Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Dança

Nina Verchinina

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 08.08.2024
20.01.1910 Rússia / a definir / Moscou
16.12.1995 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Nina Verchinina (Moscou, Rússia, 1910 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1995). Professora, maître-de-balle, bailarina e coreógrafa. Passa a infância na China, entre as cidades de Xangai, Hangzhou e Harbin. Deseja aprender dança depois de assistir à apresentação de uma bailarina em espetáculo de circo em Hangzhou. Em Harbin, aos 6 anos, sua mãe a...

Texto

Abrir módulo

Nina Verchinina (Moscou, Rússia, 1910 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1995). Professora, maître-de-balle, bailarina e coreógrafa. Passa a infância na China, entre as cidades de Xangai, Hangzhou e Harbin. Deseja aprender dança depois de assistir à apresentação de uma bailarina em espetáculo de circo em Hangzhou. Em Harbin, aos 6 anos, sua mãe a matricula em aulas de balé. Após a Revolução Russa de 1917, a família muda-se para Paris, onde Nina frequenta aulas da ex-primeira bailarina russa Olga Preobrajenska (1871-1962). Em 1928, a coreógrafa russa Bronislava Nijinska (1891-1972) visita o estúdio de Probrajenska e escolhe Verchinina, pela qualidade de seu movimento, forte e vigoroso, para fazer parte da companhia da atriz e dançarina russa Ida Rubinstein (1885-1960), onde fica até 19291. Em 1932, no Teatro de Monte Carlo, estreia o Ballets Russes de Monte Carlo, dirigido pelo empresário russo Colonel Wassily de Basil (1888-1951) e pelo coreógrafo francês René Blum (1878-1942). Nina Verchinina e sua irmã Olga Morosova, que se casa com Basil, integram a companhia desde o início2. No mesmo ano, é convidada pelo bailarino russo Léonide Massine (1896-1979), coreógrafo do grupo, a dançar o papel de Ação, em Os Presságios. A apresentação aproxima movimentos de balé aos de dança moderna. Nina alcança fama e projeção internacional.

Nos anos seguintes, volta a participar de obras de Massine, Choreartiu (1933), e Sinfonia Fantástica (1936). Em 1938, desliga-se da companhia e estuda dança durante um ano nos Estados Unidos. Conhece a técnica de dança moderna da bailarina e coreógrafa estadunidense Martha Graham (1894-1991). No ano seguinte, retorna à Europa e à companhia de Basil, renomeada de Original Ballet Russe, para a qual cria sua primeira coreografia, Quest (1940). Alterna períodos de ligação e afastamento do grupo. Em 1946, apresenta-se pela primeira vez no Brasil, com a companhia. Em São Paulo, apresenta Valse Triste, coreografia que aproxima balé da dança moderna. No Rio de Janeiro, assume o posto de coreógrafa e maître-de-ballet do Corpo de Baile do Theatro Municipal. Verchinina não completa uma temporada e retorna à Europa em 1948. Em 1950, é convidada para dirigir o grupo de dança moderna na Universidade Nacional de Cuyo, em Mendoza, Argentina. Cria Amor Brujo, Matisse, Narciso, Redenção e Rhapsody in Blue.

Em 1954, retorna ao Brasil para montar o espetáculo Fantasia e Fantasias e fixa residência definitiva no país. No mesmo ano, convidada pela bailarina Tatiana Leskova (1922), diretora do Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, monta Narciso e Rhapsody in Blue. Em 1955, abre sua academia no bairro carioca do Flamengo e apresenta Matizes, Redenção e uma remontagem de Rhapsody in Blue, como coreógrafa convidada do Theatro Municipal. Em 1957, cria a companhia Ballet Nina Verchinina e viaja com ela pela América do Sul. No repertório, apresenta obras suas, como Eslavônica, Suite Choréografique, Valse Triste, Narciso, Matizes e Amor Brujo. O grupo desfaz-se em 1959, e Verchinina reabre sua academia, em Copacabana, onde permanece até 1995. Suas mais importantes coreografias a partir desse período são Zuimaaluti (1960), Metástasis (1967) e Suíte Barroca (1973). No Brasil, desenvolve a técnica que chama de “dança moderna expressionista”.

