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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Ana Lira

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 30.12.2023
11.12.1977 Brasil / Pernambuco / Caruaru
Ana Lira (Caruaru, Pernambuco, 1977). Artista visual, fotógrafa, pesquisadora, apresentadora de rádio, escritora, editora. Lira é um dos principais nomes de uma geração de artistas focados no protagonismo negro nas artes visuais no Brasil e sua obra envolve o intercâmbio entre mídias, experiências coletivas e temas relacionados à política e à so...

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Ana Lira (Caruaru, Pernambuco, 1977). Artista visual, fotógrafa, pesquisadora, apresentadora de rádio, escritora, editora. Lira é um dos principais nomes de uma geração de artistas focados no protagonismo negro nas artes visuais no Brasil e sua obra envolve o intercâmbio entre mídias, experiências coletivas e temas relacionados à política e à sociedade.

Nascida em Caruaru, muda-se ainda criança para Recife, Pernambuco. Desde então, Lira se aproxima da fotografia por causa de seu pai, habituado a registrar momentos de família. Cercada de equipamentos fotográficos, fotografa muito durante sua adolescência, quando passa a registrar seus amigos e passeios. Após cursar engenharia durante seis anos, em 2002 migra para o curso de comunicação social com ênfase em jornalismo, na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Em 2008, especializa-se em teoria e crítica da cultura no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com ênfase em crítica fotográfica e artes.

Durante os anos de formação, participa do projeto “Tempo sagrado”, organizado pelos coletivos Canal Zero3, Agência Ensaio e Agência Zoom. Em anos de copa do mundo, o grupo realiza oficinas em Recife, Natal e João Pessoa e registra o futebol de várzea e dos campos comunitários das cidades. As experiências trazidas pelas oficinas fornecem ferramentas importantes para o seu trabalho, em especial a troca de experiências e escuta com a pessoa fotografada e a compreensão da cidade como elemento heterogêneo. As parcerias se multiplicam no decorrer de sua trajetória, resultando em uma série de projetos artístico-educativos a partir de 2012, entre eles Cidades visuais e Entre-frestas, ambos pautados nas vivências de grupos em relação ao seu entorno, em mobilizações individuais e coletivas.

Após as eleições municipais no mesmo ano, Lira integra a produção coletiva do filme Eleições: crise de representação (2012, não finalizado) e passa a registrar os resíduos da campanha eleitoral na cidade de Recife. Em 2014, na 31ª Bienal de São Paulo, a artista apresenta a série fotográfica Voto! (2012-2014), posteriormente reunida em livro homônimo, publicado em 2015. O trabalho pauta a relação entre representação política, mídia e imagem. O processo de produção da obra também é parte significativa para mudança de percepção da artista e permite maior alcance de seu trabalho, que passa a integrar o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pina_) e a coleção de foto-livros do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, no museu da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.

Todo material reunido em Voto! resulta na exposição-instalação Não-dito, no Capibaribe Centro da Imagem (CCI), em Recife, em 2015, e no Museu de Arte Brasil-Estados Unidos (Mabeu), do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos (CCBEU), em Belém, em 2017. Projeto interdisciplinar, Não-dito é composto por peças de acrílico, impressos coletados nas ruas e outros especialmente feitos para a exposição, trechos produzidos para o filme Eleições: crise de representação e desenvolve um grupo de estudos semanal, aberto ao público, para debater questões relacionadas à pesquisa e realizar propostas no cenário local – como a produção e distribuição de material gráfico relacionado ao assunto abordado.

Em pesquisa no acervo da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), em 2015, a artista encontra registros a respeito da Casa da Mulher do Nordeste (CMN) e percebe o impacto causado pelas imagens criadas pela chamada indústria da seca. A partir do contato com a CMN, Lira passa por um período de convivência e diálogo com algumas dessas mulheres, empenhadas na criação de outras possibilidades no clima semiárido, e produz um novo inventário de imagens, protagonizadas pela história e trajetória dessas mulheres. Em 2018, como resultado do projeto e por ocasião da mostra “Realidades da imagem, histórias da representação”, no Museu do Estado do Pará (MEP), em Belém, a artista produz um livro que reúne algumas das fotografias, cartas, bordados, fotos e documentos, que surgem como meios para acessar a experiência. A pequena escala das fotos e o aspecto manufaturado do livro apontam para o processo como prioridade do trabalho ou a ideia de “obra-projeto” no lugar de “obra-objeto” que Lira sustenta.

Questões ligadas à identidade aparecem nas obras realizadas para a exposição Agora somos todxs negrxs?, organizada pelo curador e artista Daniel Lima (1973) em 2017 no Galpão Videobrasil, em São Paulo. Os dois trabalhos de Lira, 111 cale-se (2016) e Localizador QBAFECCLQF (2017), são letreiros em vinil de grandes dimensões, adesivados na parte exterior e interior do Galpão. O primeiro trabalho traz a frase “sangrou o destino 111 cale-se”, em referência à morte da mãe de Betinho, decorrente da tristeza pela perda do filho, assassinado em 2015, juntamente com outros quatro jovens, por 111 disparos da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ). Já Localizador QBAFECCLQF exibe “que bocas alimentam fé em consumir corpos que levam fumo?”, jogando com os múltiplos sentidos da palavra “boca” na gramática criminal. A mostra é pautada na circulação de uma nova produção artística negra no Brasil e na desigualdade das estruturas de poder, inclusive nas artes plásticas.

A obra de Ana Lira é dedicada a experiências de articulação coletiva que constituem uma discussão a partir de vivências políticas e ações coletivas como processos de mediação. O longo prazo que envolve seu tempo de produção e a atuação direta no espaço social permite o estabelecimento de vínculos e de amostras históricas e sociais que reverberam na amplitude que seus projetos alcançam.

Exposições 21

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Fontes de pesquisa 19

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