Tuca Vieira
![Largo da Concórdia, 2005 / 2008 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/013302112779.jpg)
Largo da Concórdia, 2005
Tuca Vieira
Pigmento sobre papel de algodão
Texto
Luiz Arthur Leitão Vieira (São Paulo, São Paulo, 1974). Fotógrafo, artista visual, pesquisador. Reflete sobre a cidade e suas representações. Autor de projetos premiados, sua fotografia trabalha uma síntese das contradições socioeconômicas de São Paulo, além de promover uma pluralidade de vistas, abarcando a extensão territorial da cidade.
Inicia sua carreira aos 16 anos, trabalha no Museu da Imagem e do Som (MIS) e conclui bacharelado em língua alemã na Universidade de São Paulo (USP), em 1998. No fotojornalismo, colabora, entre outros veículos, para o jornal Folha de S.Paulo, onde cobre pautas diversas entre 2002 e 2009.
Com a tarefa de fotografar alguns lugares por ocasião das comemorações dos 450 anos de São Paulo, sobrevoa de helicóptero a Zona Sul até Paraisópolis, comunidade periférica entre as mais populosas da cidade, que fica próxima ao bairro do Morumbi, região onde habitam pessoas de alto poder aquisitivo.
Intitulada Paraisópolis (2004), a fotografia capturada na ocasião justapõe as circunstâncias espaciais dos habitantes dos dois lugares em um mesmo plano, sem incluir o horizonte. À esquerda, acompanhando o aclive, moradias e pequenos comércios construídos em alvenaria estão dispostos de modo compactado e as vias de circulação são estreitas e desordenadas. No centro da imagem, quadras de tênis vazias pertencentes a área de lazer do alto edifício que se vê à direita, que acomoda grandes varandas dispostas em espiral, em cada uma das quais há uma piscina privativa e um jardim. Na imagem há o contraste de cores: à esquerda prevalecem tons de cinza, enquanto à direita a gama de cores se amplia com o ocre do piso das quadras de esporte, o verde dos jardins suspensos, o branco do edifício, o azul das piscinas. Um muro fino marca a divisão da imagem e estabelece a fronteira entre as distintas realidades que a imagem evidencia.
Amplamente reproduzida, a foto ilustra ensaios, reportagens e materiais didáticos sobre desigualdades sociais e econômicas. Em Londres, no Museu Tate Modern, em 2007, integra a mostra Cidades Globais e é usada no cartaz do evento. Em entrevistas, Vieira aponta que uma fotografia bem sucedida é o resultado da busca de uma vida inteira e que esta imagem aponta uma "atualidade insuportável", que ele preferia que não existisse1.
O tema da cidade permeia outros trabalhos, como o ensaio sobre o último dia do cinema paulistano Gemini, pelo qual recebe o Prêmio Porto Seguro de Fotografia em 2010, Berlinscapes (2011), uma série com imagens noturnas de Berlim, e V. se encontra na posição da seta (2013), um grande painel construído com 105 imagens feitas do edifício Copan reagrupadas no computador. Esta obra recebe o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, em 2013.
A experiência como fotojornalista instiga sua curiosidade sobre as questões relativas à cidade. O projeto Atlas fotográfico da cidade de São Paulo e arredores (2016) reforça esse viés jornalístico-investigativo em busca de descobertas pela cidade em uma escala ampliada. Tendo como ponto de partida a pergunta "o que é São Paulo", transita por cerca de três mil quilômetros para fotografar 203 imagens, entre 2014 e 2016. Tem como referência a malha quadriculada usada no Guia quatro rodas de São Paulo 2011, que utiliza 203 quadrados numerados sobrepostos ao mapa da região metropolitana.
Utiliza uma câmera analógica com filme de grande formato de 4 x 5 polegadas. Tanto pelo custo como pelo tamanho, a escolha dessa câmera implica em uma fotografia mais refletida e a cuidadosa preparação anterior é necessária uma vez que os deslocamentos até os lugares são longos. A rigorosa metodologia não impede que a intuição prevaleça no clique, onde imprevistos são comuns. O longo nome faz referência à coleções de mapas antigos e aponta para a influência do fotógrafo Militão Augusto de Azevedo (1837-1905), conhecido por ter realizado a primeira extensa documentação fotográfica de São Paulo no final do século XIX. O projeto é apresentado em uma exposição na Casa da Imagem, em 2016, e se encerra em 2020 com a publicação de um livro distribuído gratuitamente pela prefeitura em bibliotecas e Centros Educacionais Unificados (CEUs).