Análise

Verchinina é aclamada como primeira-bailarina sinfônica pelas participações em balés sinfônicos de Léonide Massine. É apontada pelo crítico de dança Jaques Corseuil (1913-2000) como uma artista sincera com sua arte, “pois a ela nunca interessou dançar apenas com os pés, mas sim com todo o corpo, o corpo é para o dançarino como o violino, um instrumento, para exprimir sua arte”3.  

Para Nina Verchinina, o objetivo principal da dança é expressar os sentimentos humanos, colocando em movimento o “drama emocional” do homem4. A técnica que desenvolve parte desse ponto, e suas criações apresentam forte viés emotivo, expressando no corpo e com o corpo as várias emoções que o ser humano é capaz de sentir. A bailarina tem clareza da necessidade de outro tipo de corpo, que não o formado pelo balé, para poder dançar o que elabora coreograficamente: “Em dança se diz que todo mundo que dança clássico pode dançar moderno, [mas] é completamente outra técnica, é outra maneira!”5. Verchinina situa sua técnica no que nomeia de dança expressionista, à qual busca conectar a percepção de espacialidade e a expressão do corpo em movimento.

Verchinina elabora movimentos que criam volume no espaço, apoiados no binômio contração-expansão. Porém, ao contrário da técnica de Martha Graham, em que a contração situa-se no centro do corpo, próxima à cintura pélvica, Verchinina localiza seu centro no que identifica como “central sísmica”, situada entre o diafragma e o plexo solar, de onde o movimento deve partir para se expandir no espaço. Ao mesmo tempo, necessita de um corpo capaz de trabalhar e apresentar volume em cena. Para isso, elabora e organiza pesquisas em busca de formulação que permita entender o corpo como capaz de mover-se em bloco pelo espaço. O corpo não se desloca no espaço de maneira sucessiva, com uma parte após a outra, em movimentos quebrados, mas simultaneamente, em momentos de total conjunção entre cabeça, tronco e membros. Essa técnica visa alcançar o máximo de dramaticidade e força de expressão. Para que os efeitos idealizados sejam executados, Verchinina tem que dar aos bailarinos o tônus muscular necessário, tornando-os aptos a realizar esses movimentos. Para isso, cria séries de exercícios e sequências em que esse enfoque é priorizado, dividindo suas aulas em aula de chão, centro, barra, joelho e sequências de caídas. Em todas elas, o trabalho de força está presente, para dar ao corpo a possibilidade de realizar movimentos de diferentes qualidades e direções. Os movimentos em torção, como a quarta posição cruzada, característica marcante de suas coreografias, apresenta-se como a materialização dessa ideia6.

A partir de suas pesquisas, cria o balé Zuimaaluti, com libreto de Manuel Bandeira, inspirado no poema “Toada do Pai do Mato”, de Mário de Andrade, música de Cláudio Santoro, trajes e cenários de Roberto Burle Marx (1909-1994). Segundo o crítico italiano Renzo Massarani (1898-1975),  é o espetáculo “mais empolgante e definitivo” do programa apresentado no Theatro Municipal pelo Ballet do Rio de Janeiro, criado e dirigido por Dalal Achcar (1937). A coreógrafa convida Verchinina para criar a obra especialmente para a visita dos bailarinos ingleses Margot Fonteyn (1919-1991) e Michael Somes (1917-1994). Para Massarani, o balé mostra “uma força e um ritmo admiráveis”7.

Para outros críticos, como Eurico Nogueira França (1913-1992), a obra-prima de Verchinina é Metástasis. Novamente, a convite de Dalal Achcar, a apresentação é criada a partir da música eletrônica do compositor romeno-francês Iannis Xenakis (1922-2001) e conta com cenários do ítalo-brasileiro Gianni Ratto (1916-2005). A coreografia é mostrada durante as apresentações da inglesa Margot Fonteyn e do russo Rudolf Nureyev (1938-1993), no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Para França, Verchinina é dotada de uma “força criadora” sem igual, criando uma coreografia de uma “liberdade fecunda” e de alto valor plástico, em especial no tratamento dos grupos, com corpos que simbolizam um drama coletivo de forte significado8.

