Cyria Coentro
Texto
Cyria Cristina Rocha Coentro (Salvador, Bahia, 1966). Atriz. Formada em interpretação teatral pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), seu primeiro trabalho é como artista performática, integrante do elenco da obra Anestesia (1988), dirigida Paulo Dourado, numa produção da Fundação Gregório de Mattos, em Salvador. Com o mesmo diretor, atua na peça Recital da Novíssima Poesia Baiana (1989), do grupo Los Catedrásticos, projeto teatral mais importante e longevo de sua carreira. O sarcástico recital, montado despretensiosamente durante um período de greve na universidade e apresentado na Faculdade de Arquitetura, em 1989, tem grande repercussão e empatia do público.
Com a companhia, que passa a ter um lugar de destaque na história do teatro baiano, Coentro se apresenta em outras montagens, como Bróder: Uma Odisseia Fantástica (1992) e Suburra (1997). Na década de 1990, atua no cinema, em O Diário do Convento (2001), de Edyala Iglesias (um dos três episódios do longa-metragem 3 Histórias da Bahia), trabalha em peças fora de Salvador, participa de vários cursos e oficinas e estreia em novelas e seriados da TV Globo. Em São Paulo, integra o elenco de Mistérios Gozosos (1995), dirigida por José Celso Martinez Corrêa (1937). No Rio de Janeiro, participa do espetáculo Dizem de Mim o Diabo (1994), da diretora Ana Kfouri (1957). Tem seu primeiro papel fixo na televisão interpretando a personagem Matilde em Viver a Vida (2009), de Manoel Carlos (1933). Volta a atuar no cinema em Era uma Vez (2008), e Gonzaga - De Pai pra Filho (2012), ambos de Breno Silveira (1964). No retorno a Salvador, adere à ideia de atualizar o Recital da Novíssima Poesia Baiana com as "novas letras" do Carnaval baiano, e se junta aos antigos colegas de elenco na comédia Los Catedrásticos - Nova Mente, um dos sucessos do teatro local em 2012.
Comentário crítico
Cyria Coentro é uma artista múltipla, com distintas linhas de atuação em seu repertório de trabalho, seja pelo espectro diverso de tipos que representa - passando da comédia mais sarcástica ao drama -, seja pelos meios em que atua: teatro, televisão e cinema. O timbre vocal grave e marcante, a emotividade e a capacidade de comover chamam atenção de diretores e produtores de elenco, sobretudo no cinema e na TV. Já no teatro, desde quando se revela nos palcos de Salvador, no final dos anos 1980, a comédia é a marca predominante de seus personagens, que transitam entre a ironia, a irreverência e o escracho.
Sua primeira apresentação de destaque, junto do grupo Los Catedrásticos, é em Recital da Novíssima Poesia Baiana. Na peça, versos de canções famosas do Carnaval de Salvador são declamados pelo elenco de forma irônica e até mesmo mordaz, dando efeito nonsense ao repertório musical selecionado. Ao vê-la atuar nessa fase inaugural do grupo, o público baiano passa a conhecer uma atriz cômica e carismática, e que - paralelamente - surpreende ao afirmar que não se sente confortável em montagens caracterizadas pela comicidade.
Para a atriz, enquanto no drama as suas motivações para a construção de um personagem são buscadas interiormente, o que é de certa forma mais confortável, na comédia os recursos da composição vêm de fora para dentro: a graça pode emergir tanto do feedback dado pelos artistas com quem contracena, quanto da contextualização das ideias, exigindo um vínculo intenso com o público. Essa capacidade de provocar o riso aliada ao êxito e à longevidade de Los Catedrásticos populariza a imagem Cyria Coentro na cena local e lhe possibilita participar de outros projetos.
É o caso do trabalho com José Celso Martinez Corrêa. Como resultado de uma oficina ministrada pelo diretor da qual Cyria participa, no início dos anos 1990 (período em que pesquisa para a produção da peça Bacantes), a atriz interpreta Semele, mãe de Dionísio. Mais tarde, já lançado oficialmente, o espetáculo de Zé Celso se consagra como um dos acontecimentos teatrais do país. O encenador leva-o então à capital baiana e convida o Los Catedrásticos para uma participação especial. Cyria, que havia participado apenas da oficina, volta a integrar o grupo do diretor, um dos mais prestigiados do teatro brasileiro. O contato com Martinez resulta em ainda mais um trabalho na peça Mistérios Gozosos, adaptada da obra homônima de Oswald de Andrade (1890-1954).
Na televisão, Cyria vive personagens secundários, a exemplo da artista plástica Juliana, que tem uma história de amor com a universitária Celeste na minissérie Dona Flor e seus Dois Maridos (1998), e da empregada Matilde, da novela Viver a Vida, uma mulher dedicada à família e ao casamento com um homem conservador e machista.
É no cinema, efetivamente, que Cyria Coentro torna mais evidente o seu potencial dramático, afastando-se das comédias que têm caracterizado a sua atuação nos palcos. No filme Era Uma Vez (2008), de Breno Silveira, a tragédia sela o destino da sua personagem Bernadete, que enfrenta a dor da morte de seus três filhos. Graças a esse papel, Coentro é chamada pelo mesmo cineasta para dar vida à sertaneja Santana, a mãe do cantor e compositor Luiz Gonzaga, e supera o desafio de colocar afeto nos olhos de uma mulher seca, dura, maltratada pelo sol e pela fome. A atriz participa, ainda, do longa-metragem O Tempo e o Vento (2013), do diretor Jayme Monjardim (1956).
Espetáculos 1
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1/6/2002 - 28/7/2002
Fontes de pesquisa 10
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Como citar
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CYRIA Coentro.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa597844/cyria-coentro. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7