Francisco Carlos
Texto
Francisco Antônio Carlos (Itacoatiara, Amazonas, 1957 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2020). Diretor teatral, ator, dramaturgo. Em suas obras aborda temáticas da cultura brasileira, como figuras mitológicas, povos indígenas e suas tradições, antropofagia, e questões sócio-políticas como a destruição da floresta e da cultura amazônica.
Filho de comerciantes, começa a fazer teatro em sua cidade natal aos 7 anos. Funda e dirige um grupo de teatro aos 12 anos, mesmo período em que começa a escrever. Em meados da década de 1970 é convidado para o Festival de Teatro de Manaus, onde tem a oportunidade de apresentar um de seus textos. Aos 21 anos, ingressa na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em Manaus, na faculdade de letras, mas desiste do curso e começa a estudar filosofia, que também não chega a concluir.
No começo dos anos 1980, muda-se para Belém, no Pará. É um dos fundadores, em 1984, do grupo Trompas de Phalópio, que agita a cena teatral de Belém com peças como O Estranho Caso da Pantera da Serra com o Bandoleiro Durango Brasil e Os Caçadores da Vaca Fosforescente, ambas de sua autoria. Com amplo interesse antropológico, Francisco traz para seus textos características e costumes de diversas etnias amazônicas, como os Munduruku e os Yanomami, e explora suas crenças, ritos, e o xamanismo.
A peça Banana Mecânica (2010) resgata a fala poética, com um discurso que se aproxima de um estado mediúnico e do inconsciente, em que as ideias se fundem em um ritmo frenético. O autor prioriza as referências populares, como as marchas carnavalescas, que se sobrepõem ao erudito e a aspectos de uma cultura ambientada no Rio de Janeiro.
Em 2011, dirige e encena a tetralogia Jaguar Cibernético, de sua autoria, apresentada no Sesc Pompeia, em São Paulo. Pautado pelo passado e o presente, o autor mistura ancestralidade indígena, antropofagia e canibalismo tupinambá com apelo pop e futurista, em contraste com a tradição ocidental. Compõem essa tetralogia as peças: Banquete Tupinambá, que se passa no século XVI, Aborígene em Metrópolis, Xamanismo the Connection e Floresta de Carbono – De Volta ao Paraíso Perdido, sendo esta última sobre o mundo indígena e o do homem branco, a floresta e a cidade.
No espetáculo Relatos Efêmeros da França Antártica (2019), Francisco se baseia nas obras Viagem à Terra do Brasil (1578), do escritor francês Jean de Léry (1536-1613), e Tristes Trópicos (1955), do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009). Num resgate ao passado colonial, a peça recria a França Antártica1, na então Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e retrata cenas como a selvageria dos colonizadores europeus, a epidemia que estes provocam, e o massacre de centenas de indígenas.
Francisco Antônio Carlos traz para o teatro os costumes e a cultura de povos indígenas do Amazonas e do Brasil, inserindo-os em distintos momentos históricos e sociais e fundindo-os aos hábitos e cultura urbanos dos séculos XX e XXI.
Nota
1. Em 1555, dois navios franceses, liderados por Nicolau Durand de Villegaignon, desembarcam na Baía de Guanabara e tentam implantar ali uma colônia francesa, de onde traficam principalmente pau-brasil. A invasão resulta em disputas políticas e religiosas, em guerras entre indígenas, franceses e portugueses, e termina com a expulsão dos franceses em 1560, que ainda resistem até 1567. Cf. FUNDAÇÃO Biblioteca Nacional. A França no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, [s.d.].
Espetáculos 5
-
6/7/2011 - 13/8/2011
-
6/7/2011 - 13/8/2011
-
6/7/2011 - 13/8/2011
-
-
3/10/2014 - 26/10/2014
Fontes de pesquisa 10
- CAVALCANTI, Bruno. Retrato crítico do ego branco e ocidental, dramaturgia de Francisco Carlos é perfeita tradução do Brasil de dentro. Observatório do Teatro, 2021. Disponível em: https://observatoriodoteatro.uol.com.br/noticias/retrato-critico-do-ego-branco-e-ocidental-dramaturgia-de-francisco-carlos-e-perfeita-traducao-do-brasil-de-dentro. Acesso em: 22 mar. 2021.
- FUNDAÇÃO Biblioteca Nacional. A França no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, [s.d.]. Disponível em: http://bndigital.bn.br/francebr/antartica.htm. Acesso em: 6 abr. 2021
- GUIADASEMANA. São Paulo. Disponível em: http://guiadasemana.com.br/Sao_Paulo/Artes_e_Teatro/Evento/Jaguar_Cibernetico.aspx?id=80574. Acesso em: 28 jul. 2011
- MENEZES, Maria Eugênia de. Festa Canibal. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 6 jul. 2011. Disponível em: https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,festa-canibal-imp-,741127. Acesso em: 25 mar. 2021.
- Morre Francisco Carlos, dramaturgo amazonense autor de 'Jaguar Cibernético'. Folha de S. Paulo, São Paulo, 18 dez. 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/12/morre-francisco-carlos-dramaturgo-amazonense-autor-de-jaguar-cibernetico.shtml. Acesso em: 22 mar. 2021.
- Morre o ator e diretor Francisco Carlos, grande nome do teatro nacional. SP Escola de Teatro, São Paulo, 20 dez. 2020. Disponível em: https://www.spescoladeteatro.org.br/noticia/morre-o-ator-e-diretor-francisco-carlos-grande-nome-do-teatro-nacional. Acesso em: 22 mar. 2021.
- PINHEIRO, Lenise. Morre Francisco Carlos (1957-2020), antropólogo por natureza, artista de teatro por vocação. Folha de S. Paulo, São Paulo, 18 dez. 2020. Cacilda, Blog de teatro. Disponível em: https://cacilda.blogfolha.uol.com.br/2020/12/18/morre-francisco-carlos-1960-2020-antropologo-por-natureza-artista-de-teatro-por-vocacao/. Acesso em: 22 mar. 2021.
- SANTOS, Valmir. O bioma Francisco Carlos. Teatrojornal, 30 dez. 2020. Disponível em: https://teatrojornal.com.br/2020/12/o-bioma-francisco-carlos%EF%BB%BF/. Acesso em: 22 mar. 2021.
- SANTOS, Valmir. O mantra em drama de Francisco Carlos. Teatrojornal, 02 ago. 2011. Disponível em: https://teatrojornal.com.br/2011/08/o-drama-em-mantra-de-francisco-carlos/. Acesso em: 22 mar. 2021.
- SANTOS, Valmir. Saudosa maloca futurista [Jaguar cibernético]. Teatrojornal, 2 ago. 2011. Disponível em: https://teatrojornal.com.br/2011/08/saudosa-maloca-futurista/. Acesso em: 5 abr. 2021.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
FRANCISCO Carlos.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa514484/francisco-carlos. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7