Gabriela Amaral Almeida
Texto
Gabriela Amaral Almeida (São Paulo, São Paulo, 1980). Diretora de cinema, roteirista. Seus filmes apresentam questões sociais e dramas individuais em atmosfera de terror, discutindo incômodos humanos por meio da fantasia.
Gabriela forma-se em Comunicação pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) em 2003 e, em seguida, na pós-graduação, dedica-se a pesquisas sobre literatura e cinema de horror, sobretudo à construção da atmosfera de medo e suspense nos livros do escritor estadunidense Stephen King (1947). Em 2007, forma-se em roteiro na Escuela Internacional de Cine y TV (Eictv), em San Antonio de los Baños, Cuba.
O interesse pelo terror, desenvolvido em sua pesquisa, está presente de maneira variada no trabalho da diretora, iniciado com curta-metragens. Em A Mão que Afaga (2011), Gabriela constrói o clima de suspense do filme valendo-se de baixa iluminação, poucos diálogos entre personagens e a figura de um homem fantasiado de urso, contratado por uma atendente de telemarketing [Luciana Paes (1980)] para a comemoração em casa do aniversário do filho. O curta, entretanto, não institui o terror como fundamento da narrativa: o fim da história é marcado mais pela incômoda solidão da protagonista do que por um término aterrorizante ou violento.
Em Estátua! (2014), a diretora também trabalha com sentimentos como pena e angústia, mas dessa vez define o medo como ponto central da narrativa. Nesse curta, Isabel [Maeve Jinkings (1976)] começa a trabalhar como babá da pequena Joana [Cecília Toledo]. A mãe da criança viaja a trabalho e deixa as duas sozinhas no apartamento. A menina torna-se possessiva, além de demonstrar agressividade. O espectador se penaliza pela solidão da criança, ao mesmo tempo em que descobre, com Isabel, estranhas situações que envolvem a pequena personagem.
Os trabalhos de Gabriela trazem, com frequência, o medo associado à descoberta. A narrativa leva o espectador a conhecer diferentes facetas dos personagens ao mesmo tempo que eles, quando exposto a situações extremas, se descobrem. Dramas sociais e individuais provocam desconforto, e é essa sensação que produz o terror, fazendo das obras da diretora o encontro de medos humanos com a fantasia.
Em longas-metragens, Gabriela dirige O Animal Cordial (2017), pelo qual recebe, em 2018, o prêmio de melhor direção no Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre (Fantaspoa). No filme, durante o assalto a um restaurante, o dono do estabelecimento, Inácio [Murilo Benício (1972)], rende os dois criminosos e atira em um deles. Nesse momento, a narrativa surpreende: os papéis se invertem, e Inácio, com a ajuda da garçonete Sara [Luciana Paes], torna reféns os poucos clientes do local, um funcionário da cozinha e os bandidos.
O longa associa o terror à violência e ao medo da morte física, seguindo o subgênero de terror conhecido como slasher, caracterizado por um personagem psicopata que elimina suas vítimas no decorrer da narrativa. Inácio passa o resto da noite criando uma atmosfera de medo para seus reféns, que não sabem como e quando serão assassinados.
Segundo Gabriela, o filme é uma alegoria política da sociedade que narra o desejo pela violência contra o que é diferente. Os personagens presentes no restaurante são arquétipos sociais que, durante a noite, estabelecem oposições entre si e criam a necessidade de afirmação de forças. Constata-se ao longo do filme a reprodução de preconceitos como homofobia e racismo, além da desigualdade social que divide clientes e empregados.
O Animal Cordial é a construção do terror cotidiano, a partir do qual Gabriela, sem maniqueísmos, amplifica sensações mundanas, tendo a violência como possibilidade de o ser humano lidar com situações de pressão. Assim como nos curtas-metragens, a narrativa do filme se constrói sobre as descobertas dos personagens, especialmente de Sara, que se conhece e leva o espectador a conhecê-la por meio da violência e da realização de seus desejos.
Em A Sombra do Pai (2017), a diretora traz o sobrenatural para contar a história de Dalva [Nina Medeiros] e a relação com seu pai Jorge [Julio Machado (1981)] após a morte da mãe. A menina solitária diante da indiferença do pai, incapaz de manifestar tristeza pela perda da esposa, acredita ser possível trazer a mãe de volta à vida.
