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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Maria Lira Marques

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 12.03.2024
1945 Brasil / Minas Gerais / Araçuaí
Maria Lira Marques Borges (Araçuaí, Minas Gerais, 1945). Ceramista, pintora, pesquisadora. Com produção marcada pelo imaginário do Vale do Jequitinhonha e pela precária condição de vida no semiárido mineiro, a artista se destaca entre os criadores da região por não pertencer à uma linhagem de poteiras e paneleiras e apresentar uma linguagem autô...

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Maria Lira Marques Borges (Araçuaí, Minas Gerais, 1945). Ceramista, pintora, pesquisadora. Com produção marcada pelo imaginário do Vale do Jequitinhonha e pela precária condição de vida no semiárido mineiro, a artista se destaca entre os criadores da região por não pertencer à uma linhagem de poteiras e paneleiras e apresentar uma linguagem autônoma. Como pesquisadora, contribui para a preservação da cultura musical da região, registrando em áudio as cantigas populares. 

Nascida em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, é vizinha e descendente dos macaxalis, indígenas originários do nordeste mineiro. Filha de uma lavadeira e de um sapateiro, aprende a mexer com barro observando a mãe, que tem o hábito de fazer presépios com barro cru para distribuí-los entre amigos e vizinhos; e molda suas primeiras figuras com cera de abelha, utilizada pelo pai para encerar a linha de costurar sapatos. Mas é com Joana Poteira, ceramista da região, que aprende as técnicas da cerâmica, como a coleta do barro e sua queima no forno à lenha. Nos livros emprestados por familiares, encontra inspiração para esculpir bustos de mulheres e filósofos, ainda sem intenção de venda. Também nos livros, pesquisa referências sobre culturas indígenas e africanas que integram sua linguagem. Em curto espaço de tempo, os bustos são substituídos por trabalhos cujo tema remete à vida sofrida do povo do Jequitinhonha, representada com enchentes e miséria. 

Dois encontros na década de 1970 alteram significativamente a trajetória da artista. O primeiro com estudantes de ciências sociais e agronomia que chegam à região pelo Projeto Rondon e da instalação do Campus Avançado da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais. Interessados na produção de Lira Marques, os estudantes levam as peças da artista para as feiras de artesanato em Belo Horizonte, iniciando a difusão do trabalho da artista para além das fronteiras do Jequitinhonha. O segundo encontro se dá com Frei Chico [Francisco van der Poel (1940)], religioso holandês com quem desenvolve um trabalho de pesquisa sobre a cultura da região, em particular, a música. 

A produção de Lira Marques tem aspectos dramáticos e expressionistas, apresentando conjuntos de figuras moldadas de modo dinâmico a partir de uma mesma base. São desse grupo Me ajude a levantar (s.d.), onde um rosto distorcido emerge da lama; Enchente em Araçuaí (anos 1970); o Presépio com um menino Jesus negro (anos 1980); e Aldeia africana no passado (s.d.), trabalhos que falam tanto das inquietações sociais da artista como da reivindicação de sua ancestralidade. Somam-se às figuras de barro a produção de máscaras inspiradas nas culturas negra e indígena. Modeladas a partir de placas de barro trabalhadas com as pontas dos dedos, essas máscaras em cerâmica monocromática retratam rostos feitos à ponta seca e ressaltados por uma tonalidade mais escura.

Em meados da década de 1990, a artista é obrigada a se afastar do trabalho com cerâmica por causa de uma tendinite e migra para a pintura sobre papel, tecido ou seixos. Sua técnica original se utiliza de pigmentos minerais misturados em uma têmpera-cola de tons terrosos que vão do marrom ao bege, passando pelos laranjas e ocres. Chamadas Meus bichos do sertão, as pinturas de animais imaginários que remetem à paisagem sertaneja apresentam figuras oníricas ou aterradoras, como peixes com patas e quadrúpedes com corcovas. A composição é usualmente construída a partir da colocação de uma figura central no espaço, geralmente cercada de elementos decorativos, como linhas ou motivos florais. Os campos de cor são bastante definidos, delimitando as áreas entre figura e fundo com destaque e sem fusões. Em alguns casos as cores do fundo se misturam, mas as figuras permanecem com contornos nítidos. 

Embora seja mais conhecida pela produção pictórica, Lira Marques atua também como musicóloga, coletando canções de domínio público características da região, reunidas em 250 fitas, com 500 histórias e mais de 2.500 rezas, assim como mil fotos e 2 mil slides. A pesquisa reúne músicas de trabalho de tropeiros e boiadeiros, versos religiosos, cantigas de roda, de ninar ou de penitência, registradas em apresentações solo, em duetos (acompanhada por Frei Chico ao violão) ou em coral. Em parceria com o religioso, funda em 1971 o Coral Trovadores do Vale, formado por trabalhadores e com repertório composto pelas músicas pesquisadas. A experiência como pesquisadora contribui para impregnar sua produção em cerâmica e pintura do imaginário da região. Em 2010, também em parceria com Frei Chico, participa da fundação do Museu de Araçuaí, criado para abrigar acervo ligado à religiosidade, costumes e ofícios da cidade, que se torna um dos principais polos de cultura popular do Brasil.

O trabalho de Lira Marques está presente em coleções particulares nacionais e internacionais, assim como no Museu do Folclore Edison Carneiro, no Rio de Janeiro. Sua poética incita o exame da classificação esquemática que divide artistas entre populares e eruditos. Mestra do barro sem nunca ter frequentado a academia, Lira Marques é uma das responsáveis por divulgar a produção artística do Vale do Jequitinhonha para o mundo. Ainda que profundamente marcado pela cultura da região, o trabalho da artista resulta em uma linguagem autônoma que se destaca da produção tradicional da região.

Exposições 15

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