O livro Salto no escuro: leituras do espaço contemporâneo (2021) é o resultado de sua pesquisa para o mestrado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU/USP), concluída em 2018. Instiga a curiosidade e critica o atual excesso de imagens, deixando vazios os espaços onde elas deveriam estar inseridas no texto, mantendo apenas as margens que delimitam as áreas que ocupariam nas páginas. Reúne textos com reflexões sobre as novas configurações do espaço urbano, questionamentos sobre as diversas formas de ocupação e vida nas cidades, além de críticas ao uso disseminado de tecnologias.
Entre seus projetos sobre paisagem, arquitetura e urbanismo, desenvolve o Hipercidades, que pretende registrar o espaço urbano de 30 metrópoles com mais de 10 milhões de habitantes. A escala global dessa empreitada reforça seu interesse em investigar a cidade e, ao mesmo tempo, em estar dentro dela, apreendendo-a e analisando-a a partir dos deslocamentos do corpo.
Como professor-colaborador, dá aulas na Escola da Cidade de Arquitetura e Urbanismo, e, além das atividades acadêmicas, também publica artigos para revistas de grande circulação.
Tuca Vieira utiliza a fotografia como instrumento para contar a história de um tempo e um lugar, de modo similar ao caderno de notas de um escritor. Sua pesquisa se preocupa com a experiência corporal vinculada à cidade – o estar na rua, no mundo real – em oposição às realidades virtuais tão comuns atualmente.
Notas
1. MACHADO, Leandro. 'Quem a política defende? De que lado está?', questiona autor de foto símbolo da desigualdade no Brasil. BBC News Brasil, São Paulo, 4 dez. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50666148. Acesso em: jul. 2022.
Obras 1
Largo da Concórdia
Exposições 19
-
14/11/2008 - 20/1/2007
-
28/3/2008 - 1/6/2008
-
7/10/2009 - 15/11/2009
-
15/10/2010 - 12/12/2010
-
26/11/2011 - 23/1/2010
Fontes de pesquisa 9
- COLEÇÃO PIRELLI/MASP DE FOTOGRAFIA. Disponível em: < http://site.pirelli.14bits.com.br/autores/251>. Acesso em: 12 fev. 2008. Não catalogado
- INEQUALITY… in a photograph. The Guardian, 29 nov. 2017. Disponível em: https://www.theguardian.com/cities/2017/nov/29/sao-paulo-injustice-tuca-vieira-inequality-photograph-paraisopolis. Acesso em: jul. 2022.
- MACHADO, Leandro. 'Quem a política defende? De que lado está?', questiona autor de foto símbolo da desigualdade no Brasil. BBC News Brasil, São Paulo, 4 dez. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50666148. Acesso em: jul. 2022.
- MAMMÌ, Lorenzo. Paraisópolis. Revista Zum, 4 dez. 2019. Disponível em: https://revistazum.com.br/autor/?autor=Lorenzo%20Mammì. Acesso em: jul. 2022.
- PAYNO, Mariana. Um corpo a vagar pelas esquinas. Revista Gama, 20 jan. 2021. Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/pessoas/entrevista-tuca-vieira/. Acesso em: jul. 2022.
- SARDENBERG SOBRINHO, Walterson. Tuca Vieira, o cara que fez aquela foto. Berg Textos [blog], 3 mar. 2018. Disponível em: https://textosdoberg.wordpress.com/2018/03/03/o-cara-que-fez-aquela-foto/. Acesso em: jul. 2022.
- VEIGA, Edison. Foto de Tuca Vieira contrasta Paraisópolis e apartamentos de luxo. Veja, São Paulo, 18 set. 2009.
- VIEIRA, Tuca. Atlas fotográfico da cidade de São Paulo e arredores. São Paulo: AYO, 2020.
- VIEIRA, Tuca. Salto no escuro: leituras do espaço contemporâneo. São Paulo: Hedra; N-1 Edições, 2021.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
TUCA Vieira.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa486178/tuca-vieira. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7