Em 1977, Verchinina remonta Suite Barroca, na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro. A coreografia é criada a partir de trechos dos compositores barrocos italianos Antonio Vivaldi (1678-1741), Benedetto Marcello (1686-1739), Francesco Bonporti (1672-1749), Francesco Veracini (1690-1768), Tomaso Albinoni (1671-1751) e Pietro Locatelli (1695-1764). Ao longo de anos, a coreógrafa apresenta diferentes versões de Suite Barroca, contudo, sem fazer concessões ao virtuosismo, mantém os grandes saltos e piruetas e preserva sua assinatura densa e expressiva9. Conserva-se fiel aos princípios expressionistas de sua dança, em que, mais do que contar uma história, é necessário emocionar o público e comunicar, por meio do movimento, as emoções humanas.

Apesar das poucas apresentações em seus últimos anos de carreira, Nina Verchinina é um dos nomes mais importantes da dança brasileira, que desenvolve uma técnica própria e contribui para a formação da dança moderna no Brasil.

Notas

1. CERBINO, Beatriz. Nina Verchinina: um pensamento em movimento. Rio de Janeiro: Funarte: Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro, 2011. p. 17-18.

2. WALKER, Katherine Sorley. De Basil’s Ballets Russes. New York: Atheneun, 1983. p.175.

3. CORSEUIL, Jaques. Nina Verchinina. O Globo, Rio de Janeiro, 16 ago. 1946. O Globo Feminino.

4. VERCHININA, Nina. Jornal da Dança, ano 2, n. 16, jan. 1991. p. 1.

5. NINA VERCHININA: uma concepção de dança. Direção de Thereza Jessouroun. [S.l.]: Sunlight Produtora e Iser Vídeo, 1989.

6. Nessa posição, os pés estão em quarta posição en dehors, com o peso do corpo na perna da frente e o pé da perna da trás em meia-ponta. As pernas estão flexionadas, e o tronco, em torção, voltado para a mesma direção que a perna de base. Os braços podem ou não estar alongados.

7. MASSARANI, Renzo. Um ballet brasileiro. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 30 jun. 1960, p. 6.

8. FRANÇA, Eurico Nogueira. Municipal vibra em noites de dança. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 27 abr. 1967. p. 2.

9. PORTINARI, Maribel. Barroco segundo Nina Verchinina. O Globo, Rio de Janeiro, 7 maio 1977. p. 12.

Espetáculos de dança 1

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 10

Abrir módulo
  • CERBINO, Beatriz. Nina Verchinina: um pensamento em movimento. Rio de Janeiro: Funarte: Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro, 2011.
  • CORSEUIL, Jaques. Nina Verchinina. O Globo, Rio de Janeiro, 16 ago. 1946. O Globo Feminino.
  • FARO, Antonio José; SAMPAIO, Luiz Paulo. Dicionário de balé e dança. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
  • FRANÇA, Eurico Nogueira. Municipal vibra em noites de dança. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 27 abr. 1967. p. 2
  • MASSARANI, Renzo. Um ballet brasileiro. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 30 jun. 1960. p. 6
  • NINA VERCHININA: uma concepção de dança. Direção de Thereza Jessouroun. [S.l.]: Sunlight Produtora e Iser Vídeo, 1989.
  • PORTINARI, Maribel. Barroco segundo Nina Verchinina. O Globo, Rio de Janeiro, 7 maio 1977. p. 12
  • Ramos, Enamar. Angel Vianna: A pedagoga do corpo. São Paulo: Summus, 2007.
  • VERCHININA, Nina. Jornal da Dança, ano 2, n. 16, jan. 1991.
  • WALKER, Katherine Sorley. De Basil’s Ballets Russes. New York: Atheneun, 1983.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: