Jane Blauth
Texto
Jane Blauth da Costa (Passo Fundo, Rio Grande do Sul, 1937 – Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2012). Bailarina e professora de dança clássica. Inicia seus estudos em dança clássica, aos 11 anos de idade, em Porto Alegre, com Tony Petzhold (1914-2000) e, em seguida, com Marina Fedossejeva (1918-1984). Com Rony Leal (1935), atua na montagem de A Bela Adormecida de Petzhold em 1957. Em seguida, transfere-se para o Rio de Janeiro.
Forma-se pela Escola de Danças Clássicas do Teatro Municipal, em 1959. Com a entrada de Eugenia Feodorova (1923-2007), diterorta do Corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Jane atua como estagiária na montagem de O Lago dos Cisnes. Permanece na companhia até 1961, quando se transfere para Los Angeles, Estados Unidos, para estudar com o bailarino e professor norte-americano Eugene Loring (1911-1982) e o brasileiro, radicado nos Estados Unidos, Wilson Morelli (1925 -2005). Em seguida, integra a Los Angeles Opera Company na qual permanece por mais de dois anos. De lá, em 1963, muda-se para a Europa e integra o Le Théâtre D´Art du Ballet, oportunidade que a faz conhecer a África do Norte e países do médio e extremo-oriente em turnês da companhia da franco-americana Anna Galina (1936). Em 1966, integra a companhia da Ópera de Zurique, Suíça.
Retorna ao Brasil, em 1967, para atuar na Companhia Brasileira de Ballet, com a qual se apresenta, no ano seguinte, em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Em outro período em Paris, integra a companhia de Anna Galina, e estuda com Raymond Francketti (1921-2003), professor da Escola da Ópera de Paris.
Volta ao Brasil nos anos 1970 e inicia carreira pedagógica pelas mãos de Tatiana Leskova (1922). Em 1974, ensina no Serviço Social da Indústria (Sesi), em uma escola de balé conduzida por Dennis Gray (1928-2005) e por ela, para filhos de operários, em Fortaleza. No Rio de Janeiro, em 1975, retoma as aulas na escola de Tatiana Leskova. Com a entrada do professor cubano Jorge Garcia no Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Blauth é convidada como assistente. No início de 1978, é contratada para atuar junto à companhia e ensinar na escola do Balé Stagium, em São Paulo. Em 1979, assume as aulas para o ex-Corpo de Baile Municipal, atual Balé da Cidade de São Paulo. Em julho de 1980, retira-se para abrir o estúdio Centro de Dança e Artes Integradas, em sociedade com Vitoria Mendonça de Barros. Nele, permanece durante dez anos quando se muda para Porto Alegre, no início dos anos 1990.
Análise
Desde a chegada dos primeiros bailarinos e formadores europeus em solo brasileiro, são correntes as tentativas de moldar uma “escola” brasileira para a dança clássica. Tais tentativas requerem a proximidade com as “escolas” ocidentais e o que delas sobrevive entre nós. Como bailarina, Blauth desenvolve um vocabulário do balé, que não se restringe a somatória das tendências da época. A metodologia é baseada nas aulas de Raymond Franchetti, renomado professor da Escola da Òpera de Paris, e Tatiana Grantzeva, com quem estuda nos anos 1960 em Paris.
Com Tatiana Leskova, tem a oportunidade de se especializar na “escola russa” quando passa a ensinar na escola dessa professora, naturalizada brasileira. A primeira experiência desafiadora, de 1974-1975, é o ensino de balé para filhos de operários no Sesi de Fortaleza, um laboratório de soluções para alunos sem nenhum tipo de instrução de dança. Outra via tem papel decisivo para a fusão de conhecimentos em dança: a da “escola cubana” quando, nos anos 1976 e 1977, torna-se assistente do renomado professor Jorge Garcia no Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O interesse de Blauth pela “escola cubana” é explícito: “É o melhor método, já que o físico dos cubanos aproxima-se do nosso”, declara em depoimento1.
O produto dessa fusão materializa-se nos mais de dez anos de ensino entre a escola e o grupo do Balé Stagium, o ex-Corpo de Baile Municipal (atual Balé da Cidade de São Paulo), e no estúdio Centro de Dança e Artes Integradas, que mantém em sociedade com Vitória Mendonça de Barros. Essa atividade possibilita que dezenas de alunos e artistas conheçam um modelo diferente de treinamento de dança clássica. Como assinala Helena Katz: “E já entrou em ação, ou seja, suas classes, sempre lotadas, também aqui atraem até as mais radicais dissidências. Jane Blauth consegue o impossível: ser uma unanimidade”2. Em Porto Alegre, a partir dos anos 1990, trabalha em academias locais até ser obrigada a se afastar por problemas de saúde.
Jane Blauth, pedagoga de dança clássica, modela um ensino sem correspondentes na segunda metade dos anos 1970 e anos 1980. Como outros profissionais, valoriza a dedicação e o esforço no treinamento do balé. Com isso, inaugura um viés no acesso e na formação de dezenas de artistas da cidade de São Paulo, graças a uma bem-sucedida fusão de método e instruções de diferentes escolas em voga.
A bailarina, é lembrada, especialmente, por sua Julieta, com Aldo Lotufo (1925-2014), na Companhia Brasileira de Ballet (1968), e por sua atuação como convidada em espetáculos do Balé Stagium (1975, 1978). Além disso, é reconhecida como uma das principais professoras de balé do Brasil, por formar profissionais da dança em diferentes estilos.
Notas
1. BRAGATO, Marcos. A Seriedade no ensino do balé. Dançar, São Paulo, Ano III, n. 9, p. 10, 1984.
2.KATZ, Helena. A super-professora chegou para ficar. Folha de S.Paulo, São Paulo, 8 jan. 1978.
Espetáculos 3
Fontes de pesquisa 4
- BRAGATO, Marcos. A Seriedade no ensino do balé. Dançar, São Paulo, Ano III, n. 9, p. 10, 1984.
- DIOGO, Carolina Duarte. 20 Ato: Os Homens entram na dança de Porto Alegre. Trabalho de conclusão de curso em Educação Física – Universidade Federal do Rio grande do Sul, Porto Alegre, 2010. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/24915. Acesso em: 11 set. 2019.
- KATZ, Helena. A super-professora chegou para ficar. Folha de S.Paulo, São Paulo, 8 jan. 1978.
- KATZ, Helena. O país dos ritmos e das danças faz importações. Folha de S.Paulo, São Paulo, 6 fev. 1979.
Como citar
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JANE Blauth.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa473753/jane-blauth. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
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