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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Ruth Rocha

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.10.2023
02.03.1931 Brasil / São Paulo / São Paulo
Ruth Machado Lousada Rocha (São Paulo, São Paulo, 1931). Autora de literatura infantojuvenil e tradutora. Cresce no Bairro de Vila Mariana, na cidade de São Paulo. Forma-se em 1953 em ciências políticas e sociais, na Universidade de São Paulo (USP). Faz pós-graduação em orientação educacional na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC...

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Biografia

Ruth Machado Lousada Rocha (São Paulo, São Paulo, 1931). Autora de literatura infantojuvenil e tradutora. Cresce no Bairro de Vila Mariana, na cidade de São Paulo. Forma-se em 1953 em ciências políticas e sociais, na Universidade de São Paulo (USP). Faz pós-graduação em orientação educacional na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Entre 1956 e 1972 trabalha como orientadora educacional do Colégio Rio Branco. Inicia, em 1968, a colaboração na seção de educação da revista Claudia, do grupo Abril, o que a leva, no ano seguinte, a atuar como colaboradora de outra revista do grupo, a Recreio. Começa, nesse momento, sua produção de histórias e livros para crianças. Assume, em 1973, a direção editorial da Divisão Infanto-Juvenil da Editora Abril e participa das coleções Conte um Conto, Beija-Flor e Histórias de Recreio. Em 1974, especializa-se em editoração na Western Publishing Co., nos Estados Unidos. Em 1976, ocorre sua estreia em livro, com Palavras, Muitas Palavras, poesia infantil - o primeiro entre os mais de 130 títulos publicados. Lança no mesmo ano seu livro mais conhecido, Marcelo, Marmelo, Martelo e Outras Histórias. Em 1989 assina a versão infantil da Declaração Universal dos Direitos Humanos na Organização das Nações Unidas (ONU), intitulada Iguais e Livres, já publicada em nove línguas. Em 1991, é convidada, também pela ONU, a assinar a declaração sobre ecologia para crianças, Azul e Lindo - Planeta Terra, Nossa Casa (1990). É membro da Academia Paulista de Letras desde 2007. Sua obra está traduzida em mais de 25 idiomas. Atualmente é membro do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta.

Análise

No decorrer das décadas de 1960 e 1970 muitas instituições e programas são criados com o objetivo de fomentar a leitura e a discussão sobre a literatura infantojuvenil. Ruth Rocha começa a escrever suas histórias para crianças e jovens dentro desse contexto de renovação do gênero no Brasil. A autora é chamada, no fim da década de 1960, para trabalhar na revista Recreio, importante veículo nessa renovação. Começa, então, sua extensa produção.

Muitos dos contos que escreve, principalmente quando colabora com a revista Recreio ou participa de outras publicações da Editora Abril, trazem animais falando e pensando, como nas fábulas, em contextos sociais do fim do século XX. Essa atualização que a autora empreende nas fábulas desloca o que antes era central, a ilustração de um preceito moral, e no seu lugar aborda as dificuldades cotidianas que qualquer indivíduo, em qualquer idade, enfrenta. Na reunião de contos Pedrinho Pintor e Outras Histórias, por exemplo, o coelho pintor da história principal, retratado pelas ilustrações vestido de hippie, tem como sonho trabalhar na grande fábrica de ovos de Páscoa. É recusado na primeira entrevista de emprego em que leva suas pinturas, mas é logo contratado e termina satisfeito "modernizando" e colorindo o design dos ovos de Páscoa. Muitas histórias da autora propõem uma atualização das fábulas e de outras tradições que constituem a literatura infantil tendo como centro problemas de diversas naturezas do mundo moderno.

Nas histórias de reis de Ruth, em que a primeira é O Reizinho Mandão, essa atualização dos contos de fadas ganha contornos de questionamento ideológico. Em um reino encantado, o bom rei morre e um príncipe autoritário sobe ao poder. O novo governo começa com leis absurdas que aos poucos silenciam todos no reino. A autora consegue produzir uma correspondência interessante entre a situação política do país durante a ditadura militar e as características autoritárias presentes em muitos comportamentos infantis. A nova "lição" - que também não é a ilustração de um preceito moral, já que o fim do reizinho o narrador, construído com características modernas, não sabe ao certo - é o isolamento e a infelicidade daquele que não considera o outro ou não consegue abandonar a perspectiva infantil egocêntrica. As histórias dos reis, com a nova direção que a autora dá, continuam em outros livros como O Rei que Não Sabia de Nada, O que os Olhos Não Veem etc.

Em outra vertente mais realista da sua produção, ou em outra vertente que não problematiza fontes do gênero como a fábula e o conto de fadas, a autora mantém os ensinamentos não moralistas como eixo em diversos momentos. Marcelo, Marmelo, Martelo e Outras Histórias, seu trabalho mais conhecido, com mais de 1 milhão de livros vendidos, a narrativa acontece em torno de problemas do universo infantil que são apresentados sem rodeios. Na história que dá título ao livro, Marcelo é um menino perguntador que causa certos problemas aos pais por não se conformar com o nome das coisas. O personagem procura sempre um aspecto mais material no momento de nomear o que enxerga na realidade. Assim, cadeira é sentador; colherinha é mexedorzinho etc. Isso acarreta certa dificuldade na comunicação que deixa os pais de Marcelo em diversas situações embaraçosas. Nessa redução ao mínimo para sustentar a tensão da história, já que uma caracterização maior de espaço, personagem etc. fica por conta das ilustrações, o narrador equilibra quase em pé de igualdade as angústias do menino em tentar criar uma linguagem para que a realidade faça, por meio da nomeação, mais sentido, e a vergonha dos pais que precisam, a todo momento, justificar as atitudes estranhas do filho para as pessoas que desconhecem suas manias. A narrativa continua sempre próxima a esse desenho mínimo até o momento em que a casa do cachorro da família pega fogo. Marcelo entra correndo e, na "sua língua", conta isso para o pai, que percebe a aflição do menino, mas não tem como ajudá-lo, pois não entende o que ele quer dizer. O menino, mesmo nesse momento de preocupação máxima, não consegue fazer uma simples comunicação e a casa do cachorro é consumida pelas chamas. O final que parece apontar para um desfecho em certo sentido moralista, em que o menino percebe, com base em um exemplo objetivo, sua inadequação, acaba se revertendo em uma tomada de consciência dos pais em relação ao filho, o ensinamento da história.

Na outra história do livro, Terezinha e Gabriela, como em outras da autora, o narrador constrói a prosa explorando a musicalidade das palavras, encadeando os períodos como se fossem versos, com ritmo, rimas etc. Ainda nessa vertente mais realista, Ruth Rocha traz para o centro de suas histórias o questionamento ideológico que de certa forma desenvolve nas histórias dos reis. Em Enquanto o Mundo Pega Fogo, dois amigos lavradores que trabalham juntos resolvem dividir as propriedades amigavelmente. Os problemas começam quando aparece a dificuldade de delimitar o que pertence a cada um. Desenvolve-se, então, um processo de guerra que termina praticamente com a destruição de ambos. A ilustração acompanha fisicamente a delimitação das propriedades na medida em que separa o livro, a folha da esquerda e a da direita, em espaços "privados" dos antigos amigos. Questões que apresentam os confrontos políticos e econômicos da humanidade aparecem em diversas outras histórias da autora como Dois Idiotas Sentados Cada qual no Seu Barril... A vertente mais realista da autora vai dessas histórias que alegorizam os descaminhos da humanidade àquelas que tratam de questões miúdas como o troco na cantina da escola que é dado com balas e aborrece o personagem em Como se Fosse Dinheiro.

Ruth Rocha possui ainda muitos livros em que reapresenta histórias famosas, conta momentos da história nacional, folclore. Livros didáticos com propostas de leitura e escrita, livros para crianças em idade de alfabetização em que explora aspectos materiais da língua como a sonoridade das palavras, sílabas semelhantes, rimas, ritmos etc. ou a construção de narradores que estão começando a perceber a realidade como em Gosto Muito ou Coisas que Eu Gosto e outros.

Em Ruth Rocha Conta Odisseia, a autora reconta a célebre narrativa de Ulisses em uma edição com cuidadosa contextualização histórica e mitológica. O narrador opta não pela musicalidade, ou pela organização em versos, o que talvez aproximasse mais da estrutura das obras de Homero, mas pelo encadeamento cuidadoso em prosa das histórias que compõem a Ilíada e a Odisseia. A preocupação central parece trazer de forma contextualizada essa narrativa clássica para um público infantojuvenil.

Espetáculos 4

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Exposições 4

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Fontes de pesquisa 5

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  • BASTOS, D. ANA & RUTH: 25 anos de lilteratura. Rio de Janeiro: Salamandra, 1995.
  • COELHO, Nelly N. Dicionário Crítico da Literatura Infantil e Juvenil Brasileira: Séculos XIX e XX. São Paulo: EDUSP, 4ª ed., 1995.
  • COELHO, Nelly Novaes. Panorama Histórico da Literatura Infantil/Juvenil: das origens indo-europeias do Brasil contemporâneo. São Paulo: Ática, 1991.
  • MIGUEL, Maria Aparecida de Fátima. Ruth Rocha, página a página: bibliografia de e sobre a autora. 2006. 256 f. Dissertação de mestrado - Faculdade de Ciências e letras - Universidade Estadual Paulista. Assis, 2006.
  • Programa do Espetáculo - Loucos Por Amor - 2006. Não catalogado

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