mais de cinco séculos sobre os povos originários. [...] O autor formula um conceito original – o de poesia-práxis – para dar conta da dimensão política das ações e realizações desses povos”2.

O trabalho pedagógico, político, social e literário empreendido em defesa dos povos indígenas da Amazônia é reflexo do sentimento de pertença de Ely Macuxi a seu povo e do respeito pelos saberes dos povos originários que constituem o Brasil. A contribuição intelectual e artística do escritor se inscreve de maneira significativa no esforço contínuo de manter viva e digna a identidade indígena brasileira.

Notas

1. A referência aqui apresentada está no artigo "Literatura indígena e direitos autorais" publicado no livro Literatura indígena brasileira contemporânea: criação, crítica e recepção, publicado em 2018.

2. Discussão apresentada no prefácio “Falas à espera de escuta”, do livro Literatura indígena brasileira contemporânea, op. cit.

Obras 1

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