A narrativa leva o espectador a questionar se Dalva tem poderes sobrenaturais ou se os acontecimentos misteriosos são frutos de sua imaginação infantil. A descoberta se coloca mais uma vez como pano de fundo das histórias de Gabriela: a menina precisa se adaptar à ausência da mãe e assumir responsabilidades da vida adulta, e seu pai, mostrar suas fragilidades diante do luto.
O tema emocional e aterrorizante exige de Gabriela a construção de dois roteiros: um completo para os atores adultos, outro exclusivo para Nina Medeiros, com linguagem acessível, para que a atriz mirim construa sua personagem como parte de uma brincadeira. A atuação da criança e sua personagem são elogiadas pela crítica.
Gabriela trabalha a fantasia como possibilidade para potencializar medos humanos, mas sem perder o horizonte da realidade. Seus filmes criam uma atmosfera de suspense e causam incômodo ao espectador para que ele identifique nos personagens os próprios estranhamentos do meio social em que vive.
Exposições 1
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10/12/2009 - 16/1/2008
Mídias (1)
Ela mostra seus cadernos com ilustrações, que a auxiliam em suas produções, em consonância com o hábito de escrever neles seus projetos, em contraponto à seriedade exigida pela escrita no computador.
A Enciclopédia Itaú Cultural apresenta a série Encontra, produzida pelo canal Arte 1. Em um bate-papo com Gisele Kato, o público é convidado a entrar nas casas e ateliês dos artistas, conhecendo um pouco mais sobre os bastidores de sua produção.
Créditos
Presidente: Milú Villela
Diretor-superintendente: Eduardo Saron
Superintendente administrativo: Sérgio Miyazaki
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Arte 1
Direção: Gisele Kato/ Ricardo Sêco
Produção: Yuri Teixeira
Edição: Tauana Carlier
Fontes de pesquisa 8
- BAUER, Diego. Entrevista: Gabriela Amaral Almeida, de ‘A sombra do Pai’. Cine Set, Amazonas, 30 abr. 2019. Disponível em: http://www.cineset.com.br/entrevista-gabriela-amaral-almeida-a-sombra-do-pai/. Acesso em: 13 ago. 2019
- CAETANO, Maria do Rosário. Entrevista Gabriela Amaral Almeida. Revista de Cinema, São Paulo, 2 maio 2019. Disponível em: http://revistadecinema.com.br/2019/05/entrevista-gabriela-amaral-almeida/. Acesso em: 13 ago. 2019
- HESSEL, Marcelo. O animal cordial. Omelete, São Paulo, 6 ago. 2018. Críticas. Disponível em: https://www.omelete.com.br/filmes/criticas/o-animal-cordial-critica. Acesso em: 12 ago. 2019
- MACEDO, Leonardo. Filme ‘O animal cordial’ é terror que não quer apenas distrair. Folha de S.Paulo, São Paulo, 14 ago. 2018. Ilustrada. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/08/filme-animal-cordial-e-terror-que-nao-quer-apenas-distrair.shtml. Acesso em: 13 ago. 2019
- METRÓPOLIS. A sombra do pai – entrevista com Gabriela Amaral | Filmes. Tv Cultura. Disponível em: https://tvcultura.com.br/videos/69019_a-sombra-do-pai-entrevista-com-gabriela-amaral-filme.html. Acesso em: 12 ago. 2019
- PAPO de cinema. Gabriela Amaral Almeida. Biografia. Papo de cinema, Porto Alegre. Disponível em: https://www.papodecinema.com.br/artistas/gabriela-amaral-almeida/. Acesso: 12 ago. 2019
- SILVA, Fernando. A diretora que usa o horror para falar sobre o Brasil. Vice. 9 ago. 2019. Cinema. Disponível em: https://www.vice.com/pt_br/article/mb45m4/gabriela-amaral-almeida-usa-o-horror-para-falar-sobre-o-brasil. Acesso em: 13 ago. 2019
- SILVEIRA, Renato. A sombra do pai: o além-túmulo, além das convenções. Cinematório. 2 maio 2019. Disponível em: https://www.cinematorio.com.br/2019/05/critica-a-sombra-do-pai-gabriela-amaral-almeida-luciana-paes-nina-medeiros/. Acesso em 14 ago. 2019
Como citar
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GABRIELA Amaral Almeida.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa640208/gabriela-amaral-almeida. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7