Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Élle de Bernardini

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 20.08.2024
1991 Brasil / Rio Grande do Sul / Itaqui
Registro fotográfico Marcus Leoni

Élle de Bernardini, 2020

Élle de Bernardini (Itaqui, Rio Grande do Sul, 1991). Artista visual, performer, bailarina. Muitos trabalhos de Bernardini têm como suporte a própria figura da artista ou outras estruturas que remetem ao corpo. As obras criam experiências sensoriais que se opõem às investidas contra a liberdade de gênero.

Texto

Abrir módulo

Élle de Bernardini (Itaqui, Rio Grande do Sul, 1991). Artista visual, performer, bailarina. Muitos trabalhos de Bernardini têm como suporte a própria figura da artista ou outras estruturas que remetem ao corpo. As obras criam experiências sensoriais que se opõem às investidas contra a liberdade de gênero.

Bernardini estuda balé clássico desde a infância e se torna uma das poucas bailarinas transgênero a ingressar em uma turma feminina de balé da Royal Academy of Dance de Londres (2011). Estuda Butô com os artistas japoneses Yoshito Ohno (1938-2020) e Tadashi Endo (1947), em 2012. A partir de 2015, concentra seu interesse na produção visual, mas a intensidade de sua presença cênica e a busca pelas sínteses, que a artista experimenta no Butô, marcam suas performances.

Na dança/performance Corpo à Beira da Crise (2013-2019), lutas sociais e identitárias que não se expressam verbalmente são travadas no corpo da performer. Nesse trabalho já se nota o diálogo com o conceito de “corpo falante”, investigado por Bernardini no Manifesto Contrassexual (2000), do filósofo espanhol Paul B. Preciado (1970). Ao cursar filosofia na Universidade Federal de Santa Maria – UFSM (2015), seus interesses se voltam para os pensadores que abordam a sexualidade questionando as categorias de gênero fundadas num sistema binário, masculino e feminino.

O Manifesto Contrassexual propõe sociabilidades baseadas na compreensão dos sujeitos como “corpos falantes” imbuídos de potencialidades, superando a noção de gênero. Tal discussão emerge em diferentes trabalhos da artista, como na série Formas Contrassexuais (2019). Embora tragam algo de orgânico, é difícil atribuir a tais formas um referente direto. Elas se multiplicam por superfícies maleáveis, como tecido, vinil, silicone, couro, borracha, em texturas e tonalidades orgânicas e inorgânicas.

Por trás do projeto orgânico está um código visual que representa, segundo Bernardini, as cinco principais zonas erógenas do corpo humano: pênis, vagina, escroto, seios e ânus, signos que se metamorfoseiam entre si. As cores também são codificadas, com a recorrência de diferentes tons de pele, entre rosas e azuis, culturalmente associados aos gêneros feminino e masculino, mas distanciados da interpretação corrente. A artista desdobra esse mapeamento corporal em paisagens e objetos que se aproximam da abstração.

Em alguns trabalhos, a aparência esquemática das formas contrassexuais alude a uma escrita hieroglífica. Na instalação Tumba (2020), a parede forrada por folhas de ouro inscreve os corpos dos observadores numa escritura proposta pela artista, a fim de conceder maior liberdade à sintaxe corporal dos discursos verbais e visuais. Ao ouro também é reservado o papel de atrair o observador para dentro do discurso.

O mel e as folhas de ouro que Bernardini aplica sobre si para a performance Dance with me (2018-2019) fazem referência aos trabalhos do artista alemão Joseph Beuys (1921-1986) e sua ideia de escultura social. Também contêm uma ironia sutil. Dance with me combina sentidos: a visão, o olfato, a audição despertada por um repertório de música brasileira considerado de bom gosto pelas classes mais abastadas e, principalmente, o toque, na dança com a artista. A pluralidade sensorial corresponde à diversidade dos corpos dissidentes. Com sua nudez coberta por ouro, a artista dança no espaço expositivo, jogando com a expressão popular utilizada para repudiar uma pessoa: "nem se fulano(a) estivesse coberto(a) de ouro". Bernardini responde a essa afirmação subentendida pintando-se de ouro e convidando seus interlocutores à dança, defendendo a aceitação dos corpos que se afastam da heteronormatividade.

Na série de fotoperformances A Imperatriz (2018-2019), com sua presença pictórica em vermelho, Élle ocupa espaços arquitetônicos gélidos e imponentes, representativos do poder político e cultural. Utilizando joias e roupas de alta-costura como recurso estratégico para adentrar tais espaços, que impõem determinados padrões de comportamento, a personagem criada por Élle pretende seduzir as instituições e abrir caminho para outras artistas trans. A visita a esses espaços representa uma reparação simbólica da injustiça histórica gerada pela ausência de pessoas trans nas coleções e espaços artísticos. Com a incorporação de uma fotografia da performance ao acervo da instituição, o trabalho atua sobre o próprio sistema de arte e suas estratégias de eleição. 

As obras de Bernardini dedicam-se ao tato, talvez o sentido mais capaz de provocar os limites das convenções de sociabilidade. Sexualidades e identidades ganham materialidade por meio da pele, órgão social, e por essa razão ela é tão enfatizada em muitos trabalhos da artista, como ocorre na instalação Transdialética (2020), obra que consiste numa síntese de proposições anteriores da artista e apresenta um modelo de sociabilidade não binário, propiciado pela experiência sensorial.

Explorando diferentes texturas, tantas quantas são as diferenças entre os corpos e identidades, as obras de Élle de Bernardini abordam questões políticas e de gênero por meio da atuação no campo simbólico, propondo meios para pensar a sociedade atual e para forjar uma sociedade futura, mais igualitária.

Obras 13

Abrir módulo
Reprodução fotográfica arquivo da artista

As Marcas que Carreguei

Sapatilha utilizada pela própria artista e pregos

Exposições 36

Abrir módulo

Performances 5

Abrir módulo

Mídias (1)

Abrir módulo
Élle de Bernardini – Série Cada Voz (2020)
Élle de Bernardini apresenta sua trajetória como bailarina até chegar ao Royal Ballet de Londres e, posteriormente, a mudança para as artes visuais por sua participação ser limitada em razão de seu gênero.

Suas obras dialogam com elementos da dança e discussões sobre performance de gênero. Por meio de referências da filosofia, ela fala sobre a importância de existir e marcar sua presença em tudo o que produz, em especial como mulher transexual.

ITAÚ CULTURAL
Presidente Alfredo Setubal
Diretor Eduardo Saron
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Produção de conteúdo: Camila Nader
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Produção audiovisual: Letícia Santos
Edição de conteúdo acessível: Richner Allan
Direção, edição e fotografia: Marcus Leoni
Montagem: Renata Willig
Intérprete de Libras: Florio & Fomin (terceirizada)

O Itaú Cultural (IC), em 2019, passou a integrar a Fundação Itaú para Educação e Cultura com o objetivo de garantir ainda mais perenidade e o legado de suas ações no mundo da cultura, ampliando e fortalecendo seu propósito de inspirar o poder criativo para a transformação das pessoas.

Fontes de pesquisa 8

Abrir módulo

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: