Gustavo Torrezan
Texto
Gustavo Henrique Torrezan (Piracicaba, São Paulo, 1984). Artista visual, pesquisador, educador. Sua obra explora a ressignificação de objetos, símbolos e laços comunitários, a partir de uma variedade de procedimentos plásticos e dinâmicas de convívio coletivo.
Torrezan cresce em uma família pobre e de origem rural no bairro Paulicéia, periferia de Piracicaba. Trabalha regularmente desde os 14 anos em várias funções, entre office-boy e cobrador. Em 2008, gradua-se em artes plásticas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e, durante o curso, participa de diversos salões e exposições coletivas em cidades do interior de São Paulo.
Desenvolve trabalhos que mobilizam o resgate histórico e imaginário de localidades de sua cidade natal, Piracicaba, como Devir #3 (2009) e Não é, mas está sendo (2010). Nos primeiros projetos, destaca a tensão entre contextos específicos de circulação da arte e situações e ambientes cotidianos, como em [in]site (2008) e Demarche (2007), premiada no 14º Salão de Arte Contemporânea de Campinas (2007). A intervenção urbana Demarche é composta por uma série de inserções de adesivos de vinil em 14 lugares da cidade com a inscrição “Obra selecionada para o Salão de Arte Contemporânea de Campinas”. No espaço em que ocorre o salão, há folhetos e um mapa da cidade sinalizando os pontos que foram adesivados.
Obtém o título de mestre em 2012, pela Faculdade de Educação da Unicamp, sob orientação do professor Antônio Carlos Amorim (1968), onde defende a dissertação Entre processos de criação e fabulação e…. O projeto é estruturado sobre textos e pensamentos do processo de criação de Devir #3 e de Não é, mas está sendo e [in]site e a partir dos conceitos de coleta e fabulação. Apresentado sem numeração de páginas, possibilita diferentes formas de organização do conteúdo.
Muda-se para São Paulo em 2013, para participar do Programa Independente da Escola São Paulo (Piesp), dirigido pelo curador Adriano Pedrosa (1965), e trabalhar como instrutor de internet e multimídia, no Serviço Social do Comércio (Sesc), na unidade da Consolação, em São Paulo. O trabalho aprofunda seu interesse pela cultura digital. No mesmo ano, com a gestora cultural, pesquisadora e produtora Melina Marson (1974), é curador da exposição Instante: experiência/acontecimento, um panorama sobre a história da arte e tecnologia no país. A mostra foi exibida nas unidades do Sesc em Campinas, Santo André e em Pinheiros, São Paulo.
Mais tarde, com o surgimento da gerência de artes visuais e tecnologia na administração central do Sesc, é convidado a coordenar a área de internet livre, em 2009. No exercício do cargo, protagoniza a reformulação do programa para tecnologia e artes e propõe mudanças estruturais na organização da equipe, ampliando a compreensão do que pode ser tecnologia a partir da inclusão de práticas artísticas nesse contexto. A partir de 2013, trabalha no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc como pesquisador e coordenador do Programa de Orientação de Projetos em Artes Visuais, direcionado a artistas em início e meio de carreira.
Entre 2013 e 2017, orientado pelo pesquisador e professor Marco do Valle (1954-2018), desenvolve sua tese de doutorado em artes visuais na Unicamp sobre a constituição e manutenção de uma exposição de arte. O formato de apresentação da tese é um jogo aberto. Para ler a tese, é necessário que o leitor arme o tabuleiro, separe as peças correspondentes aos textos e faça um sorteio, para definir a ordem de leitura.
Inicia, em 2018, projetos dedicados à criação de estruturas de comunicação digital em comunidades, estabelecendo vias alternativas aos veículos de informação em larga escala. Entre eles, Comensalidade (2018) e Rádio livre (2018), com destaque para Rádio Floresta (2019). Organizada com os moradores de Careiro Castanho, região metropolitana de Manaus, Amazonas, a Rádio Floresta opera de forma permanente como um dispositivo de fala e protagonismo dos sujeitos locais.
Em 2019, participa do ciclo de residência no JA.CA Centro de Arte e Tecnologia, em Belo Horizonte, que o coloca em contato com os alunos da Escola Municipal Benvinda, da cidade mineira de Nova Lima, afetada pelo rompimento da barragem de rejeitos de mineração em Brumadinho. Como resultado, surge a Convenção Mundial dos Países Imaginários (2019), série de encontros do artista com os alunos do terceiro ano do ensino fundamental para formular, juntos, a fábula da mencionada convenção mundial, propiciando uma vivência de arte e cidadania que se vale da imaginação para instrumentalizar os alunos para lidar com a experiência do crime ambiental e social.
Outro interesse constante é o uso de símbolos de poder nacional, em especial as bandeiras. O primeiro trabalho desse conjunto é a instalação Bandeirante (2016), composta por um cavalinho de balanço de madeira e uma haste, também de madeira, na qual está fincada uma camisa da seleção brasileira de futebol. Em torno do brinquedo, urucum moído e em grãos são espalhados em alusão à terra roxa paulista que foi assolada pela colonização. Em parceria com o Quilombo de Mamuna, em Alcântara, Maranhão, realiza Ontem hoje sempre Mamuna (2021), em que uma estrela construída com impressão em três dimensões e LED é lançada no espaço, usando um balão estratosférico, em referência às estrelas da bandeira do Brasil.
O conjunto da obra de Gustavo Torrezan é múltiplo e heterogêneo, assim como a sua trajetória como artista e educador. A multiplicidade de sua poética é costurada por um fazer coletivo, ressaltando aspectos sociopolíticos e históricos de suas parcerias e as possibilidades imaginativas que elas detêm.
Exposições 13
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26/10/2007 - 23/12/2007
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29/9/2011 - 21/11/2011
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10/4/2012 - 10/6/2012
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20/9/2012 - 25/11/2012
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28/9/2012 - 28/10/2012
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 8
- 37° Panorama da Arte Brasileira - Sob as cinzas, brasa. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2022. Disponível em: https://mam.org.br/exposicao/37o-panorama-da-arte-brasileira-sob-as-cinzas-brasa. Exposição realizada no período de 23 jul. 2022 a 15 jan. 2023. Acesso em: 12 jun. 2023.
- APARELHAMENTO. Aparelhamento. São Paulo, 20 jul. 2016. Facebook: Aparelhamento @coletivoaparelhamento. Disponível em: https://www.facebook.com/events/263079234064588/.
- BIENAL de arte do Triângulo. Uberlândia, MG: SESC Minas Gerais, 2007. 1 folha dobrada.
- GUSTAVO Torrezan (BR). JA.CA., 2019. Disponível em: https://www.jaca.center/gustavo-torrezan-br/. Acesso em: 21 out. 2021.
- GUSTAVO Torrezan apresenta projeto que nasceu do desejo de escutar povos ribeirinhos e fornecer infraestrutura para amplificar suas vozes. Revista seLecT, 22 jan. 2021. Disponível em: https://www.select.art.br/radio-floresta/. Acesso em: 21 out. 2021.
- GUSTAVO Torrezan. Prêmio PIPA, [Rio de Janeiro], 2018. Disponível em: https://www.premiopipa.com/artistas/gustavo-torrezan/. Acesso em: 21 out. 2021.
- SALÃO PARANAENSE, 64., 2012, Curitiba, PR. 64ª Salão Paranaense. Curitiba: Museu de Arte Contemporânea do Paraná, 2012. [24] p. Exposição realizada no período de 29 nov. 2012 a 828 abr. 2013. Disponível em: < http://www.mac.pr.gov.br/arquivos/File/AF_FOLDER_MAC_FINAL_BX.pdf >. Acesso em: 08 dez. 2016.
- TORREZAN, Gustavo. A casa como laboratório do aprender. Glac Edições, 6 ago. 2020. Disponível em: https://www.glacedicoes.com/post/a-casa-como-laborat%C3%B3rio-do-aprender-gustavo-torrezan. Acesso em: 21 out. 2021.
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GUSTAVO Torrezan.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa516389/gustavo-torrezan